Projeto Cantiguelê leva aulas de capoeira às crianças do CDHU no fim de semana

22/06/2004

Trabalho nasceu da parceria entre
CS Floresta
e o Grupo Mestiço de Capoeira

Talita El Kadri

O Projeto Catinguelê - crianças iniciantes da capoeira, que nasceu de uma parceria entre o Centro de Saúde Floresta e o Grupo Mestiço de Capoeira, chega neste final de semana ao Conjunto Habitacional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), no bairro San Martin, região Norte da cidade.

Há dois anos, o projeto oferece aulas gratuitas de capoeira para comunidades carentes da região Noroeste de Campinas. Atualmente, atende 70 crianças e adolescentes no espaço do Camp Ball, na avenida Paulo Provenza Sobrinho, no Jardim Campos Elíseos.

"Iniciamos o trabalho voluntário a pedido de um aluno. O bom desempenho do garoto fez com que ampliássemos a atividade para outras crianças. O grupo foi crescendo e desde o início não houve uma desistência sequer", afirma o professor de capoeira Carlos Augusto Martins, conhecido pelos alunos como Guto. Segundo ele, o projeto proporciona conhecimento cultural, disciplina e contribui para a socialização dos alunos.

Guto ministra as aulas com apoio de sua companheira, Sônia Aparecida Camargo Martins. Ambos dividem as tarefas na hora de ensinar, conversar ou prestar qualquer outro tipo de atendimento às crianças.

De acordo com Guto, os alunos devem apresentar boas notas e bom comportamento para permanecerem no grupo. O objetivo é resgatar a auto-estima dos garotos e conscientizá-los da importância que têm na sociedade. "Ninguém precisa ser gênio, mas exigimos esforço. Acompanhamos o desempenho de cada um e damos atenção também às dificuldades que eles têm na vida pessoal. Dessa maneira – explica Guto -, incentivamos o diálogo e criamos espaço para que todos falem de seus problemas".

O trabalho foi viabilizado pelo Centro de Saúde Floresta, dentro da proposta do Paidéia - Saúde da Família, com apoio de empresas privadas e voluntários. A agente comunitária de saúde do CS Floresta, Francisca Francilete da Silva, abriu as portas para o projeto e faz o papel de relações públicas do grupo. O Supermercado Covabras, por exemplo, já doou 50 uniformes completos de capoeira, possibilitou o transporte do grupo para competições e ofereceu lanches para as crianças em eventos da categoria. Os proprietários do salão Camp Ball também colaboram e facilitam o aluguel do espaço.

Iracélia Mariano Goes de Vasconcelos, coordenadora do CS Floresta, explica que a população da região Noroeste é composta por 60% de crianças e adolescentes. Ela argumenta que, uma vez direcionadas para essas atividade, esses jovens acabam se distanciando da criminalidade e, conseqüentemente, aprendem a evitar as drogas.

Dentro da mesmo lógica, a agente comunitária de saúde, Francisca Francilete da Silva, complementa que as aulas de capoeira desenvolvem a cidadania, estimulam a coletividade e o convívio social. "Além disso – afirma -, a prática da capoeira melhora os quadros clínicos de crianças com hiperatividade, traumas psicológicos e, ainda, facilita a desenvoltura em jovens retraídos".

Ela ressalta, ainda, que o Paidéia Saúde da Família usa um conceito ampliado, que leva em conta não apenas a saúde específica, mas também outros aspectos da vida da pessoa como o acesso ao lazer e à cultura.

De aluna a professora

Nágila Gama de Oliveira, 20 anos, trabalha de manhã e à tarde e faz faculdade de publicidade e propaganda à noite. Sai de casa as 6h50 e volta à meia noite. Mesmo com o pouco tempo livre, ela arranja um jeito para fazer o que mais gosta: participar das atividades no "Catinguelê". Uma das mais experientes do grupo, Nágila auxilia o casal de professores nas aulas de capoeira.

A estudante começou a praticar capoeira aos 13 anos e não parou desde então. "No começo, o mestre me deixava treinar de graça, logo depois namorei um professor de capoeira e me envolvi ainda mais com o esporte, agora dou aulas no projeto", afirma ela.

Há 4 anos Nágila conheceu Guto e Sônia, passou a treinar com eles e acompanhou o projeto atual desde o primeiro aluno. "Me ofereci para dar aulas para iniciantes e chorei de felicidade ao ver uma aluna gingando pela primeira vez", diz.

Nágila envolveu-se tanto com os alunos que deixou algumas obrigações para segundo plano. "Fiquei de exame em uma matéria da faculdade e levei uma bronca do Guto, mas eu amo essas crianças e me dedico até mais do que posso", afirma.

De acordo com Nágila, o apoio vem também em forma de acompanhamento da saúde, por meio do CS Floresta. "Francisca nos dá o apoio que precisamos. Os meninos foram encaminhados para médicos, dentistas e ensinamos cuidados básicos, como higiene bucal", afirma.

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