Trabalho
nasceu da parceria
entre o
CS Floresta e o Grupo
Mestiço de Capoeira
Talita El Kadri
O Projeto Catinguelê - crianças iniciantes da capoeira,
que nasceu de uma parceria entre o Centro de Saúde Floresta
e o Grupo Mestiço de Capoeira, chega neste final de semana
ao Conjunto Habitacional da Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Urbano (CDHU), no bairro San Martin, região
Norte da cidade.
Há dois
anos, o projeto oferece aulas gratuitas de capoeira para
comunidades carentes da região Noroeste de Campinas.
Atualmente, atende 70 crianças e adolescentes no espaço do
Camp Ball, na avenida Paulo Provenza Sobrinho, no Jardim
Campos Elíseos.
"Iniciamos
o trabalho voluntário a pedido de um aluno. O bom
desempenho do garoto fez com que ampliássemos a atividade
para outras crianças. O grupo foi crescendo e desde o início
não houve uma desistência sequer", afirma o professor
de capoeira Carlos Augusto Martins, conhecido pelos alunos
como Guto. Segundo ele, o projeto proporciona conhecimento
cultural, disciplina e contribui para a socialização dos
alunos.
Guto
ministra as aulas com apoio de sua companheira, Sônia
Aparecida Camargo Martins. Ambos dividem as tarefas na hora
de ensinar, conversar ou prestar qualquer outro tipo de
atendimento às crianças.
De acordo
com Guto, os alunos devem apresentar boas notas e bom
comportamento para permanecerem no grupo. O objetivo é
resgatar a auto-estima dos garotos e conscientizá-los da
importância que têm na sociedade. "Ninguém precisa
ser gênio, mas exigimos esforço. Acompanhamos o desempenho
de cada um e damos atenção também às dificuldades que
eles têm na vida pessoal. Dessa maneira – explica Guto -,
incentivamos o diálogo e criamos espaço para que todos
falem de seus problemas".
O trabalho foi viabilizado pelo Centro de Saúde Floresta,
dentro da proposta do Paidéia - Saúde da Família, com
apoio de empresas privadas e voluntários. A agente comunitária
de saúde do CS Floresta, Francisca Francilete da Silva,
abriu as portas para o projeto e faz o papel de relações públicas
do grupo. O Supermercado Covabras, por exemplo, já doou 50
uniformes completos de capoeira, possibilitou o transporte
do grupo para competições e ofereceu lanches para as crianças
em eventos da categoria. Os proprietários do salão Camp
Ball também colaboram e facilitam o aluguel do espaço.
Iracélia
Mariano Goes de Vasconcelos, coordenadora do CS Floresta,
explica que a população da região Noroeste é composta
por 60% de crianças e adolescentes. Ela argumenta que, uma
vez direcionadas para essas atividade, esses jovens acabam
se distanciando da criminalidade e, conseqüentemente,
aprendem a evitar as drogas.
Dentro da
mesmo lógica, a agente comunitária de saúde, Francisca
Francilete da Silva, complementa que as aulas de capoeira
desenvolvem a cidadania, estimulam a coletividade e o convívio
social. "Além disso – afirma -, a prática da
capoeira melhora os quadros clínicos de crianças com
hiperatividade, traumas psicológicos e, ainda, facilita a
desenvoltura em jovens retraídos".
Ela
ressalta, ainda, que o Paidéia Saúde da Família usa um
conceito ampliado, que leva em conta não apenas a saúde
específica, mas também outros aspectos da vida da pessoa
como o acesso ao lazer e à cultura.
De aluna a
professora
Nágila
Gama de Oliveira, 20 anos, trabalha de manhã e à tarde e
faz faculdade de publicidade e propaganda à noite. Sai de
casa as 6h50 e volta à meia noite. Mesmo com o pouco tempo
livre, ela arranja um jeito para fazer o que mais gosta:
participar das atividades no "Catinguelê". Uma
das mais experientes do grupo, Nágila auxilia o casal de
professores nas aulas de capoeira.
A estudante
começou a praticar capoeira aos 13 anos e não parou desde
então. "No começo, o mestre me deixava treinar de graça,
logo depois namorei um professor de capoeira e me envolvi
ainda mais com o esporte, agora dou aulas no projeto",
afirma ela.
Há 4 anos
Nágila conheceu Guto e Sônia, passou a treinar com eles e
acompanhou o projeto atual desde o primeiro aluno. "Me
ofereci para dar aulas para iniciantes e chorei de
felicidade ao ver uma aluna gingando pela primeira
vez", diz.
Nágila
envolveu-se tanto com os alunos que deixou algumas obrigações
para segundo plano. "Fiquei de exame em uma matéria da
faculdade e levei uma bronca do Guto, mas eu amo essas crianças
e me dedico até mais do que posso", afirma.
De acordo
com Nágila, o apoio vem também em forma de acompanhamento
da saúde, por meio do CS Floresta. "Francisca nos dá
o apoio que precisamos. Os meninos foram encaminhados para médicos,
dentistas e ensinamos cuidados básicos, como higiene
bucal", afirma.