De Volta para Casa beneficia 89 em Campinas

25/06/2004

Talita El Kadri

Campinas é a cidade brasileira com o maior número de inscritos no De Volta para Casa, programa do Ministério da Saúde que destina um benefício mensal de R$ 240 para ajudar no processo de ressocialização de portadores de transtornos mentais que tenham passado pelo menos dois anos internados em hospitais e clínicas psiquiátricas. Já são 111 o número de campineiros inscritos, dos quais 89 recebem o auxílio-reabilitação.

Em todo País, 55 cidades participam do programa e a meta é que, até o final de 2004, 2,2 mil pessoas estejam sendo assistidas pelo programa. O objetivo do governo federal é que, quando estiver implantado na sua totalidade, o programa atenda a 14 mil pacientes.

O auxilio financeiro é o principal componente do Programa De Volta para Casa, estratégia criada pelo governo federal em 2003 para estimular a assistência fora dos hospitais. O valor é entregue diretamente ao beneficiário, exceto em casos de pacientes com incapacidade de exercer atos da vida civil. Nesse caso, quem recebe a bolsa é o representante legal da pessoa.

Além de receber o benefício em dinheiro, o paciente é acompanhado por uma equipe especializada e participa de atividades de reabilitação, trabalho protegido, lazer monitorado entre outras, conforme a necessidade de cada um.

A coordenadora municipal de Saúde Mental de Campinas, Clarice Scopin Ribeiro, explica que o convívio com a família e a comunidade é essencial para a melhora desses pacientes. "Eles podem produzir e ter um papel importante na sociedade. O isolamento é sinônimo de incapacidade e inatividade, por isso o tratamento deve ocorrer na comunidade entre as pessoas próximas a ele".

Segundo a psicóloga Florianita Coelho Braga, ex-coordenadora de Saúde Mental de Campinas, que ajudou a elaborar o programa De Volta para Casa, um município só pode receber e aplicar o programa depois de provar que tem condições e assinar um compromisso com o Ministério da Saúde. "Não basta o usuário ou a família querer o programa em sua cidade. O município deve ter serviços disponíveis, os Centros de Atenção Psicossocial ou Caps, e uma rede de cuidados para acompanhar os pacientes", diz.

Rede ampliada. Campinas possui uma rede de cuidados comunitários de saúde mental do Sistema Único de Saúde (SUS) constituída por nove Caps, quatro deles e 32 leitos inaugurados a partir de 2001. Os Caps são serviços que permitem a desospitalização dos pacientes e reforçam o atendimento especializado sem que para isso precisem ficar internados ou afastados do convívio familiar.

Atualmente, a cidade conta ainda com três Centros de Convivência, todos inaugurados nos últimos três anos. Nestes espaços, as pessoas desenvolvem trabalhos em esquema de cooperativa e participam das oficinas de dança, música, ginástica, ioga e de outros momentos de convívio.

O município também disponibiliza 33 repúblicas ou residências terapêuticas com aproximadamente 150 pacientes ex-moradores de hospitais psiquiátricos, várias oficinas de profissionalização e mais de 300 postos de geração de renda para os usuários, além de integrar o De Volta para Casa.

A Secretaria de Saúde ainda ampliou serviços nos centros de saúde e implantou serviço psiquiátrico de plantão no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Com esta infra-estrutura e com a diretriz de cuidar em liberdade, a cidade tornou-se referência na área da saúde mental.

Exemplo. Uma das primeiras pessoas a receber o auxílio-psicossocial do Programa De Volta para Casa, no Brasil, foi o campineiro Paulo Roberto Camisão, paciente do Caps Novo Tempo, localizado na região Sudoeste da cidade. Ele tem 48 anos e morou duas décadas em hospitais psiquiátricos de Mococa e Americana até passar a ser acompanhado pela equipe do Novo Tempo, em julho de 2002.

Paulo mora atualmente com um amigo, José Camilo, 42 anos. Com o dinheiro que recebem, os dois alugaram uma casa e passaram a morar sozinhos. Tudo com a ajuda da equipe do Caps Novo Tempo. "Eles pagam o aluguel e ficam com o dinheiro, apenas auxiliamos a fazer as contas dos gastos e a lista de compras", afirma Regiane Aparecida Ribeiro, técnica em enfermagem da equipe de Saúde Mental que se responsabiliza por Paulo e José.

Os dois falam com entusiasmo da diferença e da melhora da vida que tinham antes e de como vivem atualmente. José Camilo conta que tem tudo que precisa na casa onde mora e que vai todos os dias ao Caps para receber medicação e fazer as oficinas de artesanato e esporte. "Também freqüentamos a Fundação Municipal de Educação Comunitária (Fumec). Na escola, estou aprendendo a ler e contar – e completa com felicidade – é muito bom não depender dos outros".

Volta ao índice de notícias