Talita El
Kadri
Campinas
é a cidade brasileira com o maior número de inscritos no
De Volta para Casa, programa do Ministério da Saúde que
destina um benefício mensal de R$ 240 para ajudar no
processo de ressocialização de portadores de transtornos
mentais que tenham passado pelo menos dois anos internados
em hospitais e clínicas psiquiátricas. Já são 111 o número
de campineiros inscritos, dos quais 89 recebem o auxílio-reabilitação.
Em todo
País, 55 cidades participam do programa e a meta é que,
até o final de 2004, 2,2 mil pessoas estejam sendo
assistidas pelo programa. O objetivo do governo federal é
que, quando estiver implantado na sua totalidade, o
programa atenda a 14 mil pacientes.
O auxilio
financeiro é o principal componente do Programa De Volta
para Casa, estratégia criada pelo governo federal em 2003
para estimular a assistência fora dos hospitais. O valor
é entregue diretamente ao beneficiário, exceto em casos
de pacientes com incapacidade de exercer atos da vida
civil. Nesse caso, quem recebe a bolsa é o representante
legal da pessoa.
Além de
receber o benefício em dinheiro, o paciente é
acompanhado por uma equipe especializada e participa de
atividades de reabilitação, trabalho protegido, lazer
monitorado entre outras, conforme a necessidade de cada
um.
A
coordenadora municipal de Saúde Mental de Campinas,
Clarice Scopin Ribeiro, explica que o convívio com a família
e a comunidade é essencial para a melhora desses
pacientes. "Eles podem produzir e ter um papel
importante na sociedade. O isolamento é sinônimo de
incapacidade e inatividade, por isso o tratamento deve
ocorrer na comunidade entre as pessoas próximas a
ele".
Segundo a
psicóloga Florianita Coelho Braga, ex-coordenadora de Saúde
Mental de Campinas, que ajudou a elaborar o programa De
Volta para Casa, um município só pode receber e aplicar
o programa depois de provar que tem condições e assinar
um compromisso com o Ministério da Saúde. "Não
basta o usuário ou a família querer o programa em sua
cidade. O município deve ter serviços disponíveis, os
Centros de Atenção Psicossocial ou Caps, e uma rede de
cuidados para acompanhar os pacientes", diz.
Rede
ampliada.
Campinas possui uma rede de cuidados comunitários de saúde
mental do Sistema Único de Saúde (SUS) constituída por
nove Caps, quatro deles e 32 leitos inaugurados a partir
de 2001. Os Caps são serviços que permitem a
desospitalização dos pacientes e reforçam o atendimento
especializado sem que para isso precisem ficar internados
ou afastados do convívio familiar.
Atualmente,
a cidade conta ainda com três Centros de Convivência,
todos inaugurados nos últimos três anos. Nestes espaços,
as pessoas desenvolvem trabalhos em esquema de cooperativa
e participam das oficinas de dança, música, ginástica,
ioga e de outros momentos de convívio.
O município
também disponibiliza 33 repúblicas ou residências terapêuticas
com aproximadamente 150 pacientes ex-moradores de
hospitais psiquiátricos, várias oficinas de
profissionalização e mais de 300 postos de geração de
renda para os usuários, além de integrar o De Volta para
Casa.
A
Secretaria de Saúde ainda ampliou serviços nos centros
de saúde e implantou serviço psiquiátrico de plantão
no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Com
esta infra-estrutura e com a diretriz de cuidar em
liberdade, a cidade tornou-se referência na área da saúde
mental.
Exemplo. Uma
das primeiras pessoas a receber o auxílio-psicossocial do
Programa De Volta para Casa, no Brasil, foi o campineiro
Paulo Roberto Camisão, paciente do Caps Novo Tempo,
localizado na região Sudoeste da cidade. Ele tem 48 anos
e morou duas décadas em hospitais psiquiátricos de
Mococa e Americana até passar a ser acompanhado pela
equipe do Novo Tempo, em julho de 2002.
Paulo
mora atualmente com um amigo, José Camilo, 42 anos. Com o
dinheiro que recebem, os dois alugaram uma casa e passaram
a morar sozinhos. Tudo com a ajuda da equipe do Caps Novo
Tempo. "Eles pagam o aluguel e ficam com o dinheiro,
apenas auxiliamos a fazer as contas dos gastos e a lista
de compras", afirma Regiane Aparecida Ribeiro, técnica
em enfermagem da equipe de Saúde Mental que se
responsabiliza por Paulo e José.
Os dois
falam com entusiasmo da diferença e da melhora da vida
que tinham antes e de como vivem atualmente. José Camilo
conta que tem tudo que precisa na casa onde mora e que vai
todos os dias ao Caps para receber medicação e fazer as
oficinas de artesanato e esporte. "Também freqüentamos
a Fundação Municipal de Educação Comunitária (Fumec).
Na escola, estou aprendendo a ler e contar – e completa
com felicidade – é muito bom não depender dos
outros".