Campinas apresenta em simpósio preparativos para enfrentar Pandemia de Gripe

29/06/2006

A Secretaria de Saúde de Campinas apresentou ontem, quarta-feira, 28 de junho, durante o “I Simpósio Municipal e Regional sobre Influenza, Pandemia de Influenza: expectativas e ações” os preparativos do município para enfrentamento de uma Pandemia de Gripe. A estratégia segue orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde que lançaram seus planos de contingência com indicação de que as secretarias municipais também se organizem para enfrentar o problema.

O simpósio foi aberto pelo Secretário Municipal de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva, que ressaltou a importância da parceria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Direção Regional de Saúde (Dir XII) e da colaboração das Secretarias Estaduais de Saúde e de Agricultura e da Universidade de Ribeirão Preto e da Universidade Federal de São Paulo no evento. “É importante que estejamos reunidos com este objetivo e para a disseminação das informações”, disse.

Entre as principais ações da estratégia de Campinas para o enfrentamento da Pandemia de Gripe destaca-se neste momento o fortalecimento da vigilância epidemiológica para o monitoramento da doença, organização da assistência e informação e capacitação das equipes de vigilância para detectar, investigar e desencadear medidas de controle.

Outra medida importante é a formação do Comitê Municipal e grupo de profissionais para o acionamento imediato caso necessário. “O objetivo é articular a vigilância em saúde e a rede de assistência pública e privada no município, propor capacitações e formas e conteúdos de disseminação da informação para profissionais de saúde e população em geral”, afirma a enfermeira sanitarista Brigina Kemp, coordenadora da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde e uma das organizadoras do simpósio.

Segundo Brigina, para elaborar a estratégia de enfrentamento da pandemia, a Secretaria tem tomado como referência as orientações da OMS, do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde, as discussões acumuladas até o momento no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde, a bibliografia disponível sobre a situação mundial da influenza e a consulta aos planos de contingência do Ministério e da Secretaria de Estado.

O simpósio também expôs informações que foram acumuladas pelos estudos de acompanhamento da situação epidemiológica da gripe no mundo e com relação à possibilidade desses vírus se tornar pandêmico. “Por razões históricas e com a disseminação de um novo vírus, o risco de uma pandemia é muito alto”, disse o médico Carlos Magno Fortaleza, coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde. Fortaleza foi um dos palestrantes do simpósio e ressaltou que é importante que a população saiba que as autoridades estão mobilizadas para enfrentar uma pandemia.

Influenza. O simpósio contou ainda com a participação do virologista Eurico de Arruda Neto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que fez uma palestra sobre vírus respiratórios.

Ele explicou que a influenza, também conhecida como gripe, é uma infecção do sistema respiratório que tem como principais complicações as pneumonias, responsáveis por um grande número de internações hospitalares no País. A doença inicia-se com febre alta, em geral acima de 38ºC, seguida de dor muscular, dor de garganta, dor de cabeça e tosse seca.

A febre é o sintoma mais importante e dura em torno de três dias. Os sintomas respiratórios como a tosse e outros, tornam-se mais evidentes com a progressão da doença e mantêm-se em geral por três a quatro dias após o desaparecimento da febre.

Segundo Eurico, a influenza é uma doença muito comum em todo o mundo, sendo possível uma pessoa adquirir influenza várias vezes ao longo de sua vida. É também freqüentemente confundida com outras viroses respiratórias, por isso o seu diagnóstico só é feito mediante exame laboratorial específico.

Eurico explicou também que gripe é diferente de resfriado. O resfriado geralmente é mais brando que a gripe e pode durar de 2 a 4 dias.  Apresenta sintomas relacionados ao comprometimento das vias aéreas superiores, como congestão nasal, secreção nasal (rinorréia), tosse e rouquidão. A febre é menos comum e, quando presente, é de baixa intensidade. Outros sintomas também podem estar presentes, como mal-estar, dores musculares (mialgia) e dor de cabeça (cefaléia). Assim como na influenza, no esfriado comum também podem ocorrer complicações como otites, sinusites, bronquites e até mesmo quadros mais graves, dependendo do agente etiológico que está provocando a infecção.

Gravidade. O infectologista Luiz Jacintho da Silva, do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, também participou do evento como palestrante e falou sobre as pandemias de influenza e o contexto atual. Segundo Luiz Jacintho, as pandemias de influenza já causaram graves danos durante toda história.

“No último século ocorreram pelo menos três grandes pandemias que em poucas semanas causaram grande impacto na morbidade e mortalidade, afetando principalmente crianças e adultos jovens e provocando situações de ruptura social”, informou. Ele afirmou que nenhuma outra doença causa tantos óbitos num espaço de tempo tão curto.

O infectologista informou também sobre a importância epidemiológica da gripe sazonal, disse que morre mais gente no mundo de gripe que de Aids e ressaltou que a vacina para a gripe sazonal reduz muito o risco da influenza no nosso meio. “É preciso ficar claro que, esta vacina, no entanto, não protege contra a gripe aviária”, disse.

A vacina à qual o infectologista se referiu é a que vem sendo disponibilizada na rede pública de saúde em todo Brasil, desde 1999, e em Campinas desde 1998, durante campanhas anuais de vacinação para os idosos com idade de 60 anos ou mais, geralmente no mês de abril. A composição da vacina varia a cada ano, de acordo com os tipos de vírus da influenza.

Em relação à vacina para prevenir a gripe aviária, foi esclarecido pelas autoridades sanitárias presentes no simpósio que só será possível produzir uma vacina contra uma pandemia de influenza quando efetivamente surgir uma nova cepa do vírus que tenha capacidade de transmissão pessoa a pessoa.

No entanto, o Ministério da Saúde vem aumentando os investimentos no Instituto Butantã/SP - que já vinha sendo preparado para a produção nacional de vacinas contra as cepas epidêmicas anuais de influenza - para que também seja possível a produção emergencial de vacinas contra uma cepa pandêmica. Os ensaios de produção desta nova vacina já começaram a ser feitos, utilizando-se como modelo a atual cepa H5N1.

Pandemia. O termo pandemia significa uma epidemia em grandes proporções – tanto em número de pessoas envolvidas, quanto em área geográfica - que atinge diversos paises geralmente de forma simultânea, decorrente da existência de um grande número de pessoas susceptíveis à infecção por um novo vírus da doença.

Para a eclosão de uma pandemia é necessário, basicamente, o surgimento de uma nova cepa (tipo) do vírus influenza com capacidade para provocar doença no homem e que esta cepa tenha facilidade de ser transmitida por contágio inter-humano direto ou seja, de pessoa-a-pessoa.

Todos os palestrantes do simpósio foram unânimes ao afirmar que o vírus da influenza aviária H5N1 representa a ameaça de uma nova pandemia, uma vez que está circulando entre aves em 13 países e em quatro deles tem provocado casos entre seres humanos. Há um risco que este vírus H5N1 possa sofrer uma mutação ou seja, alterações das suas características genéticas atuais e adquirir condições de ser transmitido diretamente entre os seres humanos, iniciando-se assim uma nova pandemia.

Segundo as autoridades sanitárias, não é possível prever exatamente se e quando isto vai ocorrer, mas é possível que ocorra. Neste caso, todos os países serão afetados – incluindo o Brasil e Campinas -, em maior ou menor intensidade, dependendo do tipo de mutação que ocorra no vírus e da capacidade de resposta rápida das autoridades de saúde pública a nível mundial.

“Por isso, é fundamental que estejamos preparados para o enfrentamento de uma situação emergencial como esta, caso ela venha a ocorrer. Pode ser que seja difícil para o profissional de saúde se preparar para algo que parece distante. No entanto, a preparação para o enfrentamento deste agravo e a construção do plano de contingência trazem ganhos secundários, ganhos também em relação à influenza sazonal, à imunização, à estrutura da rede, permite rever fluxos e isto soma conhecimentos que ajudam em qualquer outra emergência epidemiológica”, finalizou Brigina Kemp.

Denize Assis

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