Mulheres Guerreiras de Campinas levam modelos para desfile da Daspu paralelo ao SP Fashion Week

20/06/2008

Autor: Eli Fernandes

Organização não-governamental é formada por mulheres, travestis e homens profissionais do sexo e tem apoio do Programa Municipal de DST/Aids

A passarela é uma praça pública do Centro de São Paulo. Trata-se da Praça Roosevelt. O evento é de lançamento da nova coleção da grife Daspu, marca da organização não-governamental (ONG) Davida, do Rio de Janeiro. Entre os modelos, quatro profissionais do sexo, entre homens, mulheres e travestis, de Campinas.

Eles representam a Associação das Mulheres Guerreiras de Campinas, uma ONG formada por profissionais do sexo e que desenvolve projetos em parceria e com apoio do Programa Municipal de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (PMDST/Aids) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da Prefeitura de Campinas.

O desfile será às 20h30 e, como será realizado na Praça, é aberto para toda população. O convite à Associação das Mulheres Guerreiras é anterior à parceria das ONGs marcada, entre outras ações, pela participação de Gabriela Leite, ativista da Davida, no debate de abertura da 2ª Semana de Visibilidade da Profissional do Sexo realizada de 30 de maio a 4 de junho em Campinas.

Gabriela esteve em Campinas na Estação Cultura (sede da Secretaria Municipal de Cultura) em evento que contou com a participação da sanitarista Maria Cristina Feijó Januzzi Ilario, coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids da cidade. O debate também contou com a participação de algumas das modelos que vão representar Campinas no desfile desta sexta-feira.

Uma delas é a prostituta Ângela (nome fictício da profissional do sexo que prefere não ser identificada) que mora em uma ocupação num bairro da região Sul de Campinas e trabalha com clientes que são motoristas usuários de uma rodovia em cidade da Região Metropolitana de Campinas (RMC). “Estou muito feliz, nem consigo dormir direito de tanta expectativa”, disse.

Ela relata o impacto da participação do evento entre suas colegas:

“As meninas sentem-se mais valorizadas, mais importantes e começam querer se cuidar mais, procurar mais os serviços de saúde, lembrar mais da camisinha, que garante a nossa proteção da aids e de outras doenças ou até de uma gravidez que a gente pode não querer naquele momento”, explica.

As prostitutas já foram consideradas como “grupo de risco” para infecção pelo HIV. O termo “grupo de risco”, no entanto, está em desuso por não refletir a realidade epidemiológica da aids. Para a coordenadora do Programa DST/Aids de Campinas, “somos todos vulneráveis”. Ela informa que as ações voltadas às profissionais do sexo são desenvolvidas para que não haja descontinuidade neste processo de educação em saúde. "A vulnerabilidade de profissionais do sexo ao HIV está ligada a fatores sociais e individuais que demandam uma escuta qualificada do Sistema Único de Saúde (SUS) para suas necessidades", disse.

"Nós queremos, com isso, discutir sobre o direito de trabalhar, o direito à saúde, a creches, e contra discriminação", afirmou a coordenadora da Associação das Mulheres Guerreiras, Elaine Maria Esteves. A associação representa mulheres, travestis e homens profissionais do sexo de Campinas, foi fundada em setembro de 2007 e conta com participação de 15 profissionais do sexo, a maioria, mulheres.

A entidade também possui um grupo de colaboradores, incluindo profissionais da Saúde, estudantes, professores pesquisadores, uma atriz e um advogado. Um destas colaboradoras, a atriz Fabiana Fonseca, de Campinas, apresenta no mesmo dia, em São Paulo (Espaço do Satyros Dois: Praça Roosevelt, 124), a peça “Eu Quero Ver A Rainha”, sobre histórias de profissionais do sexo.

Em São Paulo a apresentação da peça é às 24h. Os ingressos custam R$ 20,00 e R$ 10,00 (meia), e R$ 5,00 para Profissionais do Sexo, Moradores da Praça e Oficineiros do Satyros. O espetáculo é recomendado para maiores de 18 anos. Já o desfile será gratuito e recomendado a pessoas de todas as idades.

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