Campinas é pioneira na informatização plena das Unidades Básicas de Saúde

27/06/2012

Autor: Sérgio Oliveira

Com a entrega do Projeto Piloto de Informatização nos Centros de Saúde, ocorrida no dia 20 de maio passado, Campinas tornou-se o primeiro município do Brasil a contar com um Centro de Saúde totalmente informatizado. Os benefícios da iniciativa já podem ser sentidos tanto pela população quanto pelos profissionais da saúde que trabalham na unidade.

Com o cartão SUS em mãos, ao chegar à recepção, a identificação dos pacientes passa a ser automática, diminuindo o tempo de espera e eventuais filas. Se o cidadão não tem o cartão ainda, não há problema, a recepcionista imprime um na hora.

A economia de tempo não para por aí. Antes, era necessário utilizar uma agenda de papel e o CS reservava horários específicos para que a população pudesse marcar uma consulta. Agora, a agenda está informatizada e as consultas podem ser marcadas pelo disque-saúde (telefone 160), de segunda a sexta, das 7h às 19h, e aos sábados, das 8h às 14h, sem a necessidade de deslocamento do paciente até a unidade. 

No consultório, além de ver o histórico de seu paciente, o médico fará, eletronicamente, os registros dos procedimentos realizados durante a consulta, agilizando o atendimento e acabando com o trâmite em papel.

As informações cadastradas passam a fazer parte dos registros de atendimentos daquele paciente e, no futuro, poderão ser acessadas em qualquer unidade de saúde que estiver conectada ao sistema de informatização.

“Antes a gente tinha que preencher planilha à mão, e eu tinha cinco agendas enormes na minha mesa. Agora é tudo digital. Outro benefício é a gestão, porque, eu passo a saber com maior rapidez, quando, por exemplo, alguma doença está afetando mais a região e preparo a equipe para isso”, explica a coordenadora do Santo Antônio, Denise Cury.

O CS Santo Antônio esta localizado na Avenida Pastor João Prata Vieira, s/n, no Parque Vista Alegre, na região Sudoeste de Campinas, próximo ao entroncamento das rodovias Santos Dumont e Bandeirantes. 

A unidade é referência no atendimento básico à saúde para cerca de 15 mil pessoas. Diariamente, são realizados uma média de 500 atendimentos, por cerca de 55 profissionais de saúde.

O trabalho dos agentes de saúde também foi facilitado. Eles receberam netbooks, com conexão 3G, com os quais fazem o registro on line das visitas que realizam, o que diminui o retrabalho uma vez que, antes de contarem com o equipamento, após realizarem as visitas, tinham que digitar todas as informações levantadas.

Com isso, sobra mais tempo para cuidarem da saúde dos pacientes atendidos. “Agora podemos consultar os dados das famílias que atemos imediatamente. Ganhamos muita agilidade”, avalia a agente de saúde Nair Scaramuzza.

Todas estas informações disponibilizadas em tempo real permitem aos gestores quantificar a sua produção e verificar com maior agilidade e clareza o que precisa ser melhorado em termos de atendimento. Os técnicos da Secretaria de Saúde também estimam que a informatização aumenta em até 20% a produtividade dos profissionais da área.

Digitalização

Um dos efeitos benéficos da informatização é a possibilidade de digitalizar os documentos e acessá-los no computador, tanto que os agentes de saúde da unidade aproveitaram os recursos dos sistemas implantados pela Informática de Municípios Associadis (IMA) para organizar os prontuários de todos os usuários que estão cadastrados no Santo Antônio.

Tanto o Siga-Saúde, software que está automatizando o atendimento na área em Campinas, quanto do DIM, sistema que controla a distribuição de medicamentos nos centros de saúde, contribuíram bastante para esta tarefa.

Para tanto, os profissionais do CS realizaram uma triagem nos prontuários e os documentos pertencentes aos pacientes que não tinham passado pela unidade desde 2007 foram separados. “Geralmente são prontuários inativos, de pessoas que mudaram do bairro ou até mesmo de cidade ou Estado. Os prontuários contêm informações importantes sobre a saúde dessas pessoas, mas nesse caso ficam aqui sem uso”, explica a agente de Saúde Valdirene de Jesus dos Santos.

Depois de localizados e separados, os nomes dos pacientes a quem pertencem esses prontuários foram pesquisados no Siga-Saúde ou no DIM. Se as famílias não foram localizadas no sistema, significa que não estão utilizando os serviços do SUS no município. 

Se foram localizadas, é possível saber se ainda moram nas imediações do Santo Antônio ou mudaram-se para a área de abrangência de outra unidade de saúde. “Se o prontuário pertencia a pacientes que se mudaram, buscamos checar, através de um telefone, ou outro meio, e, confirmada a mudança de endereço, encaminhamos a pasta com os documentos para a unidade onde estão sendo atendidos”, revela Jacqueline Rufino Marins, também agente de saúde.

Jacqueline destaca que os prontuários contêm a história da saúde das pessoas e que é muito importante que as unidades que estão atendendo estes pacientes tenham acesso a essa informação.

De acordo com a coordenadora, o acervo da unidade é muito maior do que a população que utiliza o CS. “Temos aproximadamente 30 mil prontuários para 15 mil usuários”, conta, ressaltando a importância da utilização de instrumentos de informática para melhorar a qualidade desse cadastro.

Além, de permitir que a informação chegue de fato aos profissionais de saúde que atenderão estes pacientes, Denise cita outra vantagem deste procedimento: a liberação de espaço na recepção da unidade. “Esta é a grande novidade, a possibilidade de digitalização dos prontuários, que diminui a dependência com relação ao documento físico e permite a melhor utilização dos espaços do nosso Centro”, comemora.

Sistema

O elemento central da informatização na área de Saúde é o SIGA (Sistema Integrado de Gestão de Atendimento), um software desenvolvido pela Prefeitura de São Paulo e Ministério da Saúde (MS), e, que, através da IMA, foi implantado também em Campinas.

Em março do ano passado, este sistema foi escolhido pelo MS para ser o software padrão para gestão dos recursos e serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todos os municípios brasileiros.

Com a implantação do Siga, uma série de procedimentos exigidos pelo Ministério da Saúde para o repasse de recursos federais aos municípios passa a ser automatizada.

Ao mesmo tempo em que ele agiliza o recebimento destes recursos, o software provoca uma verdadeira revolução tecnológica nos procedimentos que hoje são adotados pelos profissionais da área, tendo impacto direto na melhoria do atendimento à população.

Ele permite a emissão do cartão de identificação do paciente usado no SUS. Por meio desta identificação é possível recuperar instantaneamente, na tela do computador, todas as informações referentes aos tratamentos que o paciente portador do cartão já tenha recebido, quando e onde foi tratado, quais medicamentos está tomando, qual o diagnóstico e o encaminhamento dado, além de outras informações sobre seu histórico de saúde, viabilizando as mudanças que estão ocorrendo no atendimento à Saúde. 

Com a implantação do SIGA consolidada em Campinas, era preciso cuidar de outros aspectos necessários para a informatização da área da Saúde, como a melhoria de infraestrutura de dados e fornecimento de equipamentos para as unidades, bem como a melhoria de conectividade com a Internet.

Projeto Piloto

Para avaliar quais equipamentos teriam um impacto maior para atingir estes objetivos e quanto seria necessário investir em cada unidade, IMA e Secretaria Municipal de Saúde fecharam um acordo para a implantação de um Projeto Piloto de Informatização dos centros de saúde, em outubro de 2011. 

Por sua proatividade e engajamento no uso das ferramentas tecnológicas, o Centro de Saúde Santo Antônio foi o escolhido para o projeto. Nesse processo, a unidade recebeu novos equipamentos de informática, além de investimentos em treinamento e infraestrutura.

Em março deste ano foram concluídos os trabalhos de melhoria na rede elétrica e implantação da rede de dados. No mesmo mês, a conectividade foi ampliada de 1 Mbps para 3 Mbps full, ou seja com garantia do fornecedor de que esta será a banda disponível para utilização da unidade em 98% do tempo.

Também em março, a unidade recebeu 21 novas estações de trabalho, equipamentos em quantidade e performance adequados às atividades desenvolvidas pelo centro. Além disso, foram instaladas quatro impressoras, duas delas especialmente voltadas para a impressão do Cartão SUS, leitores de códigos de barra, para automatizar a leitura do cartão SUS, câmeras web, para videoconferências e um scanner com mesa digitalizadora para digitalização de documentos.

Paralelamente, a equipe do CS Santo Antônio passou por cursos oferecidos pela IMA para poder aproveitar o máximo das facilidades que estes equipamentos e o sistema SIGA podem trazer para o desenvolvimento de suas atividades.

Em abril, os agentes de saúde receberam 11 netbooks e a coordenação do Centro um notebook. A unidade também passou a ser monitorada pelo CIMCamp, que implantou 4,5 quilômetros de fibra ótica e cinco câmeras de vigilância na unidade. Por fim, o CS Santo Antônio passou a integrar o Programa Campinas Digital, oferecendo acesso gratuito à internet aos seus usuários, através da tecnologia WiFi. 

Novo desafio

O desafio, agora, é levar esta experiência exitosa para as cerca de 60 unidades descentralizadas de atendimento básico à saúde do município. “Com a implantação deste modelo sabemos que acertamos no que deve ser feito na informatização dos dados da saúde. Esse é o modelo que será usado em todo o Sistema Único de Saúde e difundido em todo o Brasil. Mais uma vez a saúde de Campinas faz história em nível nacional”, destaca o secretário municipal de Saúde, Fernando Brandão.

De acordo com o cronograma da Secretaria de Saúde, o próximo CS a receber a informatização será o Capivari, também na Sudoeste, seguido do São Marcos na Norte, Taquaral, na Leste, Orosimbo Maia, na Sul, e Pedro Aquino (Balão do Laranja), na Noroeste. A previsão é de uma implantação a cada dois meses.

O presidente da IMA, Pedro Jaime Ziller, aponta que a experiência pode também ser replicada em outros municípios da Região Metropolitana de Campinas. A IMA deve coordenar a implantação do Cartão SUS em toda a RMC, em um processo que recentemente foi aprovado pelo Conselho de Desenvolvimento da Região.

“Estamos trabalhando para que, no futuro, em uma situação hipotética, se um cidadão campineiro sentir-se mal durante uma viagem quando estiver próximo a Cosmópolis, por exemplo, e procurar uma unidade do SUS naquele município, o médico que o atender consiga acessar todas as suas informações médicas instantaneamente, o que, com certeza, contribuirá para um atendimento com maior segurança e qualidade”, explica Ziller.

De acordo com ele, a jornada ainda está no início, mas o uso intensivo de tecnologia da informação e telecomunicação é capaz de acelerar a eliminação dos gargalos que restringem os atendimentos no SUS e de otimizar os investimentos que são feitos na Saúde, de forma a melhorar os serviços prestados à população.

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