Campinas apresenta sua experiência no Congresso Brasileiro de Caps

02/07/2004

Talita El Kadri

Profissionais da área de saúde mental de Campinas participaram de segunda-feira a sexta-feira desta semana, de 28 a junho a 1º de julho, em São Paulo, na ITM Expo, do Congresso Brasileiro de Centros de Atenção Psicossocial (Caps). O evento, inédito na experiência brasileira, tratou da reforma psiquiátrica que tem como principal diretriz cuidar em liberdade e promover a cidadania ao portador de transtornos mentais por meio da desospitalização, redução progressiva de leitos e assistência extra-hospitalar.

Segundo o Ministério da Saúde, o objetivo do congresso era discutir o que acontece nos serviços de saúde mental, apontar desafios da atenção diária e da reabilitação psicossocial e, principalmente, promover a troca de experiências e idéias entre os participantes. Ainda de acordo com o Ministério, as discussões e idéias levantadas no Congresso vão servir para a melhora do sistema psiquiátrico nacional.

"Alcançamos tudo o que propusemos. O Congresso foi também um momento de reunir os profissionais da área e refletir sobre esse trabalho", diz a médica sanitarista Rosana Onocko Campos, uma das organizadoras do evento.

Campinas levou representantes de cada um dos seus nove Caps, além de coordenadores de saúde mental, supervisores e gestores. Estiveram presentes também usuários da rede de atenção psicossocial na cidade, como Luciano Lira, do Caps Novo Tempo e do Núcleo de Oficinas de Trabalho (NOT) do Serviço de Saúde Cândido Ferreira. Luciano compôs a mesa do grupo de discussão "Construindo políticas de saúde mental: a participação dos trabalhadores, usuários e familiares".

A cidade apresentou sua experiência como uma das primeiras no Brasil em responder à reforma psiquiátrica. Rosana Onocko confirma o pioneirismo do município e diz que, comparada a outras cidades, Campinas está muito avançada. "O sistema surgiu e cresceu, agora espera-se consolidar ainda mais o trabalho", afirma.

A psicóloga do Caps David Capistrano, Roselaine Alves Tavares, participou do Congresso e disse que volta com esperanças e inquietações. "Quero garantir a continuidade do movimento e tenho o compromisso de fazer dar certo – e conta sobre a troca de experiência com outras 2 mil pessoas - compartilhamos também as dificuldades, propusemos soluções e vi que não estou sozinha nessa luta".

Marcus Vinicius de Oliveira, do Conselho Federal de Psicologia, falou sobre o início do movimento antimanicomial no país. "Foi preciso demonstrar para a psiquiatria brasileira que o sistema funciona. É preciso avançar ainda mais no fechamento de manicômios e hospitais psiquiátricos".

Rede ampliada. Campinas dispõe hoje de uma rede de cuidados comunitários de saúde mental do Sistema Único de Saúde (SUS) constituída por nove Caps, quatro deles com 32 leitos, em que psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais e enfermeiros tratam os pacientes em liberdade para reabilitá-los ao convívio social e familiar.

Atualmente, a cidade conta também com três Centros de Convivência, todos inaugurados nos últimos três anos. Nestes espaços, as pessoas desenvolvem trabalhos em esquema de cooperativa e participam das oficinas de dança, música, ginástica, ioga e de outros momentos de convívio.

O município também disponibiliza 33 repúblicas ou residências terapêuticas com aproximadamente 150 pacientes ex-moradores de hospitais psiquiátricos, várias oficinas de profissionalização e mais de 300 postos de geração de renda para os usuários, além de integrar o De Volta para Casa – um programa Ministério da Saúde que destina um benefício mensal de R$ 240 para ajudar no processo de ressocialização de portadores de transtornos mentais que tenham passado pelo menos dois anos internados em hospitais e clínicas psiquiátricas.

A Secretaria Municipal de Saúde ainda ampliou serviços nos centros de saúde e, numa ação inédita, implantou serviço psiquiátrico de plantão no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Com esta infra-estrutura, a cidade tornou-se, então, referência na área da saúde mental e é apontada – ao lado de Santos – como pioneira nos avanços da reforma psiquiátrica no país.

"A cidade reúne belos exemplos de atitudes terapêuticas e respeito aos pacientes, ao garantir-lhes, pelos Caps, a prerrogativa cidadã de ir e vir. Campinas antecipou-se à portaria n0 336/2002, do Ministério da Saúde, criando os Caps substitutivos de atenção desde a crise até a recuperação", diz Florianita Coelho Braga, ex-coordenadora de Saúde Mental de Campinas.

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