Vigilância em saúde identifica nova área de transmissão de febre maculosa

12/07/2004

Talita El Kadri

A Secretaria de Saúde de Campinas confirmou, em julho, uma nova área de transmissão de febre maculosa na Vila Ipê, região Sul da cidade. A doença, provocada por uma bactéria (Rickttsia rickettssii) transmitida ao homem pelo carrapato-estrela (Amblyomma cajennense) ou micuim, pode levar à morte. Até então, no município, já haviam sido confirmados casos de pessoas infectadas em Joaquim Egídio, Fazenda Barra Jaguari, Fazenda Monte D'Este, Parque Hermógenes, área próxima à Fazenda Solar das Andorinhas, Sousas e no Parque Portugal, onde estão a Lagoa do Taquaral e o Lago do Café.

O novo local de transmissão foi identificado após uma criança ter sido infectada na divisa entre a Vila ipê, Parque Jambeiro e Jardim dos Oliveiras. A criança, de 9 anos, freqüentou o local no dia 7 de junho. Os primeiros sintomas, parecidos com os de uma forte gripe, apareceram no dia 13. Também surgiram manchas vermelhas pelo corpo. A mãe relatou ao médico que o menino havia sido picado por carrapatos. Imediatamente, iniciou-se o tratamento.

Na semana passada, exames do Laboratório Adolfo Lutz confirmaram a suspeita de febre maculosa. A criança foi tratada no Hospital Municipal Mário Gatti e já recebeu alta. Foi o primeiro caso da doença confirmado em 2004 em Campinas. No total, foram notificados 31 suspeitos este ano.

Todas as medidas ambientais e sanitárias para prevenir novos casos no local já foram implementadas pela Secretaria de Saúde. A população da área está sendo orientada pelos técnicos do Núcleo de Saúde Coletiva do Centro de Saúde da Vila Ipê, que é referência para aquela população.

A Saúde Coletiva de Campinas já divulgou informe técnico para os profissionais de saúde para alertá-los sobre a nova área de transmissão e sensibilizá-los quanto à necessidade do diagnóstico precoce da doença.

Maior incidência. A bióloga Maria Geralda Rodrigues de Almeida, da Vigilância em Saúde (Visa) Sul, informa que nesta época do ano o número de carrapatos no meio ambiente é maior porque coincide a época de reprodução com a época de seca, o que favorece a proliferação. "Conseqüentemente, aumenta o número de picadas do carrapato e notificações da doença", diz.

A bióloga explica que no local já foram desencadeadas ações de conscientização da população. A comunidade está sendo orientada para adotar cuidados com seus animais e para manter o quintal roçado e evitar áreas de mato. "Se for necessário adentrar área de vegetação, a pessoa deve se proteger com roupas que protejam todo o corpo como calças e blusas de mangas compridas e sapatos fechados. É necessário fazer um auto-exame a cada três horas para verificar se há carrapatos aderidos à pele", informa. Segundo Geralda, o local tem cerca de 12 chácaras e um número grande de cavalos e vacas.

A doença. A febre maculosa provoca sintomas parecidos com os de outras doenças, como leptospirose e dengue hemorrágica. Os principais sinais são febre, dor no corpo, dor de cabeça e manchas vermelhas na pele. A doença preocupa pela alta taxa de letalidade. Campinas confirmou 14 casos de febre maculosa de 1995 a 2003. Do total de casos, 43% foram a óbito.

Segundo a enfermeira da vigilância em saúde, Ester Whyte Afonso Ferreira, se tratada no começo do aparecimento das sintomas, geralmente tem boa evolução. "Quanto mais precoce for iniciado o tratamento, maior a probabilidade de cura", diz.

De acordo com a médica veterinária Jeanette Trigo Nasser, da Saúde Coletiva de Campinas, o momento da retirada dos carrapatos de uma pessoa parasitada é importante para a prevenção da doença. Quanto mais precoce, completa e segura a retirada, menor a chance de inoculação de bactérias - e portanto de surgir febre maculosa - e de complicações locais como reação inflamatória ou infecção secundária.

"Por isso, a orientação é para que a retirada de carrapatos seja feita, de preferência, no Centros de Saúde. Nestes serviços, o profissional está preparado para retirar o carrapato. O profissional também pode verificar se há outros exemplares aderidos ao corpo da pessoa e orientá-la sobre a doença, sintomas, quando procurar o profissional de saúde e maneiras de prevenção", afirma. A veterinária informa ainda que nem todos os carrapatos estão infectados com a bactéria.

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