Campinas descarta surto de leptospirose

18/07/2006

A Secretaria de Saúde de Campinas, por meio da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), descartou nesta terça-feira, 18 de julho, a possibilidade de o município estar mediante a um surto de leptospirose. A equipe da Covisa chegou a esta conclusão após receber resultados dos exames processados por outra metodologia de Reação de Microaglutinação e que se apresentaram negativo para leptospirose.

Recebemos resultados de 12 amostras das quais apenas uma se mostrou positiva para leptospirose. Portanto, já podemos descartar a possibilidade de surto desta doença. No entanto, prosseguimos com a investigação de todos os pacientes para que possamos chegar a total elucidação dos casos, informa a enfermeira sanitarista Maria Filomena Gouveia Vilela, da Covisa.

Filomena explica que os exames são processados pelo Instituto Adolfo Lutz - laboratório público de referência para onde são encaminhadas todas as amostras - e que numa primeira bateria de testes o método utilizado foi o Elisa.

Os resultados desta primeira bateria apontavam uma situação atípica da doença no município, com um aumento significativo de casos em relação aos anos anteriores. Desde janeiro, 56 moradores de todas as regiões da cidade tiveram exame positivo para a doença. Uma das pessoas morreu. O número é quatro vezes maior que a média mensal verificada no mesmo período dos últimos oito anos, ou seja de 1998 a 2005. Em 2005, no ano inteiro, foram notificados 32 casos da doença na cidade.

Diante da situação, a Secretaria de Saúde passou a investigar duas hipóteses. Uma de que tratava-se de um surto de leptospirose e outra de que poderia ter havido algum problema referente ao diagnóstico laboratorial.

Pensamos em algum problema laboratorial porque algumas características dos casos no chamaram a atenção, entre as quais o fato de o município não ter enfrentado situação de risco que expusesse tantas pessoas, como inundações. Também levamos em conta o fato de que não houve aumento no número de óbitos e de hospitalização o que é esperado para esta doença e dos sintomas não terem sido tão característicos, diz o médico sanitarista André Ricardo Ribas de Freitas, da Covisa.

O sanitarista informa que a leptospirose é uma doença infecciosa causada por uma bactéria chamada Leptospira presente na urina de ratos e outros animais, transmitida ao homem principalmente nas enchentes. Trata-se de uma zoonose, doença dos animais que pode ser transmitida ao homem, causada por bactérias chamadas Leptospiras, as quais estão presentes na urina de animais infectados, principalmente ratos, diz.

Os sintomas mais freqüentes são parecidos com os de outras doenças, como a gripe e a dengue. Os principais são febre, dor de cabeça, dores pelo corpo, principalmente nas panturrilhas - batata-da-perna -, podendo também ocorrer vômitos, diarréia e tosse. Nas formas mais graves geralmente aparece icterícia - coloração amarelada da pele e dos olhos - e há a necessidade de cuidados especiais em caráter de internação hospitalar. O doente pode apresentar também hemorragias, meningite, insuficiência renal, hepática e respiratória que podem levar à morte, afirma André.

A Secretaria de Saúde divulgou hoje informe técnico para a rede de saúde do município para atualizar a situação da doença no município. O documento também informa que, enquanto a Secretaria de Saúde aguarda a normalização da realização dos exames, os pacientes com suspeita de leptospirose terão seus exames feitos no Instituto Adolfo Lutz pelo método Elisa e outra amostra será encaminhada para outros laboratórios de saúde pública indicados pelo Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado (CVE) para realização de Reação de Microaglutinação e Elisa por outro kit. Além disso, os resultados serão discutidos caso a caso, afirma André.

Os fluxos e datas de coleta a partir de um caso suspeito continuam exatamente os mesmos, como preconizados no manual de Vigilância Epidemiológica, ou seja coleta de exame de sorologia a partir do 7° dia de doença e encaminhamento para o Laboratório Municipal.

Saiba mais sobre a leptospirose:

Como se transmite?

Em situações de enchentes e inundações, a urina dos ratos, presente em esgotos e bueiros, mistura-se à enxurrada e à lama das enchentes. Qualquer pessoa que tiver contato com a água das chuvas ou lama contaminadas poderá se infectar. As leptospiras presentes na água penetram no corpo humano pela pele, principalmente se houver algum arranhão ou ferimento. O contato com água ou lama de esgoto, lagoas ou rios contaminados e terrenos baldios com a presença de ratos também podem facilitar a transmissão da  leptospirose. Veterinários e tratadores de animais podem adquirir a doença pelo contato com a urina de animais doentes ou convalescentes.

Como tratar?

O tratamento é baseado no uso de medicamentos e outras medidas de suporte, orientado sempre por um médico, de acordo com os sintomas apresentados. Os casos leves podem ser tratados em ambulatório, mas os casos graves precisam ser internados. A automedicação não é indicada, pois pode agravar a doença.

Como se prevenir?

Para o controle da leptospirose, são necessárias medidas ligadas ao meio ambiente, tais como obras de saneamento básico (abastecimento de água, lixo e esgoto), melhorias nas habitações humanas e o combate aos ratos.

Deve-se evitar o contato com água ou lama de enchentes e impedir que crianças nadem ou brinquem nessas águas ou outros ambientes que possam estar contaminados pela urina dos ratos. Pessoas que trabalham na limpeza de lamas, entulhos e desentupimento de esgoto devem usar botas e luvas de borracha - se isto não for possível, usar sacos plásticos duplos amarrados nas mãos e nos pés.

Entre as principais medidas de combate aos ratos, deve-se destacar o acondicionamento  e destino adequado do lixo e o armazenamento apropriado de alimentos. A desinfecção de caixas d´água e sua completa vedação são medidas preventivas que devem ser tomadas periodicamente.

A pessoa que apresentar febre, dor de cabeça e dores no corpo, alguns dias depois de ter entrado em contato com as águas de enchente ou esgoto, deve procurar imediatamente o Centro de Saúde mais próximo. A leptospirose é uma doença curável, para a qual o diagnóstico e o tratamento precoces são a melhor solução.

Denize Assis

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