Campinas inaugura nova sede do Caps Integração, na região noroeste

29/07/2010

Autor: Denize Assis

O prefeito de Campinas, Hélio de Oliveira Santos e o secretário municipal de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva, inauguraram nesta quinta-feira, dia 29 de julho, às 9h, a nova sede do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Integração, na rua Zocca 150, Vila Castelo Branco, na região noroeste da cidade.

A unidade, fundada em 1.993, até então, funcionava em imóveis alugados que, com o passar dos anos, se tornaram inadequados para atender a demanda. A sede própria para o Caps era uma reivindicação antiga da população e dos gestores, tendo sido apontada no Orçamento Participativo (OP).

A solenidade foi marcada com uma grande festa que reuniu gestores municipais, trabalhadores da saúde, usuários e seus familiares, representantes do Poder Legislativo, do Conselho Municipal de Saúde, Associações de Moradores de Bairros entre outros. A programação incluiu apresentações musicais, exposição de desenhos e pinturas, de fotos e soltura de 350 balões coloridos. Também foi servido um café da manhã e o encerramento se deu com o plantio de uma árvore.

“A política de saúde mental acompanhou o redesenho da saúde pública deste país. Neste processo, Campinas se destaca como município pioneiro em atender à reforma psiquiátrica estabelecendo uma rede de atenção extra-hospitalar na qual os Caps consistem no principal elemento. Portanto, esta nova sede é motivo de muita comemoração. Na prática, significa que cada vez menos o hospital é o destino dos portadores de transtornos mentais. É um sinal claro de que a rede extra-hospitalar está desempenhando o papel que se espera dela. Quero cumprimentar usuários, profissionais de saúde e todos que aqui estão, por esta conquista que também é um presente aos 236 anos de Campinas”, disse o prefeito dr. Hélio.

Segundo o prefeito, o principal desafio da saúde mental atualmente é em relação à epidemia de crack e Campinas já tem em andamento um trabalho que pretende ser modelo de intervenção para este agravo no País. “Trata-se das Casas de Atendimento Transitório e dos Consultórios de Rua. A proposta nos foi colocada pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e, por meio da Secretaria de Saúde e da área de Saúde Mental, nosso município vai dar esta resposta”, afirmou.

Para o secretário de Saúde, José Francisco Saraiva, a inauguração da nova sede do Caps reforça a condição de Campinas como município pioneiro a responder à reforma psiquiátrica.

“Hoje temos dez Caps, seis deles com leitos 24 horas, e internamos 350 pacientes por ano contra as 1.300 internações em 2001. Por tudo isto, este é um momento especial, em que inauguramos a sede de mais um Caps, dispositivo estratégico dentro da política nacional para a área. Quero agradecer a todos, equipe de saúde e usuários e a um dos grandes idealizadores desta unidade, o prefeito dr. Hélio que, quando então deputado federal, elaborou emenda parlamentar prevendo esta unidade”, destacou o secretário.

Segundo a coordenadora do Caps Integração, a terapeuta ocupacional Sônia Falcão de Sousa Bianchin, que atua na unidade desde 1996, na nova sede, o acesso torna-se facilitado já que o endereço fica próximo aos outros serviços que constituem a rede de assistência à saúde desta população - Centro de Saúde Integração, Centro de Convivência e Cooperativa Toninha, Casa das Oficinas e Praça dos Trabalhadores – e garante a equidade no atendimento.

“Além disso – disse a coordenadora -, o espaço tornou-se amplo e constituiu um ambiente acolhedor que permite um atendimento mais qualificado, humanizado, mais propício a promover uma atenção baseada na autonomia e nos direitos dos pacientes”.

De acordo com Sônia, são 542,19 metros quadrados que compõem sala para avaliação e triagem, cinco salas específicas para atendimento em grupo, refeitório e cozinha para pacientes, banheiros para atividades específicas destinadas a portadores de necessidades especiais e pacientes no leito, área restrita para funcionários com espaço para banho, alimentação e armazenamento de pertences. Possui uma área externa para projetos de jardinagem.

Além das novas instalações, a unidade também recebeu novos mobiliários, equipamentos e uma nova viatura para visita domiciliar, medicação assistida, busca ativa de pacientes faltosos e deslocamento de usuários para atividades.

O Caps Integração oferece desde cuidados clínicos até atividades de reinserção social do paciente, por meio de acesso ao trabalho e lazer, direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e sociais. A equipe de profissionais é multidisciplinar, formada por cinco enfermeiros, 22 auxiliares de enfermagem, cinco terapeutas ocupacionais, quatro psicólogos, médico, duas técnicas de farmácia, dois administrativos, quatro vigias, motorista e a coordenadora Sônia Falcão de Sousa Bianchin.

Mais sobre o Caps. O Caps Integração é mantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Secretaria Municipal de Saúde em parceria com o Serviço de Saúde Cândido Ferreira. É referência para aproximadamente 180 mil habitantes da região Noroeste da cidade e atende, neste momento, 320 cidadãos portadores de transtornos mentais graves. A unidade funciona 24 horas com disponibilidade de atender à noite pacientes em crise.

Todos os dias, em média 70 pessoas circulam pelo serviço para atendimento médico, de enfermagem e de psicologia, terapia ocupacional, atividades de geração de renda e outros.

Depoimentos

Uma destas pessoas é José Luiz de Souza, de 42 anos. Com a carteira profissional na mão, José deixa bem claro: “Estou me tratando, me sinto cada dia melhor e logo vou estar no mercado para trabalhar. Nasci feliz como qualquer criança, não nasci doente mental e não vou morrer doente mental”, avisa José Luiz que se trata de esquizofrenia há um ano e meio no Caps Integração. Ele conta que toma medicamentos em casa e que tem encontro com a psiquiatra duas vezes por semana, às quartas-feiras e às sextas-feiras.

“Nesses dois dias passo o período inteiro no Caps, tomo café às oito horas, ao meio-dia almoço e à tarde ainda tomo um lanche, tudo aqui no CAPS, me sinto como se estivesse em casa”, diz José Luiz. Ele conta que os passeios e outras atividades organizadas pelos coordenadores são importantes na ajuda para o tratamento. “Já fui três vezes no Hopi Hari e até na praia e esses passeios são ótimos para a gente descontrair e conhecer outras pessoas que também se tratam, estão melhor de saúde e isso anima a gente”, afirma.

Com o mesmo ânimo, Silvania Aparecida da Silva, 42 anos, moradora do Jardim Satélite Íris, relata que há um ano, antes de frequentar o Caps Integração, passava a maior parte do tempo dentro de casa, "enfurnada", sem se comunicar com outras pessoas. “Foi ótimo porque comecei a praticar esportes, jogar vôlei e a fazer um monte de coisas que eu não fazia antes. Hoje já tomo remédio sozinha, em casa e vou três vezes por semana conversar com o psiquiatra”.

Marcos Ferreira de Barros começou a frequentar o Caps Integração em 2001 com um tratamento que se estendeu até 2007. Hoje, Marcos está sempre presente no Caps, mas para participar de reuniões e dar apoio administrativo aos coordenadores. Costuma fazer parte de comissões e outras entidades de apoio à política de saúde mental em Campinas.

Ele explica que seu tratamento continua, mas apenas no Centro de Saúde onde retira medicamentos. “O Caps é importante porque o paciente é acompanhado de perto e, ao mesmo tempo, tem liberdade para fazer suas coisas e se sente integrado à comunidade e isso é muito importante para ele resgatar sua dignidade e melhorar a auto-estima", finaliza.

Os três, José Luiz, Silvania e Marcos concordam que a sede nova é muito importante porque facilita o acesso, além de ser mais bonita, espaçosa. “Tudo de bom”, disseram.

Alternativa a internações. A Política Nacional de Saúde Mental, lançada em 2003, define os Caps como o principal elemento da rede de atenção extra-hospitalar, formada também pelas residências terapêuticas, centros de convivência e pelo programa De Volta para Casa. Na concepção da reforma psiquiátrica, o modelo centrado na atenção hospitalar não reabilita o paciente. Quando isolado, o portador de transtornos mentais não consegue se ressocializar e perde sua individualidade.

Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) de Campinas dispõe de uma rede de cuidados comunitários de saúde mental constituída por dez Caps, sendo seis Caps III com oito leitos cada (48 leitos), dois Caps-i voltado para o atendimento de crianças e adolescentes e outros dois voltados para o atendimento de pessoas que sofrem com transtornos causados pelo uso prejudicial de álcool e outras drogas (Caps-AD). Um terceiro Caps-AD já está sendo planejado. A meta é que Campinas tenha cinco Caps AD, um em cada região.

Também integram esta rede, onze Centros de Convivência, que são espaços onde as pessoas desenvolvem oficinas de dança, música, ginástica, ioga e outros momentos de convívio. O município ainda disponibiliza mais 38 residências terapêuticas com aproximadamente 202 pacientes ex-moradores de hospitais psiquiátricos, várias oficinas de profissionalização e mais de 300 postos de geração de renda para os usuários.

Além disso, a cidade integra o De Volta para Casa – um programa Ministério da Saúde que destina um benefício mensal em dinheiro para ajudar no processo de ressocialização de portadores de transtornos mentais que tenham passado pelo menos dois anos internados em hospitais e clínicas psiquiátricas.

Volta ao índice de notícias