Classe hospitalar leva educação e ludicidade para crianças internadas

10/07/2012

Autor: Ingrid Vogl

A sala ampla, enfeitada com bandeirinhas coloridas, as prateleiras cheias de bonecas, carrinhos, jogos e brinquedos pedagógicos atrativos, mini mesas e cadeiras, carrinhos de criança e de boneca, fotos de crianças em cartazes nas paredes e um computador remetem a um espaço lúdico de uma das escolas municipais de Campinas. Na verdade, a sala ou brinquedoteca, como comumente é chamada, é a Classe Hospitalar que fica dentro do setor de pediatria do Complexo Hospitalar Ouro Verde.

A Classe Hospitalar é um dos serviços do núcleo de educação especial da Secretaria Municipal de Educação e oferece atendimento pedagógico às crianças internadas permanentemente – as chamadas moradoras - ou por um período. O serviço é oferecido atualmente no Complexo Hospitalar Ouro Verde e também no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, onde profissionais especializados ensinam com carinho e brincadeiras as crianças que, naquele momento, não podem frequentar as salas de aula.

Atendimento

No Complexo Hospitalar Ouro Verde, as professoras de educação especial Cláudia Mara da Silva e Vânia Lígia Garbo Soranzo são responsáveis por atender crianças de zero a 14 anos dos setores da pediatria, UTI e Pronto Socorro Infantil (PSI). Mas vez ou outra, conforme as conversas frequentes com os médicos do hospital, pacientes de outras idades e outros setores também recebem atendimento da equipe pedagógica. O local é um refúgio para os pacientes, pois lá é possível quebrar a tensão da estadia no hospital por meio da educação. O atendimento é feito de segunda a sexta, das 7h30 às 17h, pela manhã pela Cláudia Silva e à tarde, por Vânia Soranzo.

Desde 2009, pouco tempo depois da inauguração do hospital, a Classe Hospitalar foi instalada no local, inicialmente de forma um tanto precária, mas três anos depois, o espaço conta com uma ampla estrutura. Segundo a professora Cláudia Silva, grande parte dos brinquedos e jogos foi conquistada por meio de doações da equipe do próprio hospital.

Mais recentemente, a Classe Hospitalar do Complexo Ouro Verde passou a receber verbas do Conta Escola, projeto da Secretaria Municipal de Educação que destina trimestralmente recursos às escolas municipais para que sejam investidos na aquisição de material pedagógico e permanente, como TVs, DVDs, laptops, além de pequenos reparos. Mais de R$ 2 mil são destinados a cada três meses para a Classe Hospitalar do Ouro Verde, que são calculados de acordo com o número de crianças atendidas, hoje são mais de 30. Com esse dinheiro, são adquiridos novos recursos tecnológicos e pedagógicos para atender os pacientes.

“Este espaço é a menina dos olhos das crianças que ficam internadas aqui. Sozinhas ou acompanhadas das professoras ou familiares, as crianças desenvolvem trabalhos pedagógicos e lúdicos. Na hora da alta médica, algumas choram e não querem sair daqui”, explica Cláudia Silva, com um leve sorriso no rosto ao lembrar de alguns casos em que as crianças gostaram tanto da brinquedoteca que não queriam mais ir embora.

Projeto pedagógico

Mas ao contrário do que se pode imaginar, o local tem regras que são seguidas à risca. As professoras de educação especial costumam trabalhar de acordo com o que o aluno está desenvolvendo em sala de aula. Para isso, elas entram em contato com a escola para que sejam enviados os conteúdos e a partir daí, as profissionais aliam o conteúdo escolar ao projeto pedagógico desenvolvido por elas na Classe Hospitalar. Sempre que a criança chega, é feita uma avaliação para saber qual é o nível de alfabetização do aluno.

“Agora estamos começando o projeto pedagógico que tem como tema a Copa do Mundo de Futebol, com duração prevista de dois anos. Vamos estudar a história, a cultura e tudo o que é relacionado aos países participantes do campeonato mundial a partir de todos os componentes disciplinares”, diz. Cláudia Silva.

Adaptações de ensino também são feitas de acordo com as limitações das doenças dos pacientes. Todos os dias há atendimento e o tempo de permanência das crianças na Classe Hospitalar depende das condições físicas de cada uma. As aulas sempre são um misto de brincadeiras educativas e lições. ”Evitamos de todas as maneiras atividades que frustrem os alunos. Estamos aqui para estimular as crianças”, conta. Caso os pacientes não possam se deslocar até a Classe Hospitalar, as professoras vão até o leito e dão aulas ali mesmo. Brinquedos de todos os tipos também são comumente encontrados nos quartos das crianças internadas.

Alguns alunos frequentam a Classe Hospitalar sempre e são moradores do hospital há três anos, ou desde que nasceram, como é o caso de Victor Hugo da Costa Santos, 10 anos e Ana Vitória dos Santos Silva, 3 anos. Mas em média, os pacientes ficam durante uma semana no hospital e não deixam de ir até a Classe Hospitalar para brincar e aprender.

Como se trata de uma sala de aula em um ambiente hospitalar, todas as semanas os brinquedos são lavados, para que a higienização seja mantida. Os pais dos pacientes também são orientados a não dividirem os brinquedos com outros pacientes para evitar contaminação.

Tratamento

Frequentemente, as equipes pedagógica e médica do hospital se reúnem para discutir os casos dos pacientes, em uma atividade multidisciplinar e integrada. O trabalho na Classe Hospitalar ajuda inclusive no tratamento dos pacientes, como por exemplo, no momento em que as crianças precisam tomar a medicação. “Aqui na brinquedoteca as crianças estão relaxadas, brincando, ocupadas, e fica muito mais fácil para os profissionais da saúde. No brincar, o paciente é medicado”, analisa Cláudia Silva.

O trabalho pedagógico dentro do hospital traz ganhos não só para os pacientes, mas também para suas famílias. “Muitas vezes, familiares aprendem aqui a brincar com as crianças- já que muitos em casa, não tem este hábito. Eles também levam daqui orientações sobre regras e alimentação

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