Autor:
Juliana Perrenoud
Quem chega ao
Hospital Municipal Dr. Mário Gatti (HMMG), em Campinas,
muitas vezes não imagina a complexidade do local. São 1562
funcionários que se revezam para prestar atendimento à
população, ininterruptamente, nos 19 mil metros quadrados de
área construída na Avenida Prefeito Faria Lima, no Parque
Itália. Neste sábado, 14 de julho, o hospital completa 38
anos de história e de serviços prestados à população.
O HMMG atende
no regime “portas abertas” (de forma não referenciada), ou
seja, funciona 24 horas por dia, atendendo a todos os casos,
por demanda espontânea. A entrada dos pacientes se dá de
duas formas: pelo chamado Setor Azul, para pessoas que
chegam de carro, de ônibus, e para os casos menos graves; ou
pelo Setor Vermelho, a ala de urgência e emergência, com
capacidade de atender cinco pessoas ao mesmo tempo, que
recebe os casos graves trazidos pelo SAMU (Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência), ambulâncias, etc.
Os números dos
atendimentos impressionam: somente em 2011, foram realizadas
303 mil consultas nos Prontos Socorros Adulto e Infantil,
Ambulatório e Oncologia. Para se ter uma ideia, isso
representa 27,5% do número de habitantes de Campinas que, de
acordo com o censo, possui 1,1 milhão de habitantes.
Em 2011, mais
de 10 mil pessoas foram internadas e 786 mil exames
laboratoriais e de imagem foram realizados. A taxa de
ocupação média do último ano ficou em 92%. Isso significa
que o hospital esteve praticamente cheio durante todo o ano.
No Mário Gatti,
são atendidos desde pacientes com necessidade de uma simples
medicação, até pessoas que irão realizar complexas
cirurgias. No ano passado, 5,6 mil cirurgias foram
realizadas, uma média mensal de 466.
“Recebemos
gente do país todo. Fizemos um estudo, em 2010, e constamos
que, até então, só dois Estados da Federação não mandaram
paciente para cá: Maranhão e Sergipe. Hoje, temos um
paciente na oncologia da cidade de Imperatriz, no Maranhão,
que está em tratamento contra uma leucemia. Certamente já
atendemos também de Sergipe nesse intervalo de tempo”, conta
Salvador Affonso Pinheiro, Presidente do Hospital.
A ala de
internação possui 240 leitos, divididos em quatro andares de
hotelaria. No primeiro andar, são atendidos casos de
neurologia, neurocirurgia e ortopedia e pacientes de UTI
Adulta. No segundo andar do prédio, estão os de clínicas
cirúrgicas e especialidades (cirurgia geral, cirurgia
vascular, urológica, plástica, oncologia, toráxica,
bucomaxilofacial). O terceiro tem pacientes de clínica
médica e especialidades (moléstias infecciosas e
parasitárias, cardiologia, pneumologia, endocrinologia). No
quarto andar estão as crianças da pediatria e da UTI
Pediátrica.
No térreo, ao
lado dos Setores Azul e Vermelho estão os setores Verde e
Amarelo. “Após prestar o primeiro atendimento aos pacientes
graves (Setor Vermelho), sempre com objetivo de afastar o
risco de morte iminente, eles são encaminhados para
tratamento clínico, cirúrgico, observação ou alta. O
paciente crítico que necessita de cuidados intensivos
clínicos, pode ser direcionado para a área Amarela, que
possui 11 leitos, até o seu encaminhamento para outra
unidade de internação”, detalha o coordenador do PS,
Reginaldo Ribas de Alcântara.
A área Verde é
destinada à permanência de pacientes não críticos, para
observação ou internação clínica ou cirúrgica, tem
capacidade de 10 leitos masculinos, oito leitos femininos e
um isolamento. Ali também ficam as salas de sutura e
pequenos procedimentos, como curativos e drenagem de
abcessos.
Os atendimentos
são por ordem de prioridade. Isso significa que alguém que
esteja tendo uma convulsão ou um infarto terá socorro antes
de alguém com cólica renal, independente da ordem de
chegada”, explica Alcântara.
As crianças são
atendidas em uma área separada, no Pronto Socorro Infantil.
“Essa medida visa proteger os pequenos e evita expô-los às
situações de pacientes adultos graves, que podem chegar com
grandes ferimentos ao hospital”, conta Wilson Norato da
Silva, diretor Técnico do Mário Gatti.
Do outro lado
da rua, está o Ambulatório de Especialidades, que atende
Clínica Médica, Cirurgia Cardíaca, Clínica da Dor,
Dermatologia, Endocrinologia, Geriatria, Fisioterapia,
Nefrologia, Neurologia. Ali também funciona um local para a
coleta de sangue administrado pela Unicamp, com cerca de 40
doações diárias.
O Centro de
Atenção Integral em Oncologia atende portadores de câncer
nas áreas de radioterapia e quimioterapia. Lá, o paciente
encontra os serviços Oncologia Clínica, Oncologia Cirúrgica
Cirurgia Cabeça e Pescoço, Radioterapia, Dor Oncológica
Psicologia, Nutrição, Serviço Social, que levam em
consideração a melhora na autoestima dos pacientes e
minimização do tempo de espera nas dependências do Centro.
Lá são feitas mais de 2.300 aplicações de radioterapia por
mês.
Para o bom
funcionamento do hospital, todas as áreas são fundamentais.
A lavanderia precisa entregar a roupa de cama limpa, para
que a enfermagem das alas possa preparar os leitos que
recebem os que forem internados.
Durante a
realização de uma cirurgia, os instrumentos a serem usados
devem estar esterilizados, o paciente deve estar
corretamente medicado, a sala deve estar limpa, os exames
dentro do prontuário. “É como uma orquestra composta por
centenas de instrumentos, que deve ser regida pelos gestores
para que a música não desafine”, compara Pinheiro.
Alimentação
e descarte consciente
A alimentação
dos pacientes também é pensada para ajudar na recuperação.
“Temos uma dieta balanceada e ótimos cozinheiros, que
preparam as refeições, cafés, lanches da tarde, tudo para
auxiliar no tratamento e bem- estar”, conta Maria Camila
Abramides Prada, coordenadora da Nutrição.
Durante um ano,
são servidas, em média, 15,6 toneladas de carnes para
pacientes e acompanhantes, 6,3 toneladas de arroz, três
toneladas de feijão, 22 mil litros de sopa.
A lavanderia é
responsável por manter limpos e desinfetados roupas de cama,
banho, travesseiros, aventais. São por volta de 1,6 tonelada
lavadas diariamente, 584 mil toneladas em um ano.
A preocupação
com o meio ambiente e o correto descarte de materiais
infectantes também fazem parte das diretrizes. São, em
média, 18 toneladas de lixo hospitalar por mês, coletados
pela Prefeitura e levados para desinfecção em um equipamento
especial. Além desse material, também são separados o lixo
comum (cerca de 10 toneladas), do reciclável.
“O material
reciclável é vendido pelo grupo de voluntários da Associação
de Voluntários do Mário Gatti (Avomag) e o valor adquirido é
revertido em benefícios para os pacientes, com compra de
cadeiras de rodas, colares cervicais, muletas, andadores”,
conta a coordenadora de Manutenção, Daniela Cochiolito Pilon.
Doutor Mário
Gatti
O nome do maior
hospital público da Região Metropolitana de Campinas vem do
médico ítalo-brasileiro, Mário Gatti, que exerceu a
profissão na primeira metade do século 20.
O médico Mário
Gatti nasceu em Nápoles, na Itália, em 1879, e conheceu
Campinas em 1905, quando tinha 26 anos. Muitos acreditam que
ele desembarcou no município para exercer sua profissão, mas
na verdade Mário veio à cidade para se casar com Francisca
de Marco Gatti.
O renomado
médico italiano ostentava vários cursos pela Europa. Mas foi
no Brasil que Mário Gatti se formou em medicina, na Bahia, e
que iniciou em sua carreira quando começou a atuar na
Beneficência Portuguesa campineira. Depois, de alguns anos
estudando em Paris, retornou para Campinas, em 1915, onde
fixou residência.
O médico sempre
colocava Campinas como a cidade do coração. “É o meu segundo
berço, o mais importante cenário de minha humilde
existência. Foi neste pedaço de paraíso que iniciei a minha
carreira profissional. A eterna primavera de seu clima
ameno, a bondade e a simplicidade dos seus filhos empolgaram
a minha juventude”, disse à época.
Mesmo com idade
avançada, mais de 70 anos, Mário Gatti ajudou as vítimas do
acidente que levou ao desabamento o Cine Rink, na década de
50. Este foi o Doutor Mário Gatti que dedicou sua carreira à
salvar vidas. Em fevereiro de 1976, o município homenageou
com o nome: Hospital Municipal Dr. Mário Gatti.
Doutor Mário
Gatti faleceu às 10h do dia 4 de março de 1964 e havia
deixado os filhos Theodora Gatti Pagano Brando, Attilia
Gatti Guedes de Melo e Roque de Marco Gatti, além de netos e
bisnetos. Mário Gatti era filho de Lelio Gatti e Attilia
Tumolo Gatti.