Saúde avalia possibilidade de manter gatos em observação por seis meses

04/08/2003

A Secretaria de Saúde de Campinas começou a avaliar nesta segunda-feira, 4 de agosto, a possibilidade de viabilizar um local para abrigar gatos apreendidos no Bosque dos Jequitibás, área onde recentemente apareceu um morcego contaminado pela raiva. Cães e gatos que vivem soltos na área podem ter sido infectados e transmitir a doença ao homem.

O parque, no Centro da cidade, recebe todos os dias centenas de pessoas. No último domingo, 3 da agosto, um jornalista que visitava a área foi mordido por um gato que vive solto lá. O jornalista já está recebendo assistência na rede municipal de saúde.

Na semana passada, a Prefeitura anunciou a apreensão de animais que vivem soltos no bosque e nas ruas próximas num raio de 500 metros. A estimativa da coordenação do parque é que 30 gatos vivam soltos na área. Não há registros de cachorros errantes no local.

Os animais seriam encaminhados para eutanásia, conforme indica o Ministério da Saúde e o Programa Nacional e Controle da Raiva. A medida, necessária para prevenir o aparecimento de outros casos de raiva na área, gerou muitos protestos por parte das entidades protetoras dos animais e de moradores de Campinas.

De acordo com a Secretaria de Saúde, a única alternativa para evitar a morte dos animais é mantê-los em observação por 180 dias em um local onde cada cão ou gato fique alojado em um espaço individual. A Prefeitura não dispõe de alojamento nestas condições.

A enfermeira sanitarista Salma Balista, coordenadora da Coordenadoria de Vigilância e Saúde Ambiental (Covisa) da Prefeitura, afirma que, pela gravidade da situação, todo animal encontrado solto na área deve ser apreendido e eutanasiado como estabelece a norma do Ministério da Saúde. No entanto, segundo ela, antes de encaminhá-los para a eutanásia, a Prefeitura em parceria com a União Protetora dos Animais (UPA) vai tentar viabilizar um local para abrigá-los. A decisão deve sair em uma semana.

"Por enquanto ainda não podemos divulgar o local - nome da empresa - porque não terminamos as negociações. Se a resposta for positiva, os animais recolhidos serão mantidos em observação pelo período preconizado (seis meses). Caso contrário, teremos que fazer a eutanásia", diz Salma.

A enfermeira explica que a área candidata a receber os animais precisa passar por uma reforma para ter condições técnicas e de segurança para não haver risco para outros animais e para as pessoas.

A raiva é uma doença fatal que ataca todos os mamíferos. É transmitida pelo contato de um animal contaminado para outro mamífero por meio de mordedura, lambedura ou arranhão. De acordo com o médico veterinário Ricardo Conde Rodrigues, do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Campinas, é possível que algum dos animais que vivem soltos no bosque funcione como um elo de ligação entre o morcego contaminado e um ser humano ou qualquer outro tipo de animal mamífero.

Ricardo afirma que antes do animal desenvolver os sintomas não há como saber se ele está ou não incubando o vírus da raiva. "Isso só é possível na fase terminal da doença. Então é provável que haja um gato ou mais incubando o vírus rábico, sendo assim um potencial transmissor para o humano ou para outros animais", diz o veterinário.

Desde o início de 2003, quatro casos de raiva em morcegos foram registrados no município, sendo dois na área de Barão Geraldo, um na Região Sul e o caso confirmado há 20 dias no Proença, na área do Bosque. A Secretaria ainda aguarda o resultado laboratorial de um outro morcego encontrado também na região do bosque.

O último caso de raiva em humano em Campinas foi registrado em 1981. Em cão, a última ocorrência foi em 82 e, em gato, em 2000. "O controle da doença na cidade só é possível porque a cada suspeita o município desencadeia todas as ações de bloqueio. Também mantemos campanha de vacinação anual gratuita", afirma a médica sanitarista Tereza de Jesus Martins, coordenadora do Distrito de Saúde Sul.

Equipes da Zoonoses visitaram 464 endereços da área do bosque em ação de bloqueio de raiva

Desde 15 de julho, equipes do CCZ de Campinas vacinaram 144 cães e 30 gatos contra a raiva na área do Bosque dos Jequitibás. Os profissionais visitaram, durante a ação, 464 residências localizadas num raio de 500 metros nas imediações da rua 29 de Janeiro, no bairro Proença, Região Leste da cidade.

As equipes também conversaram com moradores para esclarecê-los quanto aos riscos da doença e informá-los sobre a necessidade de proteger seus animais e como proceder se encontrar algum morcego vivo ou morto.

As providências foram adotadas após a confirmação da raiva em um morcego não hematófago no local. O conjunto de medidas, tecnicamente chamado de bloqueio de foco de raiva, é necessário para prevenir o surgimento de outros casos da doença.

Cidade enfrenta epizootia de raiva animal desde 2000

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, Campinas enfrenta epizootia de raiva em herbívoros desde 2000, quando a doença atingiu animais no Distrito de Joaquim Egídio, na Região Leste da cidade.

Em 2001, a doença atingiu também Souzas e a área rural do Taquaral, quando a Secretaria de Saúde confirmou 30 casos de raiva, distribuídos entre bovinos, eqüinos e quirópteros - morcegos. Em 2002, foram 27 casos, sendo três em morcegos e o restante em bois e cavalos. Este ano, já foram confirmados quatro casos, todos em morcegos.

De acordo com a médica veterinária Jeanette Trigo Nasser, coordenadora do CCZ de Campinas, a ocorrência da raiva em animais que convivem próximos ao ser humano aumenta a possibilidade da doença, sempre fatal, atingir o homem.

"Por isso, é importante que as pessoas informem o Centro de Saúde, o CCZ ou, se a ocorrência for na área rural, o Escritório de Defesa Agropecuária (EDA) se algum animal morrer com suspeita de raiva ou por outro motivo desconhecido", diz.

Segundo Jeanette, o controle da raiva dos herbívoros deve ser feito por meio de vacinação dos rebanhos e do controle da população de morcegos. A vacinação em animais de grande porte é de responsabilidade do proprietário. Em áreas onde ocorre epizootia a revacinação é obrigatória e deve ser feita a cada seis meses.

"Outra medida importante no controle da raiva é a vacinação de cães e gatos", afirma. A veterinária informa que, em Campinas, a Prefeitura promove campanha de vacinação contra a raiva para estes animais todo ano. Além disso, o Centro de Controle de Zoonoses mantém a vacinação o ano inteiro. As doses são gratuitas.

Jeanette afirma que também é importante que a população contribua para diminuir o número de animais abandonados que perambulam pelas ruas da cidade e evite crias indesejáveis. "As crias podem ser evitadas prendendo a fêmea no cio ou por meio da castração", finaliza.

Confira as datas da Campanha de vacinação contra a raiva animal em Campinas:

13 e 14 de setembro: região Noroeste
20 e 21 de setembro: região Sul
27 e 28 de setembro: região Sudoeste
4 e 5 de outubro: região Leste
18 e 19 de outubro: região Norte

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