A
Secretaria de Saúde de Campinas elaborou, nesta
sexta-feira, dia 4 de agosto, um conjunto de medidas
para reforçar ainda mais a investigação e o controle
de febre maculosa, leptospirose e dengue no Núcleo
Residencial Jardim Eulina, região norte da cidade,
bairro em que a Coordenadoria de Vigilância em Saúde
(Covisa) do município investiga um surto dessas
doenças.
Desde
a última terça-feira, oito casos suspeitos foram
notificados entre moradores da comunidade. Um homem
de 43 anos morreu com os sintomas no Hospital das
Clinicas da Unicamp, na última segunda-feira. Outra
morte, de um homem de 62, foi registrada no dia 23
de junho no Hospital de Hortolândia. Três pessoas
estão internadas, sendo uma mulher de 26 anos, um
homem de 61 e uma criança de 2 anos, com sintomas da
mesma doença. Tem ainda dois jovens, de 15 e 19
anos, e uma criança de 3 anos que estão em
tratamento ambulatorial.
De
acordo com a enfermeira sanitarista Brigina Kemp,
coordenadora da Vigilância Epidemiológica da Covisa,
a Secretaria ainda não descarta a hipótese de
leptospirose e dengue. No entanto, pela
característica clínica e exposição a carrapatos
possivelmente no mesmo local, o mais provável é que
seja febre maculosa.
As
três doenças têm sintomas iniciais semelhantes:
febre, dor no corpo e dor de cabeça e mal-estar
geral. Além disso, todas as pessoas freqüentaram num
curto espaço de tempo o mesmo ambiente que oferece
risco para as três infecções. No local há
carrapatos-estrela, conforme apontou pesquisa da
Sucen, ratos em meio ao lixo e material reciclavel e
infestação do mosquito Aedes aegypti,
informa.
Todos
os doentes estão devidamente assistidos e o reforço
da assistência médica no Centro de Saúde Eulina está
mantida. A investigação clínica e laboratorial para
conclusão dos casos está em andamento, sendo que os
exames serão processados pelo laboratório do
Instituto Adolfo Lutz em São Paulo e os primeiros
resultados devem estar prontos em 15 dias.
Estratégia. As medidas de reforço definidas hoje
incorporam intensificação das ações de vigilância
epidemiológica, sanitária e ambiental, com combate
aos vetores; assistência e acompanhamento da
evolução dos pacientes; ações de educação em saúde,
comunicação e mobilização social, acompanhamento e
avaliação do trabalho.
A
estratégia foi articulada com praticamente todos os
atores envolvidos: Exército - representado pela 11ª
Brigada de Infantaria Leve -, que é dono da área
próxima freqüentada pela comunidade para atividades
de lazer; Divisão de Zoonoses do Centro de
Vigilância Epidemiológica Estadual (CVE); Programa
de Epidemiologia Aplicada aos Serviços de Saúde
(Episus); Direção Regional de Saúde (Dir XII) e
Superintendência de Controle de Endemias.
Pela
Secretaria de Saúde participaram chefe de gabinete
do Secretário de Saúde, técnicos do Centro de
Controle de Zoonoses (CCZ), da Covisa e das
Vigilâncias em Saúde (Visa) Norte e Sul. Também
participaram representantes da Administração
Regional da área. Este trabalho coordenado e em
parceria com todos os responsáveis é muito
importante porque garante ações mais efetivas, diz a
enfermeira sanitarista Salma Balista, diretora da
Covisa.
Na
prática, informa Salma, ficou definida a restrição
da área por meio de colocação de alambrado e cerca
viva. No entanto, para que essa medida seja eficaz,
é necessário participação da população no sentido de
preservar a cerca. Para isto, haverá ações de
conscientização com a comunidade, diz.
Também
vão ser reforçadas medidas de orientação para os
moradores quanto às doenças envolvidas, fatores de
riscos e medidas de prevenção e controle. O Exército
também vai desenvolver trabalho educativo com os
soldados.
Além
disso, a Sucen vai encaminhar para o Ibama um laudo
da investigação de foco de carrapato realizada no
local e que apontou presença de larvas, ninfas e
adultos em grande quantidade do carrapato-estrela -
Amblyomma cajennense , vetor da febre
maculosa. A intensão é que este laudo embase
decisões para o controle da população de capivaras e
carrapatos naquela área.
Uma
outra frente de trabalho será no sentido de
averiguar se houve na área mudanças ambientais que
propiciaram esta situação de surto. Ainda serão
divulgados informes técnicos para a rede pública
municipal de saúde e para todos os hospitais de
Campinas e de municípios vizinhos com o objetivo de
atualizar as equipes sobre a situação da febre
maculosa na região, epidemiologia, sintomas,
tratamento e necessidade dos profissionais pensarem,
suspeitarem, tratarem precocemente e notificarem os
casos.
Saiba
mais sobre a febre maculosa
O que
é?
A febre maculosa brasileira (FMB) é uma doença
infecciosa febril aguda, transmitida por carrapatos,
podendo cursar desde formas assintomáticas ou leves
até formas graves, evoluindo com complicações
hemorrágicas e elevada taxa de letalidade. É causada
por uma bactéria do gênero Rickttesia (R. rickettsii).
É doença de notificação compulsória, devendo ser
informada pelo meio mais rápido disponível, e de
investigação epidemiológica com busca ativa, para
evitar a ocorrência de novos casos e óbitos.
Quais os sintomas?
A doença pode ser de difícil diagnóstico, sobretudo
em sua fase inicial, mesmo entre profissionais
bastante experientes. O início geralmente é abrupto
e os sintomas são inicialmente inespecíficos,
incluindo febre, cefaléia, mialgia intensa,
mal-estar generalizado, náuseas e vômitos. Em geral,
entre o segundo e o sexto dia da doença, surge o
exantema máculo-papular, predominante nos membros
superiores e inferiores. Nos casos
graves, é comum a presença de edema de membros
inferiores, hepatoesplenomegalia, manifestações
gastrointestinais (como náuseas, vômitos, dor
abdominal e diarréia), manifestações renais (com
oligúria e insuficiência renal aguda), manifestações
pulmonares (com tosse, edema pulmonar, pneumonia
intersticial e derrame pleural), manifestações
neurológicas e hemorrágicas (como petéquias,
sangramento muco-cutâneo,
digestivo e pulmonar).
Como se transmite?
Pela picada de carrapato infectado. A transmissão
ocorre se o mesmo permanecer aderido à pele por um
período mínimo variando entre 4 e 6 horas. A doença
não é transmitida de pessoa para pessoa.
Como tratar?
O tratamento consiste na administração precoce de
antibióticos (clorafenicol
e/ou doxiciclina). Casos de pacientes não tratados
precocemente podem evoluir para formas graves e
cerca de 80% deles chegam ao óbito.
Como se prevenir?
A população deve evitar as áreas infestadas por
carrapatos. Sempre que possível, devem ser usadas
calças e camisas de mangas compridas e roupas claras
para facilitar a visualização. Também é aconselhável
a inspeção do corpo para verificar a presença de
carrapatos. A limpeza de pastos e a capina da
vegetação podem trazer alguns resultados no controle
da população de carrapatos.
Em
Campinas
Campinas notificou o primeiro caso da doença em 1995
e, desde então, foram confirmados 28 casos, com sete
óbitos. Em 2005, foram quatro casos, sem óbitos. Em
2004, 8, também sem mortes. Este ano, já foram
notificados 130 casos suspeitos e não houve
confirmações ainda.
Denize
Assis