Prefeitura define medidas para reforçar controle de febre maculosa e leptospirose no Núcleo Residencial Jardim Eulina

04/08/2006

A Secretaria de Saúde de Campinas elaborou, nesta sexta-feira, dia 4 de agosto, um conjunto de medidas para reforçar ainda mais a investigação e o controle de febre maculosa, leptospirose e dengue no Núcleo Residencial Jardim Eulina, região norte da cidade, bairro em que a Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) do município investiga um surto dessas doenças.

Desde a última terça-feira, oito casos suspeitos foram notificados entre moradores da comunidade. Um homem de 43 anos morreu com os sintomas no Hospital das Clinicas da Unicamp, na última segunda-feira. Outra morte, de um homem de 62, foi registrada no dia 23 de junho no Hospital de Hortolândia. Três pessoas estão internadas, sendo uma mulher de 26 anos, um homem de 61 e uma criança de 2 anos, com sintomas da mesma doença. Tem ainda dois jovens, de 15 e 19 anos, e uma criança de 3 anos que estão em tratamento ambulatorial.

De acordo com a enfermeira sanitarista Brigina Kemp, coordenadora da Vigilância Epidemiológica da Covisa, a Secretaria ainda não descarta a hipótese de leptospirose e dengue. No entanto, pela característica clínica e exposição a carrapatos possivelmente no mesmo local, o mais provável é que seja febre maculosa.

As três doenças têm sintomas iniciais semelhantes: febre, dor no corpo e dor de cabeça e mal-estar geral. Além disso, todas as pessoas freqüentaram num curto espaço de tempo o mesmo ambiente que oferece risco para as três infecções. No local há carrapatos-estrela, conforme apontou pesquisa da Sucen, ratos em meio ao lixo e material reciclavel e infestação do mosquito Aedes aegypti, informa.

Todos os doentes estão devidamente assistidos e o reforço da assistência médica no Centro de Saúde Eulina está mantida. A investigação clínica e laboratorial para conclusão dos casos está em andamento, sendo que os exames serão processados pelo laboratório do Instituto Adolfo Lutz em São Paulo e os primeiros resultados devem estar prontos em 15 dias.

Estratégia. As medidas de reforço definidas hoje incorporam intensificação das ações de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental, com combate aos vetores; assistência e acompanhamento da evolução dos pacientes; ações de educação em saúde, comunicação e mobilização social, acompanhamento e avaliação do trabalho.

A estratégia foi articulada com praticamente todos os atores envolvidos: Exército - representado pela 11ª Brigada de Infantaria Leve -, que é dono da área próxima freqüentada pela comunidade para atividades de lazer; Divisão de Zoonoses do Centro de Vigilância Epidemiológica Estadual (CVE); Programa de Epidemiologia Aplicada aos Serviços de Saúde (Episus); Direção Regional de Saúde (Dir XII) e Superintendência de Controle de Endemias.

Pela Secretaria de Saúde participaram chefe de gabinete do Secretário de Saúde, técnicos do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Covisa e das Vigilâncias em Saúde (Visa) Norte e Sul. Também participaram representantes da Administração Regional da área. Este trabalho coordenado e em parceria com todos os responsáveis é muito importante porque garante ações mais efetivas, diz a enfermeira sanitarista Salma Balista, diretora da Covisa.

Na prática, informa Salma, ficou definida a restrição da área por meio de colocação de alambrado e cerca viva. No entanto, para que essa medida seja eficaz, é necessário participação da população no sentido de preservar a cerca. Para isto, haverá ações de conscientização com a comunidade, diz.

Também vão ser reforçadas medidas de orientação para os moradores quanto às doenças envolvidas, fatores de riscos e medidas de prevenção e controle. O Exército também vai desenvolver trabalho educativo com os soldados.

Além disso, a Sucen vai encaminhar para o Ibama um laudo da investigação de foco de carrapato realizada no local e que apontou presença de larvas, ninfas e adultos em grande quantidade do carrapato-estrela - Amblyomma cajennense , vetor da febre maculosa. A intensão é que este laudo embase decisões para o controle da população de capivaras e carrapatos naquela área.

Uma outra frente de trabalho será no sentido de averiguar se houve na área mudanças ambientais que propiciaram esta situação de surto. Ainda serão divulgados informes técnicos para a rede pública municipal de saúde e para todos os hospitais de Campinas e de municípios vizinhos com o objetivo de atualizar as equipes sobre a situação da febre maculosa na região, epidemiologia, sintomas, tratamento e necessidade dos profissionais pensarem, suspeitarem, tratarem precocemente e notificarem os casos.

Saiba mais sobre a febre maculosa

O que é?

A febre maculosa brasileira (FMB) é uma doença infecciosa febril aguda, transmitida por carrapatos, podendo cursar desde formas assintomáticas ou leves até formas graves, evoluindo com complicações hemorrágicas e elevada taxa de letalidade. É causada por uma bactéria do gênero Rickttesia (R. rickettsii). É doença de notificação compulsória, devendo ser informada pelo meio mais rápido disponível, e de investigação epidemiológica com busca ativa, para evitar a ocorrência de novos casos e óbitos.

Quais os sintomas?

A doença pode ser de difícil diagnóstico, sobretudo em sua fase inicial, mesmo entre profissionais bastante experientes. O início geralmente é abrupto e os sintomas são inicialmente inespecíficos, incluindo febre, cefaléia, mialgia intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos. Em geral, entre o segundo e o sexto dia da doença, surge o exantema máculo-papular, predominante nos membros superiores e inferiores. Nos casos
graves, é comum a presença de edema de membros inferiores, hepatoesplenomegalia, manifestações gastrointestinais (como náuseas, vômitos, dor abdominal e diarréia), manifestações renais (com oligúria e insuficiência renal aguda), manifestações pulmonares (com tosse, edema pulmonar, pneumonia intersticial e derrame pleural), manifestações neurológicas e hemorrágicas (como petéquias, sangramento muco-cutâneo, digestivo e pulmonar).

Como se transmite?

Pela picada de carrapato infectado. A transmissão ocorre se o mesmo permanecer aderido à pele por um período mínimo variando entre 4 e 6 horas. A doença não é transmitida de pessoa para pessoa.

Como tratar?

O tratamento consiste na administração precoce de antibióticos (clorafenicol e/ou doxiciclina).  Casos de pacientes não tratados precocemente podem evoluir para formas graves e cerca de 80% deles chegam ao óbito.

Como se prevenir?

A população deve evitar as áreas infestadas por carrapatos. Sempre que possível, devem ser usadas calças e camisas de mangas compridas e roupas claras para facilitar a visualização. Também é aconselhável a inspeção do corpo para verificar a presença de carrapatos. A limpeza de pastos e a capina da vegetação podem trazer alguns resultados no controle da população de carrapatos.

Em Campinas

Campinas notificou o primeiro caso da doença em 1995 e, desde então, foram confirmados 28 casos, com sete óbitos. Em 2005, foram quatro casos, sem óbitos. Em 2004, 8, também sem mortes. Este ano, já foram notificados 130 casos suspeitos e não houve confirmações ainda.

Denize Assis

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