A
Prefeitura de Campinas iniciou nesta terça-feira, 8 de
agosto, os trabalhos para criar um acero que vai servir
de cordão sanitário de proteção entre a fazenda do
Exército e o Núcleo Residencial Jardim Eulina, na região
norte da cidade, bairro onde a Secretaria Municipal de
Saúde investiga um surto provável por febre maculosa.
Até o
momento, 17 casos suspeitos da doença foram notificados,
dos quais três evoluíram para óbito, dois ainda estão
internados e os demais estão em tratamento ambulatorial.
A hipótese diagnóstica mais provável é febre maculosa,
mas também estão sendo investigadas leptospirose e
dengue. A faixa etária dos doentes varia entre 2 e 62
anos, sendo a maioria adultos. Todos os pacientes têm
histórico de contato com carrapato na mesma região. O
primeiro caso teve início de sintomas em 16 de julho.
O acero
está sendo construído numa faixa de aproximadamente 2
quilômetros por 20 metros de largura. Na área, toda
vegetação é roçada e parte da terra removida. O objetivo
é expor a faixa ao sol para matar as larvas e ninfas do
carrapato-estrela, vetor da febre maculosa. O carrapato
sobrevive muito pouco quando exposto ao sol e, nesta
faixa, vai morrer por insolação, explica o médico
veterinário Cláudio Castagna, que integra a equipe que
trabalha no local.
Nesta
terça-feira, 8, 35 pessoas entre técnicos da saúde e da
Superintendência de Controle de Endemias (Sucen),
integrantes da Administração Regional (AR) 11 e Ecocamp
trabalharam na construção do acero. Foram usadas três
máquinas uma patrola, uma plaina e uma roçadeira.
Médicos
veterinários, enfermeiros, biólogo e técnico em
agropecuária acompanharam o trabalho para orientar as
equipes e reduzir ao mínimo o risco de exposição dos
trabalhadores ao carrapato, já que a área é muito
infestada. Os operários foram treinados antes de sair em
campo e usam equipamento de proteção individual (EPI)
durante a tarefa. Também receberam sabonete à base de
deltametrina para evitar o parasitismo. A área é extensa
e o trabalho é difícil. Somente para a construção do
acero a previsão é de uma semana de trabalhos intensos,
informa Cláudio.
O prefeito
Hélio de Oliveira Santos e o secretário municipal de
Saúde, José Francisco Kerr Saraiva, estiveram no local
para conferir os trabalhos. A enfermeira sanitarista
Salma Balista, diretora da Coordenadoria de Vigilância
em Saúde (Covisa) também acompanhou a ação.
População
canina
Na próxima
quinta-feira, 10, a Secretaria inicia na comunidade o
cadastramento e avaliação da população canina. Os
proprietários dos cães serão orientados e os animais
avaliados com relação ao parasitismo.
Segundo a
médica veterinária Tosca de Lucca, da Visa Norte, as
equipes vão coletar amostras para saber o que está
predominando na população canina, se o Amblyomma
cajennense (carrapato-estrela, vetor da febre
maculosa) ou o Rhipicephalus sagüineus (carrapato
de cachorro, que não transmite a doença).
O objetivo
é descobrir se o cão - que assim como o homem é um
hospedeiro ocasional do carrapato-estrela - está sendo
responsável pela dispersão do Amblyoma na
comunidade. A maioria dos cães da comunidade é
semi-domiciliada e tem livre trânsito na área de risco
podendo estar dispersando carrapato-estrela na
comunidade. Por isso, nosso objetivo principal nesta
ação é conscientizar os moradores em relação aos
cuidados e necessidade de manter os animais
domiciliados, diz a médica veterinária.
Mobilização social
A
Secretaria também intensificou as ações de mobilização e
comunicação social no Núcleo. As atividades de educação
em saúde, que já vinham sendo realizadas casa-a-casa
desde a semana passada, foram reforçadas através de
várias mídias, como carros de som que começaram a
circular ontem, dia 7, na comunidade. Serão fixadas
placas com alertas sobre as áreas de risco. O Conselho
Local de Saúde do Centro de Saúde Eulina foi informado
sobre todas as ações.
Também
hoje, a Secretaria divulgou documento técnico para
equipes de toda rede de saúde do município com informe
sobre a doença, epidemiologia e situação atual na cidade
no Eulina e em outras áreas. O comunicado reforça que as
equipes de saúde devem estar atentas porque esta é a
época de aumento de casos.
O
secretário de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva,
reforçou hoje que além da Prefeitura - que pode fazer a
limpeza urbana, atendimento aos doentes, desencadear
ações de vigilância, mobilizar escolas e outros setores
responsáveis - a população tem que ter consciência da
importância de medidas como não entrar na área da lagoa,
de vegetação e mato que são os locais de maior
infestação de carrapato e não deixar os animais
transitarem por estes locais.
Não existe
vacina contra a febre maculosa. Também há um consenso
técnico de que não é possível eliminar totalmente o
carrapato do meio ambiente. Portanto, na ausência de
armas definitivas, cabe ao poder público desencadear
ações de prevenção e controle da doença e assistência
aos pacientes. À população, repito, cabe
conscientizar-se de que áreas de risco não devem ser
freqüentadas, do contrário todo nosso trabalho não tem
eficácia, diz Saraiva.
Denize
Assis