Prefeitura inicia construção de acero que vai servir de cordão sanitário no Eulina

08/08/2006

A Prefeitura de Campinas iniciou nesta terça-feira, 8 de agosto, os trabalhos para criar um acero que vai servir de cordão sanitário de proteção entre a fazenda do Exército e o Núcleo Residencial Jardim Eulina, na região norte da cidade, bairro onde a Secretaria Municipal de Saúde investiga um surto provável por febre maculosa.

Até o momento, 17 casos suspeitos da doença foram notificados, dos quais três evoluíram para óbito, dois ainda estão internados e os demais estão em tratamento ambulatorial. A hipótese diagnóstica mais provável é febre maculosa, mas também estão sendo investigadas leptospirose e dengue. A faixa etária dos doentes varia entre 2 e 62 anos, sendo a maioria adultos. Todos os pacientes têm histórico de contato com carrapato na mesma região. O primeiro caso teve início de sintomas em 16 de julho.

O acero está sendo construído numa faixa de aproximadamente 2 quilômetros por 20 metros de largura. Na área, toda vegetação é roçada e parte da terra removida. O objetivo é expor a faixa ao sol para matar as larvas e ninfas do carrapato-estrela, vetor da febre maculosa. O carrapato sobrevive muito pouco quando exposto ao sol e, nesta faixa, vai morrer por insolação, explica o médico veterinário Cláudio Castagna, que integra a equipe que trabalha no local.

Nesta terça-feira, 8, 35 pessoas entre técnicos da saúde e da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), integrantes da Administração Regional (AR) 11 e Ecocamp trabalharam na construção do acero. Foram usadas três máquinas uma patrola, uma plaina e uma roçadeira.

Médicos veterinários, enfermeiros, biólogo e técnico em agropecuária acompanharam o trabalho para orientar as equipes e reduzir ao mínimo o risco de exposição dos trabalhadores ao carrapato, já que a área é muito infestada. Os operários foram treinados antes de sair em campo e usam equipamento de proteção individual (EPI) durante a tarefa. Também receberam sabonete à base de deltametrina para evitar o parasitismo. A área é extensa e o trabalho é difícil. Somente para a construção do acero a previsão é de uma semana de trabalhos intensos, informa Cláudio.

O prefeito Hélio de Oliveira Santos e o secretário municipal de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva, estiveram no local para conferir os trabalhos. A enfermeira sanitarista Salma Balista, diretora da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) também acompanhou a ação.

População canina

Na próxima quinta-feira, 10, a Secretaria inicia na comunidade o cadastramento e avaliação da população canina. Os proprietários dos cães serão orientados e os animais avaliados com relação ao parasitismo.

Segundo a médica veterinária Tosca de Lucca, da Visa Norte, as equipes vão coletar amostras para saber o que está predominando na população canina, se o Amblyomma cajennense (carrapato-estrela, vetor da febre maculosa) ou o Rhipicephalus sagüineus (carrapato de cachorro, que não transmite a doença).

O objetivo é descobrir se o cão - que assim como o homem é um hospedeiro ocasional do carrapato-estrela - está sendo responsável pela dispersão do Amblyoma na comunidade. A maioria dos cães da comunidade é semi-domiciliada e tem livre trânsito na área de risco podendo estar dispersando carrapato-estrela na comunidade. Por isso, nosso objetivo principal nesta ação é conscientizar os moradores em relação aos cuidados e necessidade de manter os animais domiciliados, diz a médica veterinária.

Mobilização social

A Secretaria também intensificou as ações de mobilização e comunicação social no Núcleo. As atividades de educação em saúde, que já vinham sendo realizadas casa-a-casa desde a semana passada, foram reforçadas através de várias mídias, como carros de som que começaram a circular ontem, dia 7, na comunidade. Serão fixadas placas com alertas sobre as áreas de risco. O Conselho Local de Saúde do Centro de Saúde Eulina foi informado sobre todas as ações.

Também hoje, a Secretaria divulgou documento técnico para equipes de toda rede de saúde do município com informe sobre a doença, epidemiologia e situação atual na cidade no Eulina e em outras áreas. O comunicado reforça que as equipes de saúde devem estar atentas porque esta é a época de aumento de casos.

O secretário de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva, reforçou hoje que além da Prefeitura - que pode fazer a limpeza urbana, atendimento aos doentes, desencadear ações de vigilância, mobilizar escolas e outros setores responsáveis - a população tem que ter consciência da importância de medidas como não entrar na área da lagoa, de vegetação e mato que são os locais de maior infestação de carrapato e não deixar os animais transitarem por estes locais.

Não existe vacina contra a febre maculosa. Também há um consenso técnico de que não é possível eliminar totalmente o carrapato do meio ambiente. Portanto, na ausência de armas definitivas, cabe ao poder público desencadear ações de prevenção e controle da doença e assistência aos pacientes. À população, repito, cabe conscientizar-se de que áreas de risco não devem ser freqüentadas, do contrário todo nosso trabalho não tem eficácia, diz Saraiva.

Denize Assis

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