A
Prefeitura de Campinas iniciou na tarde desta
quinta-feira, 10 de agosto, cadastramento e avaliação da
população canina no Núcleo Residencial Jardim Eulina, na
região norte da cidade, bairro onde a Secretaria
Municipal de Saúde investiga um surto provável por febre
maculosa. A ação é desenvolvida por equipes do Distrito
de Saúde Norte.
Um dos
objetivos é descobrir se o cão está sendo responsável
pela dispersão do Amblyomma cajennense
(carrapato-estrela, vetor da febre maculosa) na
comunidade.
Segundo a
médica veterinária Tosca de Lucca, da Visa Norte, as
equipes vão coletar amostras para saber o que está
predominando na população canina, se o Amblyomma
ou o Rhipicephalus sagüineus (carrapato de
cachorro, que não transmite a doença).
Além de
avaliar os animais em relação ao parasitismo, os
profissionais vão orientar os proprietários sobre a
necessidade de manter o cão domiciliado e vacinado e da
necessidade da utilização de guia e coleira quando for
sair com ele na rua, entre outras informações sobre
posse responsável.
Segundo
Tosca, inicialmente a programação é visitar 258
domicílios nos quarteirões próximos a área de risco para
a febre maculosa, que é toda área de vegetação e mato na
extensão contígua à lagoa.
A
receptividade da comunidade foi muito boa neste primeiro
dia de atividades. As pessoas se dispuseram a ouvir as
orientações e não ouve recusas. Isto é muito importante,
agiliza e torna o trabalho muito mais eficaz já que o
principal objetivo é conscientizar os moradores em
relação aos cuidados, necessidade de manter os animais
domiciliados e principalmente de não deixá-los transitar
pela área de risco, diz Tosca.
A
veterinária informou que foram colhidas amostras de
carrapatos para pesquisa que será feita pelo Centro de
Controle de Zoonoses (CCZ). Os trabalhos prosseguem
nesta sexta-feira, 11.
Barreira
Além das
equipes que atuaram em campo no cadastramento da
população canina, outras 60 pessoas atuaram nesta
quinta-feira na limpeza da área e construção do acero
que vai servir de cordão sanitário de proteção entre a
fazenda do Exército e o Núcleo Residencial Eulina.
Com apoio
da Ecocamp, foram retirados quatro caminhões de entulhos
e outros resíduos. A área foi roçada e a terra removida.
O acero
está sendo construído numa faixa de aproximadamente 2
quilômetros por 20 metros de largura. O objetivo é expor
a faixa ao sol para matar as larvas e ninfas do
carrapato-estrela. O carrapato sobrevive muito pouco
quando exposto ao sol e, nesta faixa, vai morrer por
insolação, explica o médico veterinário da Visa
Sudoeste, Cláudio Castagna, que integra a equipe que
trabalha no local.
Ações
complementares
Em outra
frente de trabalho, a Prefeitura reuniu nesta
quinta-feira as secretarias de Saúde - por meio da
Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) e Distrito
de Saúde Norte - e de Cooperação nos Assuntos de
Segurança Pública - por meio da Guarda Municipal e
Defesa Civil -, Superintendência de Controle de Endemias
(Sucen), Exército e CPFL para planejar ações
complementares para o controle e prevenção da febre
maculosa no Eulina.
Algumas
ações são imediatas e outras de médio e longo prazo,
levando em conta que a área do Eulina é classificada
como de risco para a febre maculosa, segundo apontou a
própria Sucen. Incluem intervenção ambiental - com
controle e redução da população de capivaras e da
infestação de carrapatos - e em relação a outros
hospedeiros, como o cavalo e o cão. E todo o trabalho
será feito considerando as necessidades da população
local, informa o secretário municipal de Saúde, José
Francisco Kerr Saraiva. O secretário também participou
da reunião. Os detalhes vão ser acertados em outra
reunião na manhã desta sexta-feira, 11.
Saraiva
ressaltou a necessidade de manter a integração entre as
ações de vigilância epidemiológica, assistência adequada
aos pacientes, vigilância ambiental e comunicação em
saúde para obter êxito no combate à doença. Afirmou
também que o envolvimento da população é essencial neste
momento.
A
população tem que ter consciência da importância de não
freqüentar as áreas de vegetação e mato, que é onde há
infestação de carrapatos. Não existe vacina contra a
febre maculosa. Também há um consenso técnico de que não
é possível eliminar totalmente o carrapato do meio
ambiente. Portanto, na ausência de armas definitivas,
cabe ao poder público desencadear ações de prevenção e
controle da doença e assistência aos pacientes. À
população, repito, cabe conscientizar-se de que áreas de
risco não devem ser freqüentadas, do contrário todo
nosso trabalho não tem eficácia, diz Saraiva.
Entenda
o caso
Até o
momento, 17 casos suspeitos de febre maculosa foram
notificados entre moradores do Núcleo Residencial
Eulina. Entre eles, três evoluíram para óbito, dois
ainda estão internados e os demais estão em tratamento
ambulatorial. A hipótese diagnóstica mais provável é
febre maculosa, mas também estão sendo investigadas
leptospirose e dengue. A faixa etária dos doentes varia
entre 2 e 62 anos, sendo a maioria adultos. Todos os
pacientes têm histórico de contato com carrapato na
mesma região. O primeiro caso teve início de sintomas em
16 de julho.
Saiba mais
O que é?
A febre maculosa brasileira (FMB) é uma doença
infecciosa febril aguda, transmitida por carrapatos,
podendo cursar desde formas assintomáticas ou leves até
formas graves, evoluindo com complicações hemorrágicas e
elevada taxa de letalidade. É causada por uma bactéria
do gênero Rickttesia (R. rickettsii). É doença de
notificação compulsória, devendo ser informada pelo meio
mais rápido disponível, e de investigação epidemiológica
com busca ativa, para evitar a ocorrência de novos casos
e óbitos.
Quais os sintomas?
A doença pode ser de difícil diagnóstico, sobretudo em
sua fase inicial, mesmo entre profissionais bastante
experientes. O início geralmente é abrupto e os sintomas
são inicialmente inespecíficos, incluindo febre,
cefaléia, mialgia intensa, mal-estar generalizado,
náuseas e vômitos. Em geral, entre o segundo e o sexto
dia da doença, surge o exantema máculo-papular,
predominante nos membros superiores e inferiores. Nos
casos
graves, é comum a presença de edema de membros
inferiores, hepatoesplenomegalia, manifestações
gastrointestinais (como náuseas, vômitos, dor abdominal
e diarréia), manifestações renais (com oligúria e
insuficiência renal aguda), manifestações pulmonares
(com tosse, edema pulmonar, pneumonia intersticial e
derrame pleural), manifestações
neurológicas e hemorrágicas (como petéquias, sangramento
muco-cutâneo,
digestivo e pulmonar).
Como se transmite?
Pela picada de carrapato infectado. A transmissão ocorre
se o mesmo permanecer aderido à pele por um período
mínimo variando entre 4 e 6 horas. A doença não é
transmitida de pessoa para pessoa.
Como tratar?
O tratamento consiste na administração precoce de
antibióticos (clorafenicol
e/ou doxiciclina). Casos de pacientes não tratados
precocemente podem evoluir para formas graves e cerca de
80% deles chegam ao óbito.
Como se prevenir?
A população deve evitar as áreas infestadas por
carrapatos. Sempre que possível, devem ser usadas calças
e camisas de mangas compridas e roupas claras para
facilitar a visualização. Também é aconselhável a
inspeção do corpo para verificar a presença de
carrapatos. A limpeza de pastos e a capina da vegetação
podem trazer alguns resultados no controle da população
de carrapatos.
Em
Campinas
Campinas
notificou o primeiro caso da doença em 1995 e, desde
então, foram confirmados 33 casos, com oito óbitos. Em
2005, foram sete casos, com um óbito. Em 2004, 10, sem
mortes, sendo que uma das ocorrências é de morador de
Campinas que contraiu a doença em outro município. Este
ano, já foram notificados 135 casos suspeitos e não
houve confirmações ainda. Do total de suspeitos, quatro
morreram, sendo três moradores do Eulina e um do São Domingos.