Saúde inicia cadastramento de cães no Núcleo do Eulina

10/08/2006

Ação integra trabalhos da força-tarefa para controle da febre maculosa naquela comunidade

A Prefeitura de Campinas iniciou na tarde desta quinta-feira, 10 de agosto, cadastramento e avaliação da população canina no Núcleo Residencial Jardim Eulina, na região norte da cidade, bairro onde a Secretaria Municipal de Saúde investiga um surto provável por febre maculosa. A ação é desenvolvida por equipes do Distrito de Saúde Norte.

Um dos objetivos é descobrir se o cão está sendo responsável pela dispersão do Amblyomma cajennense (carrapato-estrela, vetor da febre maculosa) na comunidade.

Segundo a médica veterinária Tosca de Lucca, da Visa Norte, as equipes vão coletar amostras para saber o que está predominando na população canina, se o Amblyomma ou o Rhipicephalus sagüineus (carrapato de cachorro, que não transmite a doença).

Além de avaliar os animais em relação ao parasitismo, os profissionais vão orientar os proprietários sobre a necessidade de manter o cão domiciliado e vacinado e da necessidade da utilização de guia e coleira quando for sair com ele na rua, entre outras informações sobre posse responsável.

Segundo Tosca, inicialmente a programação é visitar 258 domicílios nos quarteirões próximos a área de risco para a febre maculosa, que é toda área de vegetação e mato na extensão contígua à lagoa.

A receptividade da comunidade foi muito boa neste primeiro dia de atividades. As pessoas se dispuseram a ouvir as orientações e não ouve recusas. Isto é muito importante, agiliza e torna o trabalho muito mais eficaz já que o principal objetivo é conscientizar os moradores em relação aos cuidados, necessidade de manter os animais domiciliados e principalmente de não deixá-los transitar pela área de risco, diz Tosca.

A veterinária informou que foram colhidas amostras de carrapatos para pesquisa que será feita pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Os trabalhos prosseguem nesta sexta-feira, 11.

Barreira

Além das equipes que atuaram em campo no cadastramento da população canina, outras 60 pessoas atuaram nesta quinta-feira na limpeza da área e construção do acero que vai servir de cordão sanitário de proteção entre a fazenda do Exército e o Núcleo Residencial Eulina.

Com apoio da Ecocamp, foram retirados quatro caminhões de entulhos e outros resíduos. A área foi roçada e a terra removida.

O acero está sendo construído numa faixa de aproximadamente 2 quilômetros por 20 metros de largura. O objetivo é expor a faixa ao sol para matar as larvas e ninfas do carrapato-estrela. O carrapato sobrevive muito pouco quando exposto ao sol e, nesta faixa, vai morrer por insolação, explica o médico veterinário da Visa Sudoeste, Cláudio Castagna, que integra a equipe que trabalha no local.

Ações complementares

Em outra frente de trabalho, a Prefeitura reuniu nesta quinta-feira as secretarias de Saúde - por meio da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) e Distrito de Saúde Norte - e de Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública - por meio da Guarda Municipal e Defesa Civil -, Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), Exército e CPFL para planejar ações complementares para o controle e prevenção da febre maculosa no Eulina.

Algumas ações são imediatas e outras de médio e longo prazo, levando em conta que a área do Eulina é classificada como de risco para a febre maculosa, segundo apontou a própria Sucen. Incluem intervenção ambiental - com controle e redução da população de capivaras e da infestação de carrapatos - e em relação a outros hospedeiros, como o cavalo e o cão. E todo o trabalho será feito considerando as necessidades da população local, informa o secretário municipal de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva. O secretário também participou da reunião. Os detalhes vão ser acertados em outra reunião na manhã desta sexta-feira, 11.

Saraiva ressaltou a necessidade de manter a integração entre as ações de vigilância epidemiológica, assistência adequada aos pacientes, vigilância ambiental e comunicação em saúde para obter êxito no combate à doença. Afirmou também que o envolvimento da população é essencial neste momento.

A população tem que ter consciência da importância de não freqüentar as áreas de vegetação e mato, que é onde há infestação de carrapatos. Não existe vacina contra a febre maculosa. Também há um consenso técnico de que não é possível eliminar totalmente o carrapato do meio ambiente. Portanto, na ausência de armas definitivas, cabe ao poder público desencadear ações de prevenção e controle da doença e assistência aos pacientes. À população, repito, cabe conscientizar-se de que áreas de risco não devem ser freqüentadas, do contrário todo nosso trabalho não tem eficácia, diz Saraiva.

Entenda o caso

Até o momento, 17 casos suspeitos de febre maculosa foram notificados entre moradores do Núcleo Residencial Eulina. Entre eles, três evoluíram para óbito, dois ainda estão internados e os demais estão em tratamento ambulatorial. A hipótese diagnóstica mais provável é febre maculosa, mas também estão sendo investigadas leptospirose e dengue. A faixa etária dos doentes varia entre 2 e 62 anos, sendo a maioria adultos. Todos os pacientes têm histórico de contato com carrapato na mesma região. O primeiro caso teve início de sintomas em 16 de julho.

Saiba mais

O que é?

A febre maculosa brasileira (FMB) é uma doença infecciosa febril aguda, transmitida por carrapatos, podendo cursar desde formas assintomáticas ou leves até formas graves, evoluindo com complicações hemorrágicas e elevada taxa de letalidade. É causada por uma bactéria do gênero Rickttesia (R. rickettsii). É doença de notificação compulsória, devendo ser informada pelo meio mais rápido disponível, e de investigação epidemiológica com busca ativa, para evitar a ocorrência de novos casos e óbitos.

Quais os sintomas?

A doença pode ser de difícil diagnóstico, sobretudo em sua fase inicial, mesmo entre profissionais bastante experientes. O início geralmente é abrupto e os sintomas são inicialmente inespecíficos, incluindo febre, cefaléia, mialgia intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos. Em geral, entre o segundo e o sexto dia da doença, surge o exantema máculo-papular, predominante nos membros superiores e inferiores. Nos casos
graves, é comum a presença de edema de membros inferiores, hepatoesplenomegalia, manifestações gastrointestinais (como náuseas, vômitos, dor abdominal e diarréia), manifestações renais (com oligúria e insuficiência renal aguda), manifestações pulmonares (com tosse, edema pulmonar, pneumonia intersticial e derrame pleural), manifestações neurológicas e hemorrágicas (como petéquias, sangramento muco-cutâneo, digestivo e pulmonar).

Como se transmite?

Pela picada de carrapato infectado. A transmissão ocorre se o mesmo permanecer aderido à pele por um período mínimo variando entre 4 e 6 horas. A doença não é transmitida de pessoa para pessoa.

Como tratar?

O tratamento consiste na administração precoce de antibióticos (clorafenicol e/ou doxiciclina).  Casos de pacientes não tratados precocemente podem evoluir para formas graves e cerca de 80% deles chegam ao óbito.

Como se prevenir?

A população deve evitar as áreas infestadas por carrapatos. Sempre que possível, devem ser usadas calças e camisas de mangas compridas e roupas claras para facilitar a visualização. Também é aconselhável a inspeção do corpo para verificar a presença de carrapatos. A limpeza de pastos e a capina da vegetação podem trazer alguns resultados no controle da população de carrapatos.

Em Campinas

Campinas notificou o primeiro caso da doença em 1995 e, desde então, foram confirmados 33 casos, com oito óbitos. Em 2005, foram sete casos, com um óbito. Em 2004, 10, sem mortes, sendo que uma das ocorrências é de morador de Campinas que contraiu a doença em outro município. Este ano, já foram notificados 135 casos suspeitos e não houve confirmações ainda. Do total de suspeitos, quatro morreram, sendo três moradores do Eulina e um do São Domingos.

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