Saúde constata mudança de paradigma nas ocorrências de violência em Campinas

24/08/2011

Autor: Marco Aurélio Capitão

“Os números mostram que houve uma mudança de paradigma, revelam que a saúde pública está cada vez mais presente no acolhimento de vítimas de abusos sexuais e que a notificação dessas ocorrências, em 2010, foi maior nas redes de saúde do que nas delegacias de Polícia”. Essa constatação foi revelada ontem pela médica ginecologista Verônica Gomes Alencar, responsável pela implantação do Programa Iluminar Campinas e pela Coordenadoria da Mulher, durante o lançamento da quinta edição do Sistema de Notificação de Violências (Sisnov), em Campinas, nesta quarta-feira.

Segundo Verônica Alencar, um exemplo da boa estruturação da rede está nos números que apontam que, desde 2006, nenhum aborto permitido por lei foi feito em mulheres que procuraram o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) até 72 horas após terem sofrida violência sexual. “Além disso – complementa verônica - , nenhuma mudança sorológica foi verificada nessas mulheres, isso porque em vez de procurarem primeiro as delegacias de polícia elas procuraram as unidades de saúde”.

Verônica aproveitou para lembrar que o Projeto Iluminar acaba de completar 10 anos de existência. “A primeira capacitação do Iluminar aconteceu no dia 18 de agosto de 2001, no governo do prefeito Toninho. Hoje podemos constatar que houve muitos avanços, como o Sisnov, que é um presente da rede de cuidados que chega para complementar as ações do setor público”.

A médica sanitarista da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), Naoko Siveira, coordenadora do Núcleo de Prevenção de Violência e Acidentes da Secretaria Municipal de Saúde, explica que quando a entidade foi criada pelo Ministério da Saúde (MS), em 2007, já havia em Campinas uma rede de cuidados como o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) e o Centro de Apoio à Mulher Operosa (Ceamo), entre outras.

“Quero dizer que não tivemos que começar do zero quando o Núcleo foi criado, em 2007, uma vez que a rede pública já estava estruturada e fazendo a sua parte. Temos trabalhado bastante com a capacitação de profissionais e com a articulação das redes públicas de atendimento”, afirmou a médica sanitarista. Segundo Naoko, o Boletim Sisnov funciona com um manual ou um instrumento estratégico, que fica à disposição da Rede Pública nas ocorrências de violência.

O avanço nas redes de cuidados em Campinas foi elogiado por Jonas Malman, coordenador da Área Técnica da Secretaria Municipal de Paz, Cultura e Cidadania da Prefeitura de São Paulo. Jonas Malman foi convidado para fazer uma palestra sobre não-violência durante o lançamento do 5º Boletim Sisnov. “É muito gratificante você chegar em uma cidade é perceber que as coisas estão caminhando, que a rede pública se articula e busca soluções para melhorar o atendimento e a notificação dos casos de violência”, afirmou Malman.

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