Mário Gatti: Estudo aponta o cigarro como responsável por aneurismas

27/08/2012

Autor: Juliana Perrenoud

Todos os pacientes que tiveram aneurisma cerebral nos últimos três anos no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti foram vítimas do cigarro. O vício também reflete nas áreas de oncologia e clínica médica, onde ficam internados pacientes com câncer, problemas no coração e no pulmão. O estudo inédito foi feito pelo coordenador da área de Neurologia do Hospital, Dr. Yvens Barbosa Fernandes.

O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável em todo o mundo.De acordo com levantamento da Aliança de Controle do Tabagismo, o Brasil gasta R$ 21 bilhões com tratamento de doenças relacionadas ao tabaco. O valor equivale a 30% do orçamento do Ministério da Saúde em 2011. O estudo demonstra ainda que o tabagismo é responsável por 13% das mortes no País. São 130 mil óbitos anuais (350 por dia).

“Durante três anos, colhi depoimentos de todos os internados no primeiro andar do Hospital, que cuida de doentes neurológicos e com problemas ortopédicos. Todos os que apresentaram aneurisma cerebral eram fumantes ou ex-fumantes, e 50% dos que tinham problemas na coluna, como hérnia de disco e osteoporose, também já haviam fumado”, conta Fernandes.

Baseado nesses dados, o médico está escrevendo um artigo intitulado “A maior arma de destruição em massa”. De acordo com Fernandes, o tabaco é um dos grandes problemas de saúde pública mundial, e deve ser enfrentado com muita informação e restrições à indústria.

Outro levantamento feito na semana do dia 20 de agosto contabilizou que dos 22 internados na área clínica do Hospital (terceiro andar da enfermaria), 14 tinham histórico de tabagismo, quase 65% do total. Desses, quatro eram fumantes ativos e apresentavam doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) (2), câncer de próstata (1), e infarto (1). Os ex-fumantes estavam internados por DPOC (4), pneumonia (1), problema cardíaco (1) e AVC (Acidente Vascular Cerebral) (1).

Número de fumantes tem diminuído

Segundo o Ministério da Saúde, o número de fumantes vem diminuindo no país: de acordo com a pesquisa, de 2006 a 2011, o percentual de fumantes passou de 16,2% para 14,8%. No início dos anos 90, 35% da população brasileira com mais de 15 anos era fumante.

Dentre as medidas que contribuíram para essa redução, estão a proibição da veiculação de publicidade durante determinado horário, de adição de substâncias que alterem o sabor dos cigarros e produtos derivados do tabaco, da existência de fumódromos, aumento de alíquota e impostos sobre o produto, entre outras.

Eliana Amadio Teixeira, 51 anos, fumou durante 26 e deixou o vício há mais de 10, antes de alguma doença grave se manifestar. “Parei de fumar porque não queria dar mau exemplo aos meus filhos. Depois que deixei o cigarro, meu fôlego e resistência física melhoraram, além de ter de volta meu paladar e meu olfato”, diz. Eliana conta que deixou o cigarro de um dia para o outro. “Cheguei em casa e decidi que ia parar. Meu filho, na época com dez anos, quando descobriu, me deu um abraço tão gostoso de parabéns que não tive coragem de voltar para não decepcioná-lo”, conta. O bom exemplo deu certo: “Ambos odeiam cigarro e nunca sequer o experimentaram”, comemora.

O paciente Gorge Rodrigues da Silva, 56, não teve tanta sorte. Em 2008 ele apresentou quadro de câncer na boca e, até maio deste ano, passou por tratamento no setor de Oncologia do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti. A partir de agora, o paciente precisa voltar ao hospital a cada seis meses para ser avaliado. Gorge fumou por longos 36 anos, mas diz que parou de fumar a alguns anos.

“Eu parei de fumar e beber, mas foi tarde demais. Se eu pudesse voltar no tempo com certeza não fumaria, tampouco beberia. No começo o jovem acha tudo muito bom, mas depois é que vem a dura realidade’’, conta Gorge.

“Percebi que os problemas relacionados ao cigarro estão tão próximos de um cirurgião, quanto de um pneumologista”, explica Fernandes. “O melhor conselho que posso dar a um fumante é: para de fumar imediatamente.”

Apoio para deixar o vício

Campinas possui um programa estruturado para apoiar os fumantes que desejam largar o vício. De acordo com o médico e coordenador do ‘Programa Municipal de Combate ao Tabagismo’, Mário Becker, qualquer pessoa que tenha interesse em parar de fumar pode procurar as Unidades de Saúde de seu bairro. “As equipes estão preparadas para auxiliar essa pessoa na decisão de deixar de ser fumante ativo e passivo”, explica. Becker conta que, muitas vezes, o fumante passivo, ou seja, aquele que convive com um fumante, é quem acaba tomando a primeira decisão para mudar a realidade. “Ele acaba trazendo o cônjuge, o filho, ou seja, o fumante da casa, incentivando-o a deixar o cigarro. Aliás, contar com o apoio da família é fundamental nessas horas”.

A necessidade da criação grupos de abordagem intensiva ao tabagismo surgiu há cerca de dez anos, quando agentes de saúde que atuavam no projeto de prevenção do câncer bucal perceberam que muitos pacientes que tinham o desejo de parar de fumar não encontravam um grupo de orientação e apoio, portanto não conseguiam abandonar o vício.

Hoje, o trabalho atende em média 250 pessoas semanalmente e é divido em dois grupos. O primeiro é para aqueles fumantes que acabaram de tomar a decisão de parar de fumar. Eles participam de quatro reuniões, sendo uma por semana, nas quais será decidida a data que irão de fato começar o tratamento.

Após três meses sem o tabaco, os pacientes passam para o segundo grupo e são atendidos por um dentista, fazem exame preventivo de câncer de boca e diversos tratamentos como a remoção de manchas da arcada dentária. Essa atenção resulta em uma melhora na autoestima do paciente, que se vê livre do cheiro forte do cigarro e tem o reconhecimento da família pelo esforço para se curar.

Dicas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) para parar de fumar:

A nicotina é uma das drogas mais poderosas do mundo e atinge o cérebro em apenas sete minutos. O mais importante é escolher uma data para ser o seu primeiro dia sem cigarro. Esse dia não precisa ser um dia de sofrimento. Faça dele uma ocasião especial e procure programar algo que goste de fazer para se distrair e relaxar.

Você pode escolher duas formas para deixar de fumar:

Parada imediata:

Essa deve ser sempre a primeira opção. Você deixa de fumar de uma só vez, cessando totalmente de uma hora para outra.

Parada gradual:

Você pode usar esse método de duas maneiras.

- Reduzindo o número de cigarros. Para isso, é só contar o número de cigarros fumados por dia e passar a fumar um número menor a cada dia.

- Adiando a hora em que fuma o primeiro cigarro do dia. Você vai adiando o primeiro cigarro por um número de horas predeterminado a cada dia até chegar o dia em que você não fumará nenhum cigarro.

- Se você escolher a parada gradual não deve gastar mais de duas semanas no processo.

Atenção!

Fumar cigarro de baixos teores não é uma alternativa. Eles fazem tanto mal à saúde quanto os outros cigarros. Cuidado com os métodos milagrosos para deixar de fumar. Se tiver dúvidas, procure orientação médica. Somente um médico poderá avaliar a utilização de outros métodos, como, por exemplo, adesivos de nicotina.

Repense sua rotina

Para quebrar as associações que existem entre fumar e sua rotina, é necessário planejar atividades para colocar "no lugar do cigarro". Pense no que seria possível fazer para mudar sua rotina e busque atividades diferentes. Você deve manter seus prazeres e lazeres sem o cigarro. Nesse período inicial, contudo, é melhor evitar certas situações até que você se sinta fortalecido para lidar com elas.

Invista em seu preparo físico

Procure iniciar caminhadas, de preferência em lugares agradáveis. Se não gosta de caminhar, procure outro exercício ou esporte que o agrade. Preencha seu tempo com algo que você realmente goste de fazer. Dance, pratique jardinagem, cozinhe pratos diferentes, vá ao cinema, museus, ouça música, namore, leia, bata papo com os amigos. O importante é cuidar do corpo e da mente.

O que pode acontecer quando você deixa de fumar?

Fique de olho na alimentação.

Se a fome aumentar, não se assuste. É normal um ganho de peso de até 2 quilos após deixar de fumar porque seu paladar vai melhorando e seu metabolismo, se normalizando. De qualquer forma, procure não comer mais do que está acostumado. Evite doces e alimentos gordurosos. Mantenha uma dieta equilibrada, com alimentos de baixa caloria, frutas, verduras, legumes. Para distrair a fome, chupe balas ou chicletes dietéticos. Beba sempre muito líquido, de preferência água e sucos naturais. Evite tomar café e bebidas alcoólicas. Eles podem ser um convite ao cigarro. Procure trocá-los por chá e conquetéis sem álcool (como de frutas e tomate).

Lidando com a vontade de fumar

A pessoa que fuma fica dependente da nicotina, considerada uma droga. E daquelas bastante poderosas, pois atinge o cérebro em apenas sete minutos. É normal, portanto, que os primeiros dias sem cigarro sejam os mais difíceis.

Ao parar de fumar você pode se sentir ansioso, com dificuldade de concentração, irritado, ter dores de cabeça e sentir aquela vontade intensa de fumar. Cada pessoa tem uma experiência diferente. Uns sentem mais desconforto; outros não sentem nada. Mas não desanime, tudo isso vai desaparecer no máximo em duas semanas!

Para fugir das armadilhas

Nos momentos de estresse

Quando perdemos alguém querido, passamos por dificuldades financeiras, problemas no trabalho, rompemos um relacionamento, a resposta automática pode ser o cigarro. Procure se acalmar e entender que momentos difíceis sempre vão ocorrer e fumar não vai resolver seus problemas!

Se sentir muita vontade de fumar

Para ajudar, você poderá chupar gelo, escovar os dentes a toda hora, beber água gelada ou comer uma fruta. Mantenha as mãos ocupadas com um elástico, pedaço de papel, rabisque alguma coisa ou manuseie objetos pequenos. Não fique parado - converse com um amigo, faça algo diferente, distraia sua atenção. Saiba que a vontade de fumar não dura mais que alguns minutos.

Evite o primeiro cigarro e você evitará todos os outros

Alguns ex-fumantes acabam voltando a fumar por estarem se sentindo tão bem que acham que podem fumar apenas um cigarro - ou só acender o cigarro de um amigo. Mesmo uma só tragada pode levar você a uma recaída. Portanto, todo cuidado é pouco.

Muitas vezes essa decisão é adiada para evitar o "desconforto" de ficar sem o cigarro. Outras, por acreditar que é possível parar a qualquer momento. Podemos ainda buscar o momento ideal ou esperar que a vontade e a certeza de querer parar de fumar apareçam! Que tal pensar um pouco sobre essa decisão?

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