Prefeitura inaugura espaço para acolher vítimas de violência sexual no Complexo Ouro Verde

09/09/2003

Abertura do ambulatório marca as ações da semana que lembra o segundo ano do assassinato do ex-prefeito Antônio da Costa Santos, o Toninho

A Secretaria de Saúde de Campinas inaugura às 10h30 desta quarta-feira, 10 de setembro, no Complexo Ouro Verde, o ambulatório do Iluminar – Cuidando das Vítimas de Violência Sexual. Com o novo espaço, a Prefeitura amplia ainda mais os cuidados às pessoas acometidas por este tipo de violência na cidade e facilita o acesso da população que reside na Região Sudoeste da cidade, onde fica o Ouro verde.

Dados divulgados esta semana pela médica ginecologista Verônica Gomes Alencar, assessora municipal da Saúde da Mulher, mostram que a maioria das mulheres acometidas por violência sexual no município – 70% - é da região Sudoeste.

O novo espaço de acolhimento do Ouro Verde conta com uma equipe composta por cinco ginecologistas e um psicólogo. Segundo Verônica, os profissionais acompanharão os casos por até seis meses, se for necessário. "O objetivo principal do ambulatório é dar continuidade à atenção promovida durante o atendimento de urgência", diz.

Verônica explica que o Iluminar interfere na corrente de violência do município, já que, ao identificar os casos, a Secretaria de Saúde passou a ter subsídios para criar políticas de combate à violência sexual.

Antes da implantação do projeto, os dados sobre este tipo de violência só existiam na Polícia e ainda assim quando a vítima fazia Boletim de Ocorrência, já que a maioria delas, por constrangimento ou medo de exposição, não procura a autoridade policial.

"É neste sentido que a inauguração do novo espaço do Iluminar está inserida na programação da Prefeitura para marcar o segundo ano do assassinato do ex-prefeito Antônio da Costa Santos, o Toninho", diz Verônica.

Pontos de luz

Segundo ela, o ambulatório é mais um ponto de luz no trabalho de promoção da saúde e de redução da violência. A médica explica que todos os serviços envolvidos no Iluminar são chamados de pontos de luz, já que buscam tirar da escuridão a questão da violência sexual em Campinas. Segundo ela, mais de 1 mil profissionais atuam nestes pontos de luz.

Verônica afirma que a violência sexual é um dos piores tipos de agressão que o ser humano pode sofrer porque utiliza o prazer como instrumento para violentar. "É uma agressão que provoca traumas para a saúde física, psicológica, social e civil", diz a médica.

Acolhimento e solidariedade

O Iluminar foi implantado em meados de 2001 em Campinas e, desde lá, mudou o conceito da assistência às vítimas de violência sexual no município. Uma das mudanças é explicitada pelas estatísticas. As pesquisas apontam que, nos últimos dois anos, o município tem atendido não só a mulheres e crianças, maioria das vítimas deste tipo de abuso, mas também homens.

Até junho deste ano, o Iluminar já atendeu 933 pessoas entre mulheres, homens, crianças e adolescentes. No período, foram registrados pelos Prontos-Socorros (PSs) Ouro Verde, Anchieta, São José e pelos PSs Adulto e Infantil do Hospital Municipal Mário Gatti, 32 casos de violência sexual contra homens.

Outros 115 casos de violência contra a mulher foram atendidos pelo Centro de Atenção à Saúde da Mulher (Caism) e 820 pelo Centro de Referência de Assistência à Mulher (Ceamo). Nos Centros de Saúde foram registrados 26 casos de agressão sexual contra mulheres.

Para implementar o projeto, a Secretaria de Saúde estabeleceu um protocolo que acolhe as vítimas, valoriza a escuta afetiva e competente, desenvolve a solidariedade operante e cuida da saúde física, mental e civil do cidadão.

A Secretaria de Saúde capacitou toda a Guarda Municipal, os profissionais das escolas municipais, creches e Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis), os serviços da Secretaria de Promoção Social, funcionários da Delegacia da Mulher e do (Instituto Médico Legal) IML, além dos trabalhadores dos Prontos-Socorros municipais e do Serviço Municipal de Atendimento Médico de Urgência (Samu) para acolher os cidadãos vítimas da violência sexual.

A capacitação é feita em parceria com o Centro de Pesquisas das Doenças Materno-infantis de Campinas (Cemicamp) juntamente com o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism).

O Cuidar

O Projeto Iluminar Campinas – Cuidando das Vítimas de Violência Sexual foi criado para cuidar de mulheres e homens, adultos, crianças ou adolescentes até 16 anos. Ao ser recebido em um Centro de Saúde, escola, Conselho Tutelar ou em qualquer Centro de Referência, a vítima é acolhida e orientada, a queixa é identificada e o paciente é imediatamente encaminhado para atendimento médico e assistência psicológica.

No caso de mulheres, o atendimento inclui anticoncepção de emergência. Em todos os casos é feita a imunização contra hepatite e aplicação do coquetel contra o vírus HIV. A vítima também é orientada para fazer Boletim de Ocorrência e a agendar exame de corpo de delito. Após o atendimento, o caso é notificado aos serviços de saúde.

Orientação

Qualquer cidadão que sofrer violência sexual deve procurar um serviço de saúde antes de 72 horas. Segundo Verônica Alencar, quanto mais cedo as vítimas procurarem assistência, mais rápido o trauma físico pode ser diminuído por meio da prevenção de doenças sexuais e, no caso das mulheres, de uma gravidez por estupro.

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