Dados
divulgados esta semana pela médica ginecologista Verônica
Gomes Alencar, assessora municipal da Saúde da Mulher,
mostram que a maioria das mulheres acometidas por violência
sexual no município – 70% - é da região Sudoeste.
O novo espaço
de acolhimento do Ouro Verde conta com uma equipe composta por
cinco ginecologistas e um psicólogo. Segundo Verônica, os
profissionais acompanharão os casos por até seis meses, se
for necessário. "O objetivo principal do ambulatório é
dar continuidade à atenção promovida durante o atendimento
de urgência", diz.
Verônica
explica que o Iluminar interfere na corrente de violência do
município, já que, ao identificar os casos, a Secretaria de
Saúde passou a ter subsídios para criar políticas de
combate à violência sexual.
Antes da
implantação do projeto, os dados sobre este tipo de violência
só existiam na Polícia e ainda assim quando a vítima fazia
Boletim de Ocorrência, já que a maioria delas, por
constrangimento ou medo de exposição, não procura a
autoridade policial.
"É
neste sentido que a inauguração do novo espaço do Iluminar
está inserida na programação da Prefeitura para marcar o
segundo ano do assassinato do ex-prefeito Antônio da Costa
Santos, o Toninho", diz Verônica.
Pontos de luz
Segundo ela,
o ambulatório é mais um ponto de luz no trabalho de promoção
da saúde e de redução da violência. A médica explica que
todos os serviços envolvidos no Iluminar são chamados de
pontos de luz, já que buscam tirar da escuridão a questão
da violência sexual em Campinas. Segundo ela, mais de 1 mil
profissionais atuam nestes pontos de luz.
Verônica
afirma que a violência sexual é um dos piores tipos de
agressão que o ser humano pode sofrer porque utiliza o prazer
como instrumento para violentar. "É uma agressão que
provoca traumas para a saúde física, psicológica, social e
civil", diz a médica.
Acolhimento
e solidariedade
O
Iluminar foi implantado em meados de 2001 em Campinas e, desde
lá, mudou o conceito da assistência às vítimas de violência
sexual no município. Uma das mudanças é explicitada pelas
estatísticas. As pesquisas apontam que, nos últimos dois
anos, o município tem atendido não só a mulheres e crianças,
maioria das vítimas deste tipo de abuso, mas também homens.
Até
junho deste ano, o Iluminar já atendeu 933 pessoas entre
mulheres, homens, crianças e adolescentes. No período, foram
registrados pelos Prontos-Socorros (PSs) Ouro Verde, Anchieta,
São José e pelos PSs Adulto e Infantil do Hospital Municipal
Mário Gatti, 32 casos de violência sexual contra homens.
Outros
115 casos de violência contra a mulher foram atendidos pelo
Centro de Atenção à Saúde da Mulher (Caism) e 820 pelo
Centro de Referência de Assistência à Mulher (Ceamo). Nos
Centros de Saúde foram registrados 26 casos de agressão
sexual contra mulheres.
Para
implementar o projeto, a Secretaria de Saúde estabeleceu um
protocolo que acolhe as vítimas, valoriza a escuta afetiva e
competente, desenvolve a solidariedade operante e cuida da saúde
física, mental e civil do cidadão.
A
Secretaria de Saúde capacitou toda a Guarda Municipal, os
profissionais das escolas municipais, creches e Escolas
Municipais de Educação Infantil (Emeis), os serviços da
Secretaria de Promoção Social, funcionários da Delegacia da
Mulher e do (Instituto Médico Legal) IML, além dos
trabalhadores dos Prontos-Socorros municipais e do Serviço
Municipal de Atendimento Médico de Urgência (Samu) para
acolher os cidadãos vítimas da violência sexual.
A
capacitação é feita em parceria com o Centro de Pesquisas
das Doenças Materno-infantis de Campinas (Cemicamp)
juntamente com o Centro de Atenção Integral à Saúde da
Mulher (Caism).
O
Cuidar
O
Projeto Iluminar Campinas – Cuidando das Vítimas de Violência
Sexual foi criado para cuidar de mulheres e homens, adultos,
crianças ou adolescentes até 16 anos. Ao ser recebido em um
Centro de Saúde, escola, Conselho Tutelar ou em qualquer
Centro de Referência, a vítima é acolhida e orientada, a
queixa é identificada e o paciente é imediatamente
encaminhado para atendimento médico e assistência psicológica.
No
caso de mulheres, o atendimento inclui anticoncepção de
emergência. Em todos os casos é feita a imunização contra
hepatite e aplicação do coquetel contra o vírus HIV. A vítima
também é orientada para fazer Boletim de Ocorrência e a
agendar exame de corpo de delito. Após o atendimento, o caso
é notificado aos serviços de saúde.
Orientação
Qualquer
cidadão que sofrer violência sexual deve procurar um serviço
de saúde antes de 72 horas. Segundo Verônica Alencar, quanto
mais cedo as vítimas procurarem assistência, mais rápido o
trauma físico pode ser diminuído por meio da prevenção de
doenças sexuais e, no caso das mulheres, de uma gravidez por
estupro.