Campinas reduz transmissão do vírus HIV de mãe para filho para 1,2%

21/09/2004

Talita El Kadri

A Secretaria de Saúde de Campinas reduziu para 1,2% a transmissão do vírus HIV de mãe para filho, chamada transmissão vertical, entre os anos de 2000 e 2004 no município. Desde 2001, dentre as verificações encerradas dos 160 casos notificados de nascimentos de crianças com mães soropositivas, apenas duas foram confirmadas como crianças portadoras do HIV.

A média nacional de transmissão vertical é de 7%. Na cidade de São Paulo, o índice caiu de 7% para 3% nos últimos três anos. A situação é mais grave nos estados do Norte onde a contaminação acontece em 15% dos casos.

Nos casos de Aids em menores de 13 anos na cidade, as categorias de exposição ao vírus que prevalece é a gestação, a hora do parto e a amamentação. E é aí que o município age disponibilizando a testagem do HIV sob aconselhamento no pré-natal e na hora do parto com consentimento da gestante.

Modelo. Campinas introduziu medidas para redução da transmissão vertical dois anos antes da determinação da portaria do Ministério da Saúde que inseriu as ações em todo o país. "Atualmente, a cidade é respeitada em todo o país em decorrência dos resultados obtidos nas ações estratégicas da transmissão vertical", afirma a coordenadora do Centro de Referência em DST/Aids de Campinas, a enfermeira sanitarista Maria Cristina Ilário.

No combate à transmissão vertical, o Ministério da Saúde, determinou, por meio da portaria n° 822, de 27 de junho de 2003, o repasse de verbas e materiais para a realização de testes de HIV durante o pré-natal e no momento do parto, para a profilaxia durante o período pré-natal, para o AZT injetável na hora do parto e fornece leite em pó - fórmula infantil até os seis meses de idade.

De acordo com a apoiadora técnica na área de Saúde da Criança e do Adolescente, Priscila Pires Chakkour, em Campinas, o apoio ao bebê continua até um ano de idade, quando ele tem garantido, ainda, a fórmula em pó do leite integral.

Segundo Maria Cristina, a cidade implementou toda a tecnologia disponível para redução da transmissão vertical e consegue detectar, precocemente, gestantes soropositivas. Desta forma, grande parte do diagnóstico é feito a tempo de implementar todas as ações necessárias, como o tratamento preventivo com anti-retrovirais – medicação de combate ao vírus HIV.

Para dar assistência às gestantes soropositivas, Campinas possui um Centro de Referencia (CR) em DST/Aids e todos os demais serviços de saúde da rede pública estão capacitados para acolher, oferecer o teste do HIV sob aconselhamento e fazer a avaliação do resultado. A partir daí, esses serviços encaminham para o CR todas as gestante que obtiveram exames positivos para HIV ou inconclusivos, onde elas recebem o tratamento adequado.

Conforme orientação do programa nacional de redução de transmissão vertical, em Campinas, as ações preventivas foram expandidas a todos os serviços de saúde parceiros do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente maternidades públicas e a Maternidade de Campinas. Desta forma, segundo Maria Cristina, todas as gestantes soropositivas, inclusive as que não são dependentes do SUS, podem ter o suporte necessário e acesso ao tratamento.

Meta é zerar a transmissão vertical

A coordenadora do CR em DST/Aids, Maria Cristina Ilário, afirma que o número de bebês que nascem com o vírus HIV em Campinas tem tudo para diminuir e a meta é chegar a transmissão vertical zero. "Campinas obtém sucesso porque investiu na informação e na formação, monitoramento e controle sobre transmissão do HIV para todos os profissionais de saúde da rede, em especial enfermeiros e obstetras".

De acordo com o CR, a chance de bebês de mães portadoras do vírus nascerem com o HIV é, normalmente, de 25% e com o tratamento o risco cai para 8%. Segundo Maria Cristina, trabalhos de pesquisadores alemães apontam que associando a cesárea eletiva branca – procedimento que proporciona o nascimento da criança sem o contato com o sangue materno- à profilaxia com o coquetel, essa redução pode cair para entre 0% e 2%.

De acordo com a enfermeira do CR, Márcia dos Santos, a gestante deve começar o tratamento – profilaxia com antiretroviral- por volta da 16ª semana de gravidez e receber o AZT injetável durante o parto. Os cuidados continuam após o nascimento do bebê.

"A amamentação está contra-indicada porque o leite da mãe soropositiva contém grande quantidade de vírus HIV que pode ser transmitido, por essa via, ao bebê. Por isso, ele recebe leite artificial por meio da fórmula láctea infantil e lhe é garantido tratamento com AZT em xarope durante as seis primeiras semanas de vida", diz Maria Cristina.

O composto de três drogas anti-retrovirais, medicação potente que compõe o coquetel, começou a ser utilizado no Brasil em 1996. As ações de políticas públicas para a redução da transmissão vertical promovem um grande salto em 2000, quando o teste de HIV se tornou, por lei, direito de toda gestante e obrigatório para o poder público.

Aconselhamento. A coordenadora do CR afirma que o aconselhamento e o exame de Aids é oferecido a todas as mulheres durante o pré-natal e isso faz com que, mesmo aquelas que têm o diagnóstico negativo para HIV, se beneficiem com o procedimento. "Desta forma, elas tendem a estar mais atentas em relação à prevenção e proteção contra DST/Aids durante as relações sexuais e nos cuidados com a saúde", diz.

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