Talita El Kadri
A Secretaria
de Saúde de Campinas reduziu para 1,2% a transmissão do vírus
HIV de mãe para filho, chamada transmissão vertical, entre
os anos de 2000 e 2004 no município. Desde 2001, dentre as
verificações encerradas dos 160 casos notificados de
nascimentos de crianças com mães soropositivas, apenas duas
foram confirmadas como crianças portadoras do HIV.
A média
nacional de transmissão vertical é de 7%. Na cidade de São
Paulo, o índice caiu de 7% para 3% nos últimos três anos. A
situação é mais grave nos estados do Norte onde a contaminação
acontece em 15% dos casos.
Nos casos de
Aids em menores de 13 anos na cidade, as categorias de exposição
ao vírus que prevalece é a gestação, a hora do parto e a
amamentação. E é aí que o município age disponibilizando
a testagem do HIV sob aconselhamento no pré-natal
e na hora do
parto com consentimento da gestante.
Modelo.
Campinas introduziu medidas para redução da transmissão
vertical dois anos antes da determinação da portaria do
Ministério da Saúde que inseriu as ações em todo o país.
"Atualmente, a cidade é respeitada em todo o país
em decorrência dos resultados obtidos nas ações estratégicas
da transmissão vertical", afirma a coordenadora do
Centro de Referência em DST/Aids de Campinas, a enfermeira
sanitarista Maria Cristina Ilário.
No combate à
transmissão vertical, o Ministério da Saúde, determinou,
por meio da portaria n° 822, de 27 de junho de 2003, o
repasse de verbas e materiais para a realização de testes de
HIV durante o pré-natal e no momento do parto, para a
profilaxia durante o período pré-natal, para o AZT injetável
na hora do parto e fornece leite em pó - fórmula infantil até
os seis meses de idade.
De acordo com
a apoiadora técnica na área de Saúde da Criança e do
Adolescente, Priscila Pires Chakkour, em Campinas, o apoio ao
bebê continua até um ano de idade, quando ele tem garantido,
ainda, a fórmula em pó do leite integral.
Segundo Maria
Cristina, a cidade implementou toda a tecnologia disponível
para redução da transmissão vertical e consegue detectar,
precocemente, gestantes soropositivas. Desta forma, grande
parte do diagnóstico é feito a tempo de implementar todas as
ações necessárias, como o tratamento preventivo com
anti-retrovirais – medicação de combate ao vírus HIV.
Para dar
assistência às gestantes soropositivas, Campinas possui um
Centro de Referencia (CR) em DST/Aids e todos os demais serviços
de saúde da rede pública estão capacitados para acolher,
oferecer o teste do HIV sob aconselhamento e fazer a avaliação
do resultado. A partir daí, esses serviços encaminham para o
CR todas as gestante que obtiveram exames positivos para HIV
ou inconclusivos, onde elas recebem o tratamento adequado.
Conforme
orientação do programa nacional de redução de transmissão
vertical, em Campinas, as ações preventivas foram expandidas
a todos os serviços de saúde parceiros do Sistema Único de
Saúde (SUS), principalmente maternidades públicas e a
Maternidade de Campinas. Desta forma, segundo Maria Cristina,
todas as gestantes soropositivas, inclusive as que não são
dependentes do SUS, podem ter o suporte necessário e acesso
ao tratamento.
Meta é zerar
a transmissão vertical
A
coordenadora do CR em DST/Aids, Maria Cristina Ilário, afirma
que o número de bebês que nascem com o vírus HIV em
Campinas tem tudo para diminuir e a meta é chegar a transmissão
vertical zero. "Campinas obtém sucesso porque investiu
na informação e na formação, monitoramento e controle
sobre transmissão do HIV para todos os profissionais de saúde
da rede, em especial enfermeiros e obstetras".
De acordo com
o CR, a chance de bebês de mães portadoras do vírus
nascerem com o HIV é, normalmente, de 25% e com o tratamento
o risco cai para 8%. Segundo Maria Cristina, trabalhos de
pesquisadores alemães apontam que associando a cesárea
eletiva branca – procedimento que proporciona o nascimento
da criança sem o contato com o sangue materno- à profilaxia
com o coquetel, essa redução pode cair para entre 0% e 2%.
De acordo com
a enfermeira do CR, Márcia dos Santos, a gestante deve começar
o tratamento – profilaxia com antiretroviral- por volta da
16ª semana de gravidez e receber o AZT injetável durante o
parto. Os cuidados continuam após o nascimento do bebê.
"A
amamentação está contra-indicada porque o leite da mãe
soropositiva contém grande quantidade de vírus HIV que pode
ser transmitido, por essa via, ao bebê. Por isso, ele recebe
leite artificial por meio da fórmula láctea infantil e lhe
é garantido tratamento com AZT em xarope durante as seis
primeiras semanas de vida", diz Maria Cristina.
O composto de
três drogas anti-retrovirais, medicação potente que compõe
o coquetel, começou a ser utilizado no Brasil em 1996. As ações
de políticas públicas para a redução da transmissão
vertical promovem um grande salto em 2000, quando o teste de
HIV se tornou, por lei, direito de toda gestante e obrigatório
para o poder público.
Aconselhamento.
A
coordenadora do CR afirma que o aconselhamento e o exame de
Aids é oferecido a todas as mulheres durante o pré-natal e
isso faz com que, mesmo aquelas que têm o diagnóstico
negativo para HIV, se beneficiem com o procedimento.
"Desta forma, elas tendem a estar mais atentas em relação
à prevenção e proteção contra DST/Aids durante as relações
sexuais e nos cuidados com a saúde", diz.