Mostra Catadores encantadores reúne mais de 200 pessoas

24/09/2008

Autor: Denize Assis

Um evento pioneiro na área de vigilância em saúde em Campinas mobilizou mais de 200 pessoas, no Plenário da Câmara Municipal, na última sexta-feira, dia 19 de setembro. Foi a apresentação do projeto Catadores encantadores. O encontro reuniu profissionais das áreas da saúde; meio ambiente; cultura; infra-estrutura; educação; transportes; negócios jurídicos; trabalho, cidadania, inclusão e assistência social; Departamento de Comunicação; entre outros setores da Prefeitura; além de catadores e seus representantes; cooperativas de reciclagem; incubadoras; Organizações Não-Governamentais (ONGs); e entidades da sociedade civil.

O objetivo foi fortalecer as articulações intersetoriais no poder público municipal para ações de promoção, prevenção e controle de doenças transmitidas por vetores, em especial a dengue. Além disso, visava discutir as melhorias das condições de saúde no trabalho dos catadores de recicláveis e melhorar as condições ambientais no município.

“Foi uma ampla troca de experiências e também a primeira grande avaliação de um projeto que até então se constitui em iniciativas das Vigilâncias Distritais e agentes comunitários de saúde”, disse Janete do Prado Alves Navarro, coordenadora da Saúde Ambiental da Secretaria de Saúde de Campinas.

Durante o evento, também foi realizada a 1ª mostra Catadores encantadores, na qual a Secretaria de Educação expôs trabalhos artísticos com recicláveis, e uma exposição de fotografias dos repórteres-fotográficos Tomás May e Adriano Rosa. Além disso, foi apresentado o videodocumentário Catadores Encantadores (disponível no portal www.campinas.sp.gov.br), que mostra o trabalho desenvolvido pela Vigilância em Saúde Norte e o Centro de Saúde Anchieta com Norte com os catadores das Vilas Padre Anchieta e Padre Josimo entre outros bairros da região norte de Campinas.

Segundo Janete Navarro, a discussão sobre catadores de recicláveis ocorre num momento importante, em que a sociedade tem vivido o crescimento da população, o incentivo ao consumismo e, conseqüentemente, tem gerado cada vez mais resíduos.

Em Campinas, são geradas 800 toneladas por dia de resíduos com características domiciliares. Além disso, são produzidas mais 200 toneladas/dia de resíduos especiais. Isto significa que cada campineiro gera uma média de 1 kg de resíduos a cada 24 horas.

Consumir menos. Tomando como base esta realidade, o engenheiro Fábio Gonzaga Cardoso, do Departamento de Limpeza Urbana (DLU) da Secretaria Municipal de Infra-estrutura, abordou no evento a importância ambiental e social da coleta seletiva de materiais recicláveis e os vetores que esta atividade pode gerar.

Ele ressaltou a necessidade de reduzir a geração de resíduos e do consumo do mínimo possível de embalagens. Em relação à dengue, Fábio enfatizou que o maior criadouro do Aedes aegypti fora de casa é o pneu e dentro dos domicílios são os pratinhos de vasos de planta.

Cooperativas. Atualmente, Campinas conta com 15 cooperativas de reciclagem. O volume de reciclados é de 400 toneladas por mês. São 300 cooperados. Cada uma delas tem um faturamento médio de R$ 9,2 mil, o que dá uma renda média de R$ 520 por cooperado. O retorno é de R$ 7 para cada R$ 1 investido.

Estes dados foram informados pelo técnico Adauto Marconsin, da Secretaria de Cidadania, Trabalho, Assistência e Inclusão Social, que fez uma palestra sobre o trabalho das cooperativas de recicláveis e o papel delas na inclusão social. Ele abordou ainda o início dos programas de reciclagem e a construção dos marcos legais.

Promoção e prevenção. Em seguida, a médica veterinária Andréa Von Zuben, da Vigilância em Saúde Municipal, falou sobre prevenção e promoção da saúde do catador, contexto do trabalho e doenças a que este profissional está exposto.

Também foram apresentadas as experiências com catadores desenvolvidas pelas Vigilâncias em Saúde Norte, Sul e Leste. Recentemente, o trabalho da Visa Leste foi premiado em terceiro lugar entre mais de 3 mil apresentados em Brasília durante evento do Ministério da Saúde.

Catadores. As catadoras Alzira Gomes Ramos e Maria de Lourdes, moradoras da região norte de Campinas, na abrangência do Centro de Saúde Padre Anchieta, marcaram presença no evento.

“O evento foi ótimo, maravilhoso. É numa reunião assim que a gente sente que tem valor. Até chorei. O filme é uma gracinha, gostei demais. Fico muito agradecida e peço a Deus que abençoe todo este trabalho”, disse Alzira. Ela, que tem 66 anos, mora há 48 em Campinas e desenvolve o trabalho de catadora há 9 anos.

Alzira conta que está sempre de bem com a vida, com os vizinhos e muito mais com a natureza. Ela fez questão de deixar um recado para a população de Campinas: “Que todos aprendam a não acumular um monte de coisas. Se cada um cuidar da reciclagem do que produz, esta atitude torna-se um exemplo para dentro de casa a para os vizinhos”. Ela contou que separa cada material que recolhe, coloca em bags e amarra bem. “O quintal é pequeno, mas está sempre limpo”.

Maria de Lourdes Pereira de Resende considerou que o evento foi uma aula. “Foi um momento importante, educativo, tudo bem explicado, muito bom”, disse. A catadora, de 56 anos, conta que começou a catar num período difícil da vida, quando tinha crianças pequenas e não contava nem mesmo com o que colocar nas panelas. “Comecei por necessidade. Assim, criei meus três filhos, um deles com deficiência e um adotivo. O mais novo hoje tem 18 anos”, contou.

Maria de Lourdes, que há 15 anos atua como recicladora, informou que guarda suas latas e garrafas pet dentro de bags que recebe da Prefeitura. O restante – ela também junta vidros, plásticos, ferro e misto – ela guarda em local coberto. O caminhão passa a cada 8 ou 15 dias para recolher. Cinco pessoas dependem da renda gerada pelo trabalho de Maria de Lourdes.

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