Saúde disponibiliza enfermeiros para atuar com exclusividade na doação de órgãos para transplantes

26/09/2008

Autor: Denize Assis

A ação busca, entre outros objetivos, aumentar o número de doadores e marca o Dia Nacional do Doador de Órgãos e Tecidos, comemorado em 27 de setembro

A Secretaria de Saúde de Campinas anunciou nesta quinta-feira, dia 25 de setembro, que vai disponibilizar três enfermeiras para trabalharem nos hospitais públicos da cidade com dedicação integral à promoção da doação de órgãos. A ação busca, entre outros objetivos, aumentar o número de doadores e marca o Dia Nacional do Doador de Órgãos e Tecidos, comemorado em 27 de setembro.

“Diante do processo de conscientização a respeito da doação de órgãos e atendendo à demanda do grupo – da Organização de Procura de Órgãos (OPO) do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp -, de acordo com as políticas públicas norteadas pelo Ministério da Saúde, estamos disponibilizando três enfermeiras para dedicação em tempo integral a esta questão”, afirma o secretário municipal de Saúde de Campinas, José Francisco Kerr Saraiva.

Novas medidas. A iniciativa de Campinas coincide com o lançamento feito hoje pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, de um conjunto de medidas para elevar o número de doações de órgãos e de transplantes no país. Durante o evento, no Auditório Emílio Ribas do Ministério da Saúde, em Brasília (DF), também foi lançada mais uma edição da Campanha Nacional de Doação de Órgãos. O tema deste ano é: Tempo é vida. Doe órgãos. Doe vida. Para ser um doador, avise sua família.

Além disso, ocorre um dia após a celebração dos 15 anos da Organização da Procura de Órgãos (OPO) do HC da Unicamp, marcada por uma manhã festiva ocorrida no Anfiteatro do HC. Durante a festividade, profissionais que trabalham e passaram pela organização ao longo deste tempo foram homenageados, bem como um paciente e uma família doadora.

O HC da Unicamp é um dos 10 hospitais universitários do Estado de São Paulo, integrantes da OPOs, que foram escolhidos para coordenar regionalmente as tarefas relativas a captação de órgãos, busca ativa e contato com as famílias e cuidado com o doador. Criada em 1993, atualmente a OPO da Unicamp é a primeira em captação das centrais do interior do Estado – já são mais de 4 mil transplantes realizados.

Segundo o neurocirurgião Hélder Zambelli, coordenador da OPO/Unicamp, os avanços nestes anos foram muito, mas ainda há um grande desafio que é no sentido de conseguir que todas as notificações de morte encefálica sejam feitas à OPO. Se a morte encefálica não é comunicada à central de transplantes, a retirada do órgão se inviabiliza.

“Isto ocorre porque o hospital não está preparado para fazer o diagnóstico de morte encefálica ou não tem o interesse ou o hábito de fazer esta notificação. Por isso, é fundamental não só a realização de eventos pontuais como os desta semana, mas a promoção de campanhas contínuas de doação de órgãos junto às equipes médicas e também direcionadas à população, para que não haja recusa familiar”, diz Hélder.

O coordenador ressalta que a melhora grande ocorrida nestes anos e o aumento no número de transplantes deve-se à Secretaria de Estado de São Paulo, que se organizou, se estruturou; à legislação de 97; e à parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e com os hospitais municipais que tem se intensificado, especialmente no período mais recente.

“Temos estabelecido uma parceria muito boa, onde a própria Secretaria Municipal de Saúde tem proporcionado a estrutura para captação de órgãos na cidade e na região. O exemplo mais recente é a disponibilidade das três enfermeiras para trabalhar exclusivamente com doação de órgãos. Trata-se de uma iniciativa importante”, destaca.

Hélder diz que a população brasileira é boa para doação, mas que ainda há uma recusa em torno de 30% das famílias com potenciais doadores, o que é muito alto se comparado com outros países, como os europeus. “Mas esta recusa tem diminuído no decorrer dos anos, com a melhora do sistema de saúde, do atendimento hospitalar. Nós sabemos que se a família reconhece que o doente foi bem atendido no hospital, a chance de doação é muito maior”, diz.

Histórico. O programa de transplantes do Sistema Único de Saúde (SUS) é o segundo maior do mundo, superado apenas pelo da Espanha. Embora jovem, o programa tem passado por mudanças que o diferenciam na qualidade, em relação aos demais países que oferecem esse tipo de assistência médica gratuita.

Entre 2001 e 2007, foram realizados mais de 88 mil transplantes pelo SUS. Em todo o país, o SUS conta com 1.335 equipes preparadas para fazer esse procedimento de alta complexidade, 925 hospitais autorizados a realizar enxertos, 170 hospitais aptos a captar e a fazer busca ativa de órgãos e tecidos, e 58 laboratórios para realizar os exames que ajudarão a evitar a rejeição do órgão. Também tem 34 bancos de olhos, seis de tecidos músculo-esqueléticos, um de válvulas cardíacas e um de pele.

Neste contexto, o HC da Unicamp se destaca. Responsável por mais de 127 cidades, o hospital já realizou mais de 4 mil transplantes desde que iniciou este tipo de cirurgia. No interior do Estado, são seis OPOS e a OPO que tem maior número de doadores viáveis em número absoluto é a do HC/Unicamp.

Apesar disso, 60 mil brasileiros continuam na fila de espera de doação de órgãos para transplante. Para ser um doador, a pessoa precisa conversar com sua família e deixar bem claro o seu desejo. Não é necessário deixar nada por escrito. Porém, os familiares devem se comprometer a autorizar a doação por escrito após a morte. A doação de órgãos é um ato pelo qual a pessoa manifesta a vontade de que, a partir do momento da constatação da morte encefálica, uma ou mais partes do seu corpo (órgãos ou tecidos), em condições de serem aproveitadas para transplante, possam ajudar outras pessoas.

“Quem vai fazer a doação é a família num momento em que um ente querido, um parente vai estar numa situação difícil, que é a condição de morte encefálica. Então, com toda esta perda, a família tem que ter toda bondade, todo amor para fazer a doação”, diz Hélder Zambelli.

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