Fontes radioativas desativadas são removidas de Campinas para Jarinu

20/10/2003

Operação utilizou reservatórios de chumbo e braços mecânico e demorou mais de 15 horas

As fontes de cobalto 60, material radioativo da empresa Ibras-CBO, que estavam dentro de uma piscina cheia de água em Campinas, foram removidas sábado, dia 18, para Jarinu, por determinação da Justiça Federal. As fontes de cobalto 60 têm uma potência centenas de vezes maior que as do Césio 137, que provocou a maior tragédia radioativa da história brasileira, em 1987 em Goiânia (GO), num acidente que causou quatro mortes, deixou 250 contaminados, um amputado e 600 pessoas em um grupo de risco, monitorado constantemente.

A remoção das fontes de cobalto 60 havia sido solicitada ao Ministério Público (MP) e à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Saúde e da Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos e da Cidadania, em dezembro de 2002.

O irradiador que utilizava as fontes era empregado pela indústria para esterilizar material médico-hospitalar, como seringas, agulhas, cateteres intravenosos e instrumentos cirúrgicos. O equipamento já não funcionava desde dezembro de 2001, quando a Ibras encerrou suas atividades. A empresa funcionava na avenida Cobalto, no Jardim Santana. No Brasil, existem outros cinco irradiadores como os utilizados pela indústria e, no mundo, existem 160.

Tranqüilidade. De acordo com a Secretaria de Saúde de Campinas a remoção ocorreu com tranqüilidade, apesar de a Prefeitura ter sido comunicada pela CNEN apenas na véspera do transporte. "Foi verificado o plano de transporte das fontes, preparado pela Bionuclear Diagnósticos de São Paulo (BND) e conforme este plano, as medidas de segurança foram cumpridas no decorrer do trabalho", disse o arquiteto Flávio Gordon, da Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde de Campinas.

Gordon explicou que as fontes estavam dentro de uma piscina de sete metros de profundidade, cheia de água. Segundo ele, para que não houvesse nenhum risco, contêineres de chumbo foram mergulhados dentro da piscina e um braço mecânico retirou as fontes e colocou-as dentro de um recipiente ainda dentro d´água.

A operação começou às 9h de sábado e consumiu 15 horas de trabalho. Os contêineres onde foram abrigadas as duas fontes de cobalto 60 pesam cinco toneladas cada um.

A retirada foi feita pela empresa canadense Nordion, fabricante das fontes, e o transporte pela BND. As fontes foram levadas para Jarinu, onde ficarão armazenadas provisoriamente até que seja providenciado o transporte para o Canadá.

Normas mundiais. Os trabalhos foram acompanhados por técnicos da Vigilância Ambiental de Campinas e supervisionados pela CNEN e pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). A remoção também mobilizou profissionais da Defesa Civil e da Polícia Militar.

O especialista em rádio proteção Francisco César, da CNEN, informou que todos os testes foram realizados para que os contêineres suportem todas as condições de transportes sejam elas marítimas, aéreas ou rodoviárias.

Segundo Rosa Virgínia Saito Di Túllio, física da Vigilância Ambiental de Campinas, a permanência das fonte de cobalto em desuso no local era inadequada. A técnica explica que o irradiador não tinha previsão para ser reativado. "Nas condições em que estavam estas fontes, para Campinas a remoção foi a melhor solução", disse.

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