Período de chuvas leva Vigilância em Saúde a alertar sobre infestação de caramujos

29/10/2004

Denize Assis

Preocupada com a proliferação do caramujo gigante africano, ou Achatina fulica, devido às chuvas que atingiram Campinas neste mês de outubro, a Secretaria Municipal de Saúde começou a alertar, esta semana, equipes do Paidéia e profissionais que atuam na Vigilância em Saúde sobre procedimentos para conter infestações e medidas para esclarecer as pessoas quanto aos riscos para saúde e necessidade de procurar as autoridades sanitárias. Donos de uma capacidade reprodutiva impressionante – são hermafroditas e botam 2.400 ovos por ano cada um -, os caramujos africanos encontram no período de calor e chuvas as condições propícias para se proliferar.

O caramujo africano chegou ao Brasil trazido por profissionais da gastronomia, que passaram a comercializar a carne como escargot, caramujo de origem européia. A idéia era aumentar a lucratividade mas, como o negócio não prosperou, o molusco foi solto na natureza e acabou por tornar-se uma praga agrícola que hoje assola 23 estados brasileiros.

Em Campinas, as reclamações de moradores sobre infestação do caramujo gigante partem de todas regiões da cidade, embora a mais atingida seja a área Sudoeste onde as solicitações sobre o tema já representam 8% das demandas relacionadas a pragas urbanas. Em 2003, a Vigilância em Saúde (Visa) Sudoeste recebeu 38 reclamações sobre infestação do molusco, principalmente na área do Centro de Saúde Tancredão, tendo sido mais freqüentes nos meses de janeiro a abril. Este ano, desde janeiro, já foram registradas apenas 13 reclamações na mesma região.

A diminuição é atribuída, segundo a Visa Sudoeste, à campanha de informação promovida para a população pela equipe de Saúde Ambiental. Durante os trabalhos, a comunidade foi orientada a tomar medidas de controle, cada pessoa em seu próprio domicílio. Segundo a Visa Sudoeste, as providências consistem em métodos simples e baratos que, se adotados durante todo ano, podem controlar a incidência de caramujos a níveis perfeitamente toleráveis na área urbana.

Apetite voraz. Medindo mais de 15 centímetros e pesando mais de 200 gramas quando adultos, eles se alimentam de qualquer tipo de planta. Por onde passam, arrasam hortas, invadem lavouras e atacam a vegetação de reservas ambientais – como acaba de ser constatado no Rio de Janeiro, no Poço das Antas.

Nas áreas urbanas, também passou a representar um risco à saúde pública, já que a espécie pode hospedar o verme Angiostrongylus costaricensis, que causa cegueira, perfuração intestinal e hemorragia abdominal em seres humanos e pode até levar à morte.

"A contaminação acontece por via oral, pelo contato com a baba - muco - que o caramujo solta pela pele e que pode ser ingerida por meio de hortaliças cultivadas em hortas infestadas ou pelos alimentos contaminados pelas mãos após contato direto com o caramujo", diz o médico veterinário Cláudio Castagna, da Visa Sudoeste.

Por isso, informa Castagna, é preciso lavar bem as verduras e frutas. As mãos devem ser lavadas sempre depois de contato com o solo, do trabalho no campo ou nas hortas e jardins. "Ainda é importante impedir que crianças brinquem com os caramujos, já que elas podem colocar as mãos sujas na boca", afirma.

O biólogo Edílson Geanfrancisco Soave, também da Visa Sudoeste, explica que terrenos baldios e construções, além de plantações, hortas e jardins, são ambientes favoráveis para o caramujo africano porque oferecem bastante calor e umidade. A proliferação também é favorecida pela falta de predadores e porque o molusco é um herbívoro generalista - come tudo o que é verde -, além de ser hermafrodita. De acordo com o biólogo, as épocas do ano mais propícias para a proliferação são os meses de calor. "No inverno, eles se reproduzem menos", diz.

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) começou neste ano uma campanha para a erradicação do caramujo. Em Campinas, para combater a praga, a Secretaria de Saúde capacitou profissionais, mapeou locais infestados e passou a trabalhar para conter infestações e esclarecer as pessoas quanto às medidas de controle do caramujo, riscos, sintomas da doença e quando acionar e procurar o serviço de saúde. "Com isso, o número de casos registrados diminuiu", diz Edílson.

Sem predadores. Os caramujos africanos são o exemplo mais recente dos danos que pode causar a introdução de espécies num habitat onde elas não encontram predadores naturais. Importados na Argentina e no Uruguai como animais de caça, javalis acabaram por migrar para o Rio Grande do Sul nos anos 90. Atualmente, eles somam 20 mil animais selvagens em seis Estados do Sul e Sudeste e atacam plantações de arroz e o gado.

O tucunaré, peixe originário da Amazônia, foi trazido há quinze anos para o pantanal Mato-Grossense e para o Paraná, afim de servir à pesca esportiva. Passou a devorar espécies menores e vinte delas foram declaradas extintas desde então.

Medidas de controle do caramujo:

1 - Recolher os caramujos, com luva e pá, todos os dias pela manhã e colocá-los num balde com salmoura. Deixar uma noite e, no dia seguinte, enterrá-los;

2 - Desbastar a vegetação, como folhagens, gramas e capins, de maneira que o sol atinja o terreno;

3 - Usar armadilhas para atrair os caramujos de toda propriedade. A armadilha, que deve ser colocada no local mais sombreado e úmido, pode ser confeccionada com um saco de estopa ou pano. O material deve ser molhado com cerveja uma vez por semana e preenchido com cascas de frutas. Depois é só recolher os caramujos todos os dias pela manhã e coloca-los na solução com salmora e, no dia seguinte, enterrá-los;

4 - Terrenos baldios e parques devem ser, freqüentemente, roçados e ter a vegetação desbastada de tal modo que o sol atinja o solo;

5 - Não criar caramujos em casa.

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