Denize Assis
Preocupada
com a proliferação do caramujo gigante africano, ou Achatina
fulica, devido às chuvas que atingiram Campinas neste mês
de outubro, a Secretaria Municipal de Saúde começou a
alertar, esta semana, equipes do Paidéia e profissionais que
atuam na Vigilância em Saúde sobre procedimentos para conter
infestações e medidas para esclarecer as pessoas quanto aos
riscos para saúde e necessidade de procurar as autoridades
sanitárias. Donos de uma capacidade reprodutiva
impressionante – são hermafroditas e botam 2.400 ovos por
ano cada um -, os caramujos africanos encontram no período de
calor e chuvas as condições propícias para se proliferar.
O caramujo
africano chegou ao Brasil trazido por profissionais da
gastronomia, que passaram a comercializar a carne como
escargot, caramujo de origem européia. A idéia era aumentar
a lucratividade mas, como o negócio não prosperou, o molusco
foi solto na natureza e acabou por tornar-se uma praga agrícola
que hoje assola 23 estados brasileiros.
Em Campinas,
as reclamações de moradores sobre infestação do caramujo
gigante partem de todas regiões da cidade, embora a mais
atingida seja a área Sudoeste onde as solicitações sobre o
tema já representam 8% das demandas relacionadas a pragas
urbanas. Em 2003, a Vigilância em Saúde (Visa) Sudoeste
recebeu 38 reclamações sobre infestação do molusco,
principalmente na área do Centro de Saúde Tancredão, tendo
sido mais freqüentes nos meses de janeiro a abril. Este ano,
desde janeiro, já foram registradas apenas 13 reclamações
na mesma região.
A diminuição
é atribuída, segundo a Visa Sudoeste, à campanha de informação
promovida para a população pela equipe de Saúde Ambiental.
Durante os trabalhos, a comunidade foi orientada a tomar
medidas de controle, cada pessoa em seu próprio domicílio.
Segundo a Visa Sudoeste, as providências consistem em métodos
simples e baratos que, se adotados durante todo ano, podem
controlar a incidência de caramujos a níveis perfeitamente
toleráveis na área urbana.
Apetite
voraz.
Medindo mais de 15 centímetros e pesando mais de 200 gramas
quando adultos, eles se alimentam de qualquer tipo de planta.
Por onde passam, arrasam hortas, invadem lavouras e atacam a
vegetação de reservas ambientais – como acaba de ser
constatado no Rio de Janeiro, no Poço das Antas.
Nas áreas
urbanas, também passou a representar um risco à saúde pública,
já que a espécie pode hospedar o verme Angiostrongylus
costaricensis, que causa cegueira, perfuração intestinal
e hemorragia abdominal em seres humanos e pode até levar à
morte.
"A
contaminação acontece por via oral, pelo contato com a baba
- muco - que o caramujo solta pela pele e que pode ser
ingerida por meio de hortaliças cultivadas em hortas
infestadas ou pelos alimentos contaminados pelas mãos após
contato direto com o caramujo", diz o médico veterinário
Cláudio Castagna, da Visa Sudoeste.
Por isso,
informa Castagna, é preciso lavar bem as verduras e frutas.
As mãos devem ser lavadas sempre depois de contato com o
solo, do trabalho no campo ou nas hortas e jardins.
"Ainda é importante impedir que crianças brinquem com
os caramujos, já que elas podem colocar as mãos sujas na
boca", afirma.
O biólogo Edílson
Geanfrancisco Soave, também da Visa Sudoeste, explica que
terrenos baldios e construções, além de plantações,
hortas e jardins, são ambientes favoráveis para o caramujo
africano porque oferecem bastante calor e umidade. A proliferação
também é favorecida pela falta de predadores e porque o
molusco é um herbívoro generalista - come tudo o que é
verde -, além de ser hermafrodita. De acordo com o biólogo,
as épocas do ano mais propícias para a proliferação são
os meses de calor. "No inverno, eles se reproduzem
menos", diz.
O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) começou neste ano uma campanha para a
erradicação do caramujo. Em Campinas, para combater a praga,
a Secretaria de Saúde capacitou profissionais, mapeou locais
infestados e passou a trabalhar para conter infestações e
esclarecer as pessoas quanto às medidas de controle do
caramujo, riscos, sintomas da doença e quando acionar e
procurar o serviço de saúde. "Com isso, o número de
casos registrados diminuiu", diz Edílson.
Sem predadores. Os caramujos africanos são o exemplo
mais recente dos danos que pode causar a introdução de espécies
num habitat onde elas não encontram predadores naturais.
Importados na Argentina e no Uruguai como animais de caça,
javalis acabaram por migrar para o Rio Grande do Sul nos anos
90. Atualmente, eles somam 20 mil animais selvagens em seis
Estados do Sul e Sudeste e atacam plantações de arroz e o
gado.
O tucunaré,
peixe originário da Amazônia, foi trazido há quinze anos
para o pantanal Mato-Grossense e para o Paraná, afim de
servir à pesca esportiva. Passou a devorar espécies menores
e vinte delas foram declaradas extintas desde então.
Medidas de
controle do caramujo:
1 - Recolher os caramujos, com luva e pá, todos os dias pela
manhã e colocá-los num balde com salmoura. Deixar uma noite
e, no dia seguinte, enterrá-los;
2 - Desbastar a vegetação, como folhagens, gramas e capins,
de maneira que o sol atinja o terreno;
3 - Usar armadilhas para atrair os caramujos de toda
propriedade. A armadilha, que deve ser colocada no local mais
sombreado e úmido, pode ser confeccionada com um saco de
estopa ou pano. O material deve ser molhado com cerveja uma
vez por semana e preenchido com cascas de frutas. Depois é só
recolher os caramujos todos os dias pela manhã e coloca-los
na solução com salmora e, no dia seguinte, enterrá-los;
4 - Terrenos baldios e parques devem ser, freqüentemente, roçados
e ter a vegetação desbastada de tal modo que o sol atinja o
solo;
5 - Não criar caramujos em casa.