Para prevenir a febre maculosa, Prefeitura fecha Lago do Café

20/10/2008

Autor: Denize Assis

A Prefeitura de Campinas, por indicação da Secretaria Municipal de Saúde, fecha temporariamente a partir deste sábado, 18 de outubro, o Lago do Café para visitação pública. O objetivo é diminuir o risco de parasitismo humano por carrapatos transmissores da febre maculosa – Amblyoma cajennense. Aos funcionários que necessitarem permanecer no local e às pessoas que vão fazer a manutenção do parque foram reforçadas as orientações sobre as medidas de proteção.

A decisão é uma indicação técnica da Vigilância em Saúde Municipal, ratificada pelos integrantes da Comissão de Endemias e Epidemias da Prefeitura e pela Superintendência do Controle de Endemias (Sucen) e tem o apoio do Gabinete do Prefeito.

Esta é a primeira vez que a Prefeitura decide pela interrupção temporária de visitação a um parque público com o objetivo de prevenir a febre maculosa, doença que apresenta letalidade alta, podendo chegar até a 40%. Em Campinas, esta letalidade tem atingido 20,4%.

O fechamento do Lago do Café foi decidido levando em conta vários critérios. Primeiro porque o local, neste momento, apresenta um grau de infestação de carrapatos do gênero Amblyomma maior que outros parques da cidade. Este gênero de carrapato é o principal transmissor da bactéria Rickettisia rickttisie, que causa a febre maculosa no ser humano.

Segundo por tratar-se de uma área comprovada de transmissão desta doença. Já houve um óbito confirmado lá há seis anos e, em 2008, foram notificados dois casos suspeitos da doença – um refere-se a um homem de 30 anos, que morreu em junho; outro a um homem na faixa etária acima de 60 anos que está internado desde a semana passada em tratamento no Hospital Celso Pierro.

Terceiro porque a área apresenta características essenciais para o monitoramento da população de capivaras, de acordo com as diretrizes propostas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o que facilita o controle da infestação.

Enquanto o parque estiver fechado, serão intensificadas medidas para reduzir a infestação de carrapatos e, conseqüentemente, o risco da doença. O local vai passar por limpeza, com retirada de folhas mortas e galhos e a roçada de todo o capim, já que os carrapatos morrem quando expostos aos raios solares. A limpeza será efetuada com trator roçadeira e, nas áreas em que este processo for inviável, por equipes treinadas e com uso de medidas de proteção. Todo o material retirado será destinado a uma área que não favoreça a proliferação dos carrapatos.

Também será promovido monitoramento mensal para identificar o grau de infestação de carrapatos do gênero Amblyomma pela Secretaria de Saúde em conjunto com a Sucen. Além disso, em 10 dias, será concluído e encaminhando ao Ibama o documento com diagnóstico ambiental da área, que apontará a sua caracterização inclusive com descrição da população de capivaras.

Em 90 dias, a Secretaria de Saúde, em conjunto com outras áreas responsáveis pela medida, vai avaliar a reabertura do Lago do Café.

Outras áreas. Segundo a enfermeira sanitarista Maria Filomena de Gouveia Vilela, diretora da Vigilância em Saúde do município, em Campinas como um todo, considerando que a região é endêmica para a febre maculosa, a Secretaria de Saúde tem deflagrado medidas de vigilância epidemiológica da febre maculosa nos locais com registros de casos e naqueles que, por contigüidade, apresentam risco potencial de aparecimento do agravo.

Também têm sido implementadas ações como capacitação de profissionais da assistência à saúde.

“A febre maculosa exige de nós, poder público, medidas que incluem promover a limpeza urbana; desencadear a vigilância epidemiológica e ambiental dos vetores, reservatórios e dos hospedeiros, detectar e tratar precocemente os casos suspeitos; investigar e controlar surtos; conhecer a distribuição da doença segundo lugar, tempo e pessoa; identificar e investigar os locais prováveis de infecção (LPI); recomendar e adotar medidas de controle e prevenção; e mobilizar e sensibilizar profissionais de saúde. Estas providências têm sido implementadas em nossa cidade ao longo dos anos”, informa a diretora da Covisa.

Maria Filomena ressalta que a população também deve fazer a sua parte adotando atitudes que incluem evitar as áreas infestadas por carrapatos e não deixar seus animais adentrá-las. “Se for adentrar áreas de risco, sempre que possível, devem ser usadas calças e camisas de mangas compridas e roupas claras para facilitar a visualização do carrapato. Também é aconselhável a inspeção do corpo para verificar a presença dos mesmos a cada duas horas”, afirma.

O secretário de Saúde de Campinas, José Francisco Kerr Saraiva, reforça que, para a população, é necessário enfatizar a importância da consciência de não freqüentar as áreas de vegetação e mato, que é onde há infestação de carrapatos-estrela e, portanto, são locais de risco.

“Não existe vacina contra a febre maculosa. Sendo assim, na ausência de armas definitivas, cabe ao poder público desencadear ações de prevenção e controle da doença e assistência aos pacientes. À população, repito, cabe conscientizar-se de que áreas de risco não devem ser freqüentadas”, afirma.

Outra orientação é que, se freqüentar área de risco e apresentar sintomas da doença – que são febre, dor de cabeça, dor intensa no corpo, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos – a pessoa procure o serviço de saúde e informe que foi parasitada por carrapato.

Saraiva informa que para todas as notificações de casos suspeitos são desencadeadas medidas de assistência aos pacientes e de controle que incluem ações de vigilância epidemiológica, com busca ativa de pessoas com sintomas; atividades de educação em saúde e comunicação e mobilização social; ações de controle e intervenção ambiental; e articulação política e intersetorialidade.

Situação epidemiológica. Em 2008, foram notificados até agora 161 casos suspeitos de febre maculosa, sendo a grande maioria de moradores do município. Entre os residentes no município, foram registrados quatro óbitos. Até agora, foram confirmados três casos, todos homens, entre os quais um óbito - que é de um morador Sousas, um homem de 25 anos – e duas curas – um jovem de 19 anos, com LPI desconhecido e outro com LPI também em Sousas.

Em 2007, foram confirmados sete casos de Campinas num total de 390 notificados, com dois óbitos – os dois da Norte, um do Monte Belo e outro do Eulina. Em 2006, foram confirmados 12 casos desta doença entre moradores de Campinas, com quatro mortes, a maioria deles no Jardim Eulina, ao lado da Fazenda do Exército. No ano de 2005, foram sete, com 1 óbito, e, em 2004, 13, com uma morte.

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