Campinas prepara equipes de saúde para tratar tuberculose com novo medicamento, mais eficaz

01/10/2009

Autor: Denize Assis

Equipes de saúde de Campinas e região serão capacitadas no dia 8 de outubro por profissionais do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde para tratar a tuberculose com o novo medicamento adotado pelo Brasil.

Produzido por um laboratório indiano e já utilizado em outras partes do mundo, este novo esquema de tratamento – que reúne quatro fármacos em um único comprimido - é mais efetivo porque melhora a adesão do paciente e reduz o uso irregular.

A expectativa é que 200 servidores de 43 municípios da Direção Regional de Saúde 7 (DRS-7) participem da capacitação, sendo 60 deles da Secretaria de Saúde de Campinas. O evento acontece na Associação dos Cirurgiões Dentistas (ACDC), das 8h às 12h.

Na ocasião, vão ser dadas as orientações sobre a implantação do novo esquema terapêutico. Estes profissionais vão voltar a suas bases com a missão de organizar cursos locais de repasse das recomendações sobre o tratamento para as equipes que atendem aos pacientes nas unidades de saúde.

A previsão, em Campinas, é completar este processo o mais rapidamente possível, até o fim de outubro e começo de novembro, para que o novo tratamento possa ser iniciado ainda em 2009.

O primeiro lote do novo medicamento adquirido pelo Ministério da Saúde já chegou ao Brasil. Os comprimidos já estão em Brasília, onde ficarão estocados temporariamente. A distribuição do novo esquema terapêutico será em outubro, sendo que São Paulo e Rio de Janeiro serão os primeiros estados a recebê-lo.

O novo tratamento é o DFC (dose fixa combinada) ou “quatro em um”, como é conhecido. A vantagem dessa terapia é que ela aumenta a efetividade e a eficácia do tratamento com a inclusão de uma quarta droga em um mesmo comprimido, o que reduz o abandono e melhora a adesão ao tratamento.

A primeira remessa contém 10 milhões de comprimidos, quantidade suficiente para tratar 100 mil novos casos da doença. Esse montante corresponde à metade da compra de 20 milhões de comprimidos feita pelo governo brasileiro ao preço total de US$ 6 milhões. O próximo lote chegará ao País em fevereiro de 2010.

Cada comprimido do novo tratamento contém Rifampicina 150mg, Isoniazida 75mg, Pyrazinamida 400mg e Etambutol 275mg, medicamentos que atuam na eliminação do bacilo de Koch, causador da tuberculose. O novo esquema terapêutico será usado nos dois primeiros meses dos tratamentos de casos novos, a partir da implantação no Sistema Único de Saúde (SUS). Os pacientes que já estão em tratamento deverão manter a prescrição inicial.

O restante da terapia, que dura mais quatro meses, será feito com as drogas usadas atualmente. Dessa forma, continuarão em uso duas das quatro drogas em um mesmo comprimido, conhecido como “dois em um”. Portanto, tanto os novos quanto os antigos pacientes cumprirão o mesmo esquema terapêutico nos últimos quatro meses de tratamento. Para crianças até 10 anos continua sendo preconizado o tratamento atual.

A tuberculose é causada pelo bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis), que afeta vários órgãos, mas principalmente os pulmões. Os principais sintomas são tosse prolongada, cansaço, emagrecimento, febre e sudorese noturna. O bacilo é transmitido pelo ar, quando o paciente tosse, fala ou espirra. Em 1993, a OMS declarou a tuberculose como uma emergência global.

Avanço. “A mudança na terapia da tuberculose deve aumentar a adesão dos pacientes ao tratamento, elevar os índices de cura e reduzir o percentual de abandono da terapia, que não pode ser interrompida”, afirma a enfermeira sanitarista Maria do Carmo Ferreira, da Vigilância em Saúde de Campinas e responsável pelo Programa Municipal de Controle da Tuberculose.

Segundo Carmo Ferreira, a interrupção leva o bacilo do Koch a ficar resistente aos remédios, o que elimina a eficácia do tratamento e exige novas drogas. “No País, a taxa de resistência primária é muito grande, acima de 4% a uma das drogas. Nossa expectativa com a introdução de um quarto fármaco é aumentar o sucesso terapêutico e evitar o aumento da multirresistência”, diz.

Situação da doença. Embora tenha reduzido o percentual de abandono do tratamento da tuberculose para 9% em 2008, Campinas ainda está acima dos 5% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como parâmetro de aceitável. A meta brasileira é atingir este patamar até 2015. No Estado de São Paulo, o abandono é de 12,8%. No Brasil, a taxa é de 8%.

De acordo com o último relatório divulgado pela Vigilância em Saúde de Campinas, em números absolutos, Campinas registrou 292 novos casos da doença em 2008. A incidência de casos novos é de 27,6 por cada grupo de 100 mil habitantes. Se consideradas somente a forma pulmonar com baciloscopia positiva, a incidência é de 15,7/100 mil. No Brasil, em 2008, a incidência foi de 37,12. Em números absolutos, o País registrou 70.379 casos novos no ano passado.

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