Equipes são preparadas para tratar Tuberculose com novo medicamento, mais eficaz

09/10/2009

Autor: Denize Assis

Equipes de saúde de Campinas e de outros 42 municípios da região da Direção Regional de Saúde 7 (DRS-7) receberam nesta quinta-feira, dia 8 de outubro, orientações sobre o novo esquema de tratamento adotado pelo Brasil para tratar a tuberculose.

A capacitação foi ministrada por técnicos do Ministério e da Secretaria de Estado da Saúde e reuniu cerca de 200 pessoas na Associação dos Cirurgiões Dentistas de Campinas (ACDC). Também estavam presentes no treinamento médicos e enfermeiras da Vigilância em Saúde de Campinas.

Produzido por um laboratório indiano e já utilizado em outras partes do mundo, este novo esquema de tratamento – que reúne quatro fármacos em um único comprimido - é mais efetivo.

“Recomendado pela Organização Mundial de Saúde, este esquema terapêutico melhora a adesão do paciente, pelo menor número de comprimidos que ele vai ingerir, e reduz o uso irregular, portanto, diminui o número de casos com resistência”, afirmou o médico pneumologista Jorge Rocha, do projeto MSH, parceiro do Ministério da Saúde no Programa da Tuberculose. Ele integra a equipe de capacitação que esteve em Campinas.

Os profissionais capacitados hoje serão multiplicadores das orientações junto às equipes que atendem aos pacientes nas unidades de saúde.

A previsão, em Campinas, é completar este processo o mais rapidamente possível, até o fim de outubro e começo de novembro, para que o novo tratamento possa ser iniciado ainda em dezembro de 2009.

“Esta mudança adotada pelo Brasil representa um avanço. Traz ganhos para o controle dos casos, a prevenção da resistência e a gestão farmacêutica. O esquema, inclusive, é mais barato”, disse Jorge Rocha.

Quatro em um. Segundo a médica Vera Galesi, coordenadora do Programa Estadual de Tuberculose, a novidade é que os comprimidos para os dois primeiros meses serão apresentados em DFC (dose fixa combinada) ou ‘quatro em um’, como é conhecido. “A vantagem dessa terapia é que ela aumenta a efetividade e a eficácia do tratamento com a inclusão de uma quarta droga em um mesmo comprimido, o que reduz o abandono e melhora a adesão ao tratamento”, reiterou Vera. Junto com Jorge, Vera também integrou a equipe de capacitação presente em Campinas hoje.

A médica explicou que o Brasil está mudando o esquema de tratamento porque uma pesquisa recente mostrou valores acima de 4% de resistência a uma droga utilizada até então, o que é um indicativo da necessidade de incluir 4 drogas na fase inicial do tratamento.

Segundo Vera, o novo tratamento tem que estar acoplado a resolver desafios antigos entre as quais o aumento da cobertura de tratamento supervisionado – aquele em que profissional de saúde observa o paciente ingerir a medicação, seja o doente indo ao serviço de saúde ou a equipe de saúde indo até o paciente – e de alcançar a meta de cura de 85%.

De acordo com o Ministério da Saúde, a primeira remessa já recebida pelo Brasil – já se encontra em Brasília - contém 10 milhões de comprimidos, quantidade suficiente para tratar 100 mil novos casos da doença. Esse montante corresponde à metade da compra de 20 milhões de comprimidos feita pelo governo brasileiro ao preço total de US$ 6 milhões. O próximo lote chegará ao País em fevereiro de 2010.

Cada comprimido do novo tratamento contém Rifampicina 150mg, Isoniazida 75mg, Pirazinamida 400mg e Etambutol 275mg, medicamentos que atuam na eliminação do bacilo de Koch, causador da tuberculose. Para crianças até 10 anos continua sendo preconizado o tratamento atual.

Sobre a doença. A tuberculose é causada pelo bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis). Os principais sintomas são tosse prolongada, cansaço, emagrecimento, febre e sudorese noturna. O bacilo é transmitido pelo ar, quando o paciente tosse, fala ou espirra. O paciente deve procurar o Centro de Saúde se apresentar tosse por mais de três semanas, principalmente se tiver também febre e emagrecimento.

Embora tenha reduzido o percentual de abandono do tratamento da tuberculose para 9% em 2008, Campinas ainda está acima dos 5% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como parâmetro de aceitável. A meta brasileira é atingir este patamar até 2015. No Estado de São Paulo, o abandono em 2007 foi de 9,7%. No Brasil, a taxa é de 8%.

De acordo com o último relatório divulgado pela Vigilância em Saúde de Campinas, em números absolutos, Campinas registrou 292 novos casos da doença em 2008. Deste total, 36% receberam tratamento supervisonado, sendo que neste grupo a cura foi de 84% enquanto que a taxa de cura do total de pacientes foi de 74%.

“Isto reforça a importância do tratamento supervisionado”, afirmou a enfermeira sanitarista Maria do Carmo Ferreira, da Vigilância em Saúde de Campinas e responsável pelo Programa Municipal de Controle da Tuberculose.

Maria do Carmo informou, ainda, que o número de pacientes com tuberculose alcoolistas e com co-infecção por tuberculose/HIV foi de 17,5% e 17,8%, respectivamente.

“Nestes pacientes, o sucesso do tratamento é mais difícil, pelas interações medicamentosas, pela quantidade de medicação a ser ingerida diariamente e pela dificuldade de adesão ao tratamento. Isto reforça a necessidade do tratamento supervisionado diário até o final”, disse.

Segundo a OMS, 22 países concentram 80% dos casos de tuberculose no mundo. Nos últimos três anos, o Brasil passou da 14ª para a 18ª posição no ranking mundial de casos da doença - foram registrados 70.379 casos novos no ano passado no País. No total, considerando casos de retratamento, foram 83,5 mil casos. Cerca de 3% deles evoluíram para óbito.

Em relação à incidência, que é calculada com base no número total de casos em relação a cada grupo de 100 mil habitantes, o país ocupa o 108º lugar. No Brasil, a doença é a 4ª causa de mortes por doenças infecciosas e a 1ª em pacientes com Aids. Os exames e o tratamento da tuberculose são gratuitos no Brasil.

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