Captação de órgãos e tecidos para doação cresce no Hospital Mário Gatti

10/10/2012

Autor: Juliana Perrenoud

O número de doadores de órgãos e tecidos no Hospital Municipal Mário Gatti vem aumentando nos últimos anos. Em 2011, sete pessoas doaram órgãos e tecidos; somente nos primeiros cinco meses de 2012, esse número foi igualado. O aumento é consequência de uma busca mais ativa por parte da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), que funciona dentro do Mário Gatti, além de uma maior conscientização dos médicos e da população em geral.

Não é só em Campinas que a doação de órgãos vem crescendo. Dados do Ministério da Saúde indicam que as doações aumentaram em 12,7%, no comparativo com o primeiro semestre de 2011. Entre janeiro e junho de 2012, foram realizados 12.287 transplantes contra 10.905 nos primeiros seis meses de 2011. O número de doadores de órgãos também aumentou, passando de 997 em 2011 para 1.217 em 2012 (22%).

Débora Benevides, enfermeira responsável pela captação de órgãos e tecidos no Hospital, percorre diariamente os setores de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), neurologia e os Pronto Socorros Adulto e Infantil, para identificar potenciais doadores. Débora conta com o envolvimento de outros profissionais do Hospital, que devem comunicar a CIHDOTT a existência de pacientes com perfil de doador.

Quando um paciente é identificado com perfil de doador, cabe à equipe hospitalar informar à família sobre a possibilidade da doação. “Nesse momento muitas dúvidas surgem, como se o corpo ficará danificado, se o paciente sentirá dor, se eles podem saber a identidade do receptor. É preciso ser claro e demonstrar sensibilidade à dor desse momento. Não é um trabalho de convencimento, mas sim de esclarecimento”, conta Vera Lúcia Vicente Reche, assistente social da UTI Adulta.

Médico intensivista da UTI do Hospital Mário Gatti e coordenador da CIHDOTT, Dr. José Hugo Pierangeli, diz que o maior aliado no momento dessa difícil decisão da família é a informação. “Além de todos os esclarecimentos que temos de dar, do momento difícil e de muito sofrimento, saber o desejo do paciente que veio a óbito é fundamental nessas horas. Por isso, embora o assunto seja delicado, é sempre importante conversar sobre o desejo de ser doador com as pessoas próximas”, explica o médico, que atua há 17 anos no Hospital.

O estado do paciente é outro desafio para as equipes. “Pessoas que tenham tido câncer, doenças transmissíveis, chagas, sejam soropositivos, entre outros problemas de saúde, não podem ser doadores. Isso limita bastante o potencial de aproveitamento”, conta.

Por isso, grande parte dos doadores concentram-se nos setores de UTI, Neurologia e Urgência e Emergência. Com os aparelhos, é possível manter os órgãos funcionando, mesmo depois de morte encefálica.

“A morte cerebral é uma consequência da medicina moderna”, explica o médico intensivista. “Assim que entra em morte encefálica, as outras funções cessam e o corpo para. Conseguimos mantê-lo com equipamentos e drogas que sustentam os comandos vivos por mais tempo, através de uma condição artificial”. Esse é outro desafio, muitos não entendem que o coração esteja batendo, mas que não haja mais vida.

A doação

Caso a família aceite a doação, o paciente é preparado para ir ao Centro Cirúrgico e as equipes comunicam a Organização de Procura de Órgãos, da Unicamp, sobre a existência de um doador. Uma mostra de sangue é colhida para verificar a compatibilidade do doador com os possíveis receptores. “As equipes de capacitação vêm já direcionadas para o receptor. Ou seja, se o paciente que irá receber o coração for de Ribeirão Preto, a equipe médica da cidade quem irá retirar e transportar o órgão”, explica Pierangeli. Para preservar o receptor, sua identidade não é revelada.

A fila para receptores de órgãos é única em todo o país. “Mas, nem sempre o primeiro da fila é o que irá ser transplantado primeiro. Muitas vezes não há compatibilidade e o órgão acaba indo para outro paciente”, explica o médico.

O transplante representa alternativa terapêutica eficaz ou o único tratamento para pacientes com patologias onde há dano irreversível de algum órgão ou tecido.

O prazo máximo para que a cirurgia seja feita após a retirada do órgão e tecido varia, mas cada órgão e tecido tem um prazo curto para ser transplantado. As cirurgias de coração e de pulmão são as mais urgentes e devem ser feitas no prazo de até 4 horas. Depois vem a do fígado, do rim e do pâncreas, com até 12 horas. A operação dos dois rins pode ser feita em até 36 horas. Já a córnea pode ser transplantada em até sete dias. A facilidade ajuda a aumentar os números de cirurgia de córneas, além do fato de se tratar de uma operação que pode ser feita em ambulatórios, sem necessidade da internação do paciente.

O médico intensivista diz que houve um progresso muito grande em relação à doação de órgãos, especialmente dentro do Mário Gatti. “Mas ainda temos muito a evoluir. As equipes precisam estar mais engajadas, para conseguirmos aumentar o número de doadores”, explica.

Sem filas

Uma parceria de sucesso zerou todas as filas de espera por transplante de córneas no Estado de São Paulo. O Hospital dos Olhos de Sorocaba, em parceria com hospitais de todo o interior do Estado, é hoje responsável por exportar córnea para outros estados do país. “O pioneiro na parceria foi o Hospital Municipal Dr. Mário Gatti. Depois, Puc e Unicamp aderiram e, em pouco tempo, acabamos com a fila de espera, que era de 4 anos para o transplante de córnea”, conta a enfermeira Débora. Hoje, não há mais espera no Estado e o Hospital dos Olhos está enviando córneas para pacientes do Rio de Janeiro.

Fotos de Luiz Granzoto

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