Moradores da Mansões Santo Antônio passam por investigação clínica

12/11/2002

Nesta etapa, serão examinados 23 pessoas que moravam no local, consumiram água que provém do solo ou trabalharam em atividades que implicam no revolvimento de solo

A Secretaria de Saúde de Campinas prossegue nesta quarta-feira, 13 de novembro, com a investigação das condições de saúde das pessoas que estiveram expostas à contaminação ambiental do loteamento Mansões Santo Antônio, no bairro Santa Cândida, na região Leste de Campinas. Tecnicamente, este tipo de avaliação é denominada de investigação clínico-epidemiológica.

Nesta etapa da investigação, 23 pessoas deverão passar por exames médicos. Elas são parte de um grupo de moradores que esteve mais exposto à contaminação por morar no local há mais de 10 anos e consumir água que provém do solo, além de trabalhar em atividades que implicam no revolvimento de solo.

No último dia 4 de novembro, a Secretaria de Saúde coletou amostras de sangue destas 23 pessoas. As amostras foram enviadas para análises no Laboratório Municipal de Campinas. Também serão feitos exames de urina.

O investigação clínico-epidemiológica está sendo realizada pelos profissionais do Centro de Saúde Taquaral e da Vigilância Ambiental de Campinas. Foram disponibilizados quatro médicos e toda infra-estrutura do Centro de Saúde. O Hospital Municipal Mário Gatti também disponibilizou dois oncologistas para, se necessário, examinarem as pessoas.

A avaliação deste primeiro grupo servirá como referencial para a continuidade dos trabalhos da Secretaria de Saúde. Dependendo dos resultados, o restante da população que mora na área de influência da contaminação também será submetida à investigação clínico-epidemiológica.

Levantamento da Prefeitura aponta que este público é constituído por mil pessoas, incluindo trabalhadores da Concima – sessenta - e da Gardênia - quarenta.

O procedimento adotado para a investigação foi definido conjuntamente por profissionais do CRST (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador), Distrito de Saúde Leste e Vigilância Leste, Centro de Saúde Taquaral e Vigilância Ambiental, com assessoria da Secretaria de Estado da Saúde e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Entenda o caso

A contaminação ambiental foi ocasionada por uma já extinta indústria de produtos químicos, a Proquima. A empresa esteve instalada no local por mais de vinte anos, desde antes de 1976 até 1996. A fábrica foi, então, fechada e o terreno adquirido pela construtora Concima que, em 1997, iniciou lá a construção de um condomínio. Atualmente, já estão construídos na área três blocos de apartamentos, sendo que um deles já está ocupado por 43 famílias.

Em 15 de abril deste ano, a Prefeitura Municipal de Campinas foi informada oficialmente pela Cetesb, órgão responsável pelo Meio Ambiente no Estado de São Paulo, sobre a situação ambiental inadequada.

Desde então, a Prefeitura tem adotado uma série de intervenções para conter ou atenuar a contaminação da área e para conter os riscos que ela possa trazer às pessoas. A população foi orientada para não utilizar água que provenha do solo. Equipes da Secretaria de Saúde interditaram 19 poços, lacraram uma nascente e outros três poços. Também foi providenciada ligação de água tratada pela Sanasa.

A Prefeitura solicitou assessoria técnica à Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que está sendo fornecida por meio de profissionais dos Departamentos de Medicina Preventiva e Social, de Química e de Geociências.

O trabalho da Prefeitura também tem apoio técnico da Fundacentro (órgão do Ministério do Trabalho), da Funasa (órgão do Ministério da Saúde) e da Fiocruz (órgão do Ministério da Saúde e do Governo de Estado do Rio de Janeiro), além da assessoria dos Centros de Vigilância Sanitária e de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde e da DIR 12 (Direção Regional de Saúde de Campinas).

A Prefeitura prossegue com os estudos para reconhecer a extensão do problema, com identificação de outras rotas possíveis de contaminação. Os agentes de saúde têm estado presentes na área, sempre reforçando que os moradores não devem utilizar água que provenha do solo, nem mesmo para irrigação de plantas e hortaliças ou piscicultura. Eles também orientam e informam as pessoas sobre o andamento do processo de investigação e sobre as providências que estão sendo adotadas.

Atualmente, com a lacração dos poços e a proibição de movimentação de terra, estão estancadas as fontes de contaminação. A recuperação da área é de responsabilidade do dono do terreno que, atualmente, é a Concima.

Produtos perigosos

A Proquima trabalhava com a recuperação de solventes, a partir de resíduos industriais ou solventes contaminados, e com a fabricação de produtos de limpeza utilizando as seguintes substâncias: isopropanol, metanol, hidrocarboneto clorado húmido, querosene, etanol, toluol, butanol, dicloroetano, percloroetileno, acetona, clorofórmio em metanol, piridina, nomilfenoletoxilado, isobutilglicol, ácido fosfórico, soda líquida, ácido sulfônico, xileno sulfonato de sódio, sal quaternário de amônio, barrilha e tall-oil.

Até 1990, a Proquima recebeu, da Cetesb, 13 penalidades de advertência e cinco multas. Em julho de 90, a indústria foi interditada. A medida foi suspensa em agosto daquele mesmo ano, pelo juiz da 8ª Vara Cível da Comarca de Campinas. A liminar permitiu que a fábrica funcionasse até 7 de abril de 1995, quando foi assinado termo de compromisso com o Poder Judiciário para desativação da empresa em 18 meses. Em 1996, a Proquima encerrou as atividades.

Concima

Em 1996, a Concima S/A Construções Civis adquiriu o terreno da Proquima. Em 1997 iniciou a construção de oito blocos de apartamentos, sendo quatro em cada terreno de 8 mil metros quadrados.

Em 2001, quando ia iniciar o segundo empreedimento, a Concima teve que solicitar a autorização no Grapohab (órgão estadual que analisa projetos imobiliários acima de 15 mil metros quadrados). O pedido foi, então, indeferido pela Cetesb por se tratar de área suspeita de contaminação.

Em 25 de outubro de 2001, a Cetesb autuou a Concima, por meio de auto de infração, e determinou algumas providências. Dentre elas, isolar a área, paralisar obras de terraplanagem, interromper a venda de apartamentos, avaliar a qualidade da água de poços, avaliar qualitativamente os compostos orgânicos voláteis e avaliar os níveis de explosividade destes compostos.

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