Nesta
etapa, serão examinados 23 pessoas que moravam no local,
consumiram água que provém do solo ou trabalharam em
atividades que implicam no revolvimento de solo
A Secretaria de
Saúde de Campinas prossegue nesta quarta-feira, 13 de novembro,
com a investigação das condições de saúde das pessoas que
estiveram expostas à contaminação ambiental do loteamento
Mansões Santo Antônio, no bairro Santa Cândida, na região
Leste de Campinas. Tecnicamente, este tipo de avaliação é
denominada de investigação clínico-epidemiológica.
Nesta etapa da
investigação, 23 pessoas deverão passar por exames médicos.
Elas são parte de um grupo de moradores que esteve mais exposto
à contaminação por morar no local há mais de 10 anos e
consumir água que provém do solo, além de trabalhar em
atividades que implicam no revolvimento de solo.
No último dia
4 de novembro, a Secretaria de Saúde coletou amostras de sangue
destas 23 pessoas. As amostras foram enviadas para análises no
Laboratório Municipal de Campinas. Também serão feitos exames
de urina.
O investigação
clínico-epidemiológica está sendo realizada pelos
profissionais do Centro de Saúde Taquaral e da Vigilância
Ambiental de Campinas. Foram disponibilizados quatro médicos e
toda infra-estrutura do Centro de Saúde. O Hospital Municipal Mário
Gatti também disponibilizou dois oncologistas para, se necessário,
examinarem as pessoas.
A avaliação
deste primeiro grupo servirá como referencial para a
continuidade dos trabalhos da Secretaria de Saúde. Dependendo
dos resultados, o restante da população que mora na área de
influência da contaminação também será submetida à
investigação clínico-epidemiológica.
Levantamento da
Prefeitura aponta que este público é constituído por mil
pessoas, incluindo trabalhadores da Concima – sessenta - e da
Gardênia - quarenta.
O procedimento
adotado para a investigação foi definido conjuntamente por
profissionais do CRST (Centro de Referência em Saúde do
Trabalhador), Distrito de Saúde Leste e Vigilância Leste,
Centro de Saúde Taquaral e Vigilância Ambiental, com
assessoria da Secretaria de Estado da Saúde e da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas).
Entenda o caso
A contaminação
ambiental foi ocasionada por uma já extinta indústria de
produtos químicos, a Proquima. A empresa esteve instalada no
local por mais de vinte anos, desde antes de 1976 até 1996. A fábrica
foi, então, fechada e o terreno adquirido pela construtora
Concima que, em 1997, iniciou lá a construção de um condomínio.
Atualmente, já estão construídos na área três blocos de
apartamentos, sendo que um deles já está ocupado por 43 famílias.
Em 15 de abril
deste ano, a Prefeitura Municipal de Campinas foi informada
oficialmente pela Cetesb, órgão responsável pelo Meio
Ambiente no Estado de São Paulo, sobre a situação ambiental
inadequada.
Desde então, a
Prefeitura tem adotado uma série de intervenções para conter
ou atenuar a contaminação da área e para conter os riscos que
ela possa trazer às pessoas. A população foi orientada para não
utilizar água que provenha do solo. Equipes da Secretaria de Saúde
interditaram 19 poços, lacraram uma nascente e outros três poços.
Também foi providenciada ligação de água tratada pela Sanasa.
A Prefeitura
solicitou assessoria técnica à Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas), que está sendo fornecida por meio de
profissionais dos Departamentos de Medicina Preventiva e Social,
de Química e de Geociências.
O trabalho da
Prefeitura também tem apoio técnico da Fundacentro (órgão do
Ministério do Trabalho), da Funasa (órgão do Ministério da
Saúde) e da Fiocruz (órgão do Ministério da Saúde e do
Governo de Estado do Rio de Janeiro), além da assessoria dos
Centros de Vigilância Sanitária e de Vigilância Epidemiológica
da Secretaria de Estado da Saúde e da DIR 12 (Direção
Regional de Saúde de Campinas).
A Prefeitura
prossegue com os estudos para reconhecer a extensão do
problema, com identificação de outras rotas possíveis de
contaminação. Os agentes de saúde têm estado presentes na área,
sempre reforçando que os moradores não devem utilizar água
que provenha do solo, nem mesmo para irrigação de plantas e
hortaliças ou piscicultura. Eles também orientam e informam as
pessoas sobre o andamento do processo de investigação e sobre
as providências que estão sendo adotadas.
Atualmente, com
a lacração dos poços e a proibição de movimentação de
terra, estão estancadas as fontes de contaminação. A recuperação
da área é de responsabilidade do dono do terreno que,
atualmente, é a Concima.
Produtos perigosos
A Proquima
trabalhava com a recuperação de solventes, a partir de resíduos
industriais ou solventes contaminados, e com a fabricação de
produtos de limpeza utilizando as seguintes substâncias:
isopropanol, metanol, hidrocarboneto clorado húmido, querosene,
etanol, toluol, butanol, dicloroetano, percloroetileno, acetona,
clorofórmio em metanol, piridina, nomilfenoletoxilado,
isobutilglicol, ácido fosfórico, soda líquida, ácido sulfônico,
xileno sulfonato de sódio, sal quaternário de amônio,
barrilha e tall-oil.
Até 1990, a
Proquima recebeu, da Cetesb, 13 penalidades de advertência e
cinco multas. Em julho de 90, a indústria foi interditada. A
medida foi suspensa em agosto daquele mesmo ano, pelo juiz da 8ª
Vara Cível da Comarca de Campinas. A liminar permitiu que a fábrica
funcionasse até 7 de abril de 1995, quando foi assinado termo
de compromisso com o Poder Judiciário para desativação da
empresa em 18 meses. Em 1996, a Proquima encerrou as atividades.
Concima
Em 1996, a
Concima S/A Construções Civis adquiriu o terreno da Proquima.
Em 1997 iniciou a construção de oito blocos de apartamentos,
sendo quatro em cada terreno de 8 mil metros quadrados.
Em 2001, quando
ia iniciar o segundo empreedimento, a Concima teve que solicitar
a autorização no Grapohab (órgão estadual que analisa
projetos imobiliários acima de 15 mil metros quadrados). O
pedido foi, então, indeferido pela Cetesb por se tratar de área
suspeita de contaminação.
Em 25 de
outubro de 2001, a Cetesb autuou a Concima, por meio de auto de
infração, e determinou algumas providências. Dentre elas,
isolar a área, paralisar obras de terraplanagem, interromper a
venda de apartamentos, avaliar a qualidade da água de poços,
avaliar qualitativamente os compostos orgânicos voláteis e
avaliar os níveis de explosividade destes compostos.