Pesquisa
integra trabalho desenvolvido em cidades de países das Américas
sobre experiências positivas em saúde mental
O Programa de
Saúde Mental da Prefeitura de Campinas é referência para
estudo da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) sobre
experiências municipais inovadoras em saúde mental que começou
a ser desenvolvido nesta segunda-feira, 3 de novembro, pela
professora Cassis Henry da universidade americana de Harvard.
A pesquisadora, contratada pela Opas, deve permanecer na
cidade até dia 8. Apenas duas cidades brasileiras farão
parte do estudo. A outra é Sobral, no Ceará.
A Opas é um
órgão internacional de saúde pública vinculado à Organização
Mundial de Saúde (OMS). Seu objetivo é combater doenças,
melhorar a qualidade de vida e elevar a expectativa de vida
nos países das Américas por meio de pesquisas e trabalhos.
Durante a
pesquisa sobre experiências positivas em saúde mental, que
está sendo desenvolvida em municípios de vários países das
Américas, Cassis vai avaliar a qualidade dos serviços
prestados pela rede de atenção psicossocial implantada na
cidade e entrevistar usuários. O resultado será publicado
pela Opas e pela universidade. Em Campinas, uma comissão
formada por cidadãos que utilizam os serviços vai acompanhar
o trabalho da pesquisadora diariamente.
O coordenador
de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel
Godinho Delgado, informou que a escolha de Campinas se deve
aos bons resultados obtidos na implantação da rede comunitária
de atenção psicossocial, que se mostrou "eficiente e
humana".
A
coordenadora de saúde mental da Prefeitura de Campinas,
Florianita Coelho Braga, disse que Campinas se tornou referência
porque tem conseguido responder com agilidade à reforma
psiquiátrica proposta pelo Ministério da Saúde, que atende
às diretrizes propostas pela Organização Mundial de Saúde
(OMS).
"A
cidade fechou hospícios e passou a tratar as pessoas em
liberdade, inseridas no meio social de várias formas com
garantia de trabalho e moradia", informou Florianita.
Modelo.
Atualmente, a
rede de atenção à saúde mental de Campinas conta com oito
Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que são serviços
que prestam atenção diária, próximo à casa do usuário. A
iniciativa possibilita a maior participação de familiares,
facilita a integração do paciente no seu meio social,
promove a autonomia e permite, assim, sua recuperação.
Cinco deles são
destinados a adultos que necessitam de cuidados especiais.
Também há um Caps infantil, um para adultos que usam drogas
e álcool e outro exclusivo para crianças e adolescentes em
situação de rua que fazem uso de substâncias psicoativas.
Quatro deles funcionam 24 horas e oferecem 32 leitos.
Outra
iniciativa inovadora em Campinas, segundo Florianita, é
atender a emergência no território. Ela explica que existem
atualmente no Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu)
psiquiatras de plantão à noite e nos finais de semana.
"A
tentativa é iniciar o acompanhamento da pessoa desde a crise
intensa até a reabilitação, com atendimento aos chamados
domiciliares e de rua e ofertando retaguarda noturna aos Caps
24 horas", disse Florianita.
O programa de
saúde mental de Campinas possui ainda 30 casas distribuídas
em diversos bairros da cidade, onde vivem 142 pessoas que
viviam em hospícios e que não podem contar com cuidados
familiares.
Além disso,
todos os Centros de Saúde oferecem terapias complementares
como ginástica, caminhada, grupos de artesanato além de
outras atividades. A rede de atenção psicossocial inclui
ainda oficinas, cooperativas, centros de convivência que
funcionam em parceria com a comunidade e com Organizações Não
Governamentais (ONGs) e insere o portador de transtorno mental
de forma cidadã em todos os conselhos.
Reconhecimento.
A reforma
psiquiátrica que vem sendo implementada em Campinas está
sendo reconhecida como inovadora pelas mais importantes
instituições de saúde do País e do mundo.
Em dezembro
de 2001, na 3ª Conferência Nacional de Saúde Mental,
realizada em Brasília, o programa de saúde mental de
Campinas, juntamente com os trabalhos de outros dez municípios,
foi contemplado com o Prêmio David Capistrano, do Ministério
da Saúde, que premia experiência positivas em saúde mental.
A cidade também
consta entre os onze municípios brasileiros para os quais o
Ministério repassou recursos para capacitação de
profissionais nessa área.
Em maio de
2003, durante o Mês da Luta Antimanicomial, Campinas, ao lado
de outras cinco cidades, recebeu o "troféu de
reconhecimento pela experiência do modelo de saúde mental
para a inclusão".
O programa de
saúde mental de Campinas também recebeu da DIR (Direção
Regional de Saúde) de São José dos Campos o troféu de
reconhecimento do modelo Desafio para Inclusão.