Opas estuda programa de saúde mental implantado em Campinas

03/11/2003

Pesquisa integra trabalho desenvolvido em cidades de países das Américas sobre experiências positivas em saúde mental

O Programa de Saúde Mental da Prefeitura de Campinas é referência para estudo da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) sobre experiências municipais inovadoras em saúde mental que começou a ser desenvolvido nesta segunda-feira, 3 de novembro, pela professora Cassis Henry da universidade americana de Harvard. A pesquisadora, contratada pela Opas, deve permanecer na cidade até dia 8. Apenas duas cidades brasileiras farão parte do estudo. A outra é Sobral, no Ceará.

A Opas é um órgão internacional de saúde pública vinculado à Organização Mundial de Saúde (OMS). Seu objetivo é combater doenças, melhorar a qualidade de vida e elevar a expectativa de vida nos países das Américas por meio de pesquisas e trabalhos.

Durante a pesquisa sobre experiências positivas em saúde mental, que está sendo desenvolvida em municípios de vários países das Américas, Cassis vai avaliar a qualidade dos serviços prestados pela rede de atenção psicossocial implantada na cidade e entrevistar usuários. O resultado será publicado pela Opas e pela universidade. Em Campinas, uma comissão formada por cidadãos que utilizam os serviços vai acompanhar o trabalho da pesquisadora diariamente.

O coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel Godinho Delgado, informou que a escolha de Campinas se deve aos bons resultados obtidos na implantação da rede comunitária de atenção psicossocial, que se mostrou "eficiente e humana".

A coordenadora de saúde mental da Prefeitura de Campinas, Florianita Coelho Braga, disse que Campinas se tornou referência porque tem conseguido responder com agilidade à reforma psiquiátrica proposta pelo Ministério da Saúde, que atende às diretrizes propostas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

"A cidade fechou hospícios e passou a tratar as pessoas em liberdade, inseridas no meio social de várias formas com garantia de trabalho e moradia", informou Florianita.

Modelo.

Atualmente, a rede de atenção à saúde mental de Campinas conta com oito Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que são serviços que prestam atenção diária, próximo à casa do usuário. A iniciativa possibilita a maior participação de familiares, facilita a integração do paciente no seu meio social, promove a autonomia e permite, assim, sua recuperação.

Cinco deles são destinados a adultos que necessitam de cuidados especiais. Também há um Caps infantil, um para adultos que usam drogas e álcool e outro exclusivo para crianças e adolescentes em situação de rua que fazem uso de substâncias psicoativas. Quatro deles funcionam 24 horas e oferecem 32 leitos.

Outra iniciativa inovadora em Campinas, segundo Florianita, é atender a emergência no território. Ela explica que existem atualmente no Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) psiquiatras de plantão à noite e nos finais de semana.

"A tentativa é iniciar o acompanhamento da pessoa desde a crise intensa até a reabilitação, com atendimento aos chamados domiciliares e de rua e ofertando retaguarda noturna aos Caps 24 horas", disse Florianita.

O programa de saúde mental de Campinas possui ainda 30 casas distribuídas em diversos bairros da cidade, onde vivem 142 pessoas que viviam em hospícios e que não podem contar com cuidados familiares.

Além disso, todos os Centros de Saúde oferecem terapias complementares como ginástica, caminhada, grupos de artesanato além de outras atividades. A rede de atenção psicossocial inclui ainda oficinas, cooperativas, centros de convivência que funcionam em parceria com a comunidade e com Organizações Não Governamentais (ONGs) e insere o portador de transtorno mental de forma cidadã em todos os conselhos.

Reconhecimento.

A reforma psiquiátrica que vem sendo implementada em Campinas está sendo reconhecida como inovadora pelas mais importantes instituições de saúde do País e do mundo.

Em dezembro de 2001, na 3ª Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em Brasília, o programa de saúde mental de Campinas, juntamente com os trabalhos de outros dez municípios, foi contemplado com o Prêmio David Capistrano, do Ministério da Saúde, que premia experiência positivas em saúde mental.

A cidade também consta entre os onze municípios brasileiros para os quais o Ministério repassou recursos para capacitação de profissionais nessa área.

Em maio de 2003, durante o Mês da Luta Antimanicomial, Campinas, ao lado de outras cinco cidades, recebeu o "troféu de reconhecimento pela experiência do modelo de saúde mental para a inclusão".

O programa de saúde mental de Campinas também recebeu da DIR (Direção Regional de Saúde) de São José dos Campos o troféu de reconhecimento do modelo Desafio para Inclusão.

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