Projeto de Centro de Saúde elimina ratos e reduz risco de leptospirose

11/11/2003

O projeto de desratização "Um olho na gente e outro no rato", desenvolvido pelo Centro de Saúde (CS) São Vicente, Região Sul de Campinas, já reduziu a população de roedores e, conseqüentemente, o risco de doenças transmitidas por estes animais entre os moradores da Vila Formosa e de outros bairros da área de cobertura do Centro.

O resultado do trabalho e a avaliação técnica das atividades serão discutidos às 9h desta terça-feira, 11 de novembro, no CS São Vicente pelos profissionais do Centro de Saúde e por técnicos do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) e da Vigilância em Saúde Sul (Visa). O CS São Vicente fica na rua Francisco da Silva, 365, no bairro São Vicente.

Segundo o biólogo Normam Gratz, da Organização Mundial de Saúde (OMS), os ratos podem transmitir 55 doenças ao homem. Em Campinas, de acordo com a enfermeira sanitarista Brigina Kemp, da Vigilância Epidemiológica da Prefeitura, a mais importante é a leptospirose, pela alta letalidade – em alguns anos já atingiu 20%.

Somente em 2002, as equipes da Secretaria Municipal de Saúde investigaram 303 casos suspeitos de leptospirose em Campinas. Destes, 14 foram confirmados, sendo um deles em uma moradora da área de abrangência do Centro de Saúde São Vicente. Em 2003, já foram registrados 273 casos suspeitos e, deste total, 17 foram confirmados.

Uma das moradoras da Vila Formosa, a dona de casa Maria da Guia, de 67 anos, declarou que, depois do início das atividades, pôde constatar no seu dia-a-dia a redução na infestação de ratos na comunidade. "Eram tantos que até atacavam as pessoas. Meu marido foi mordido ao tentar matar um deles dentro de casa", disse.

Atualmente, segundo Maria da Guia, a infestação reduziu consideravelmente. "Já tem algum tempo que não encontro nenhum. A situação melhorou muito com o trabalho do Centro de Saúde", declarou.

A dona de casa Maria Regina Moraes, de 44 anos, também reconhece como muito importante o trabalho desenvolvido pela equipe de saúde do CS São Vicente. Maria Regina contraiu leptospirose no final do ano passado. Os primeiros sintomas apareceram no dia 12 de dezembro. "Começou com febre alta e tive dores nas pernas, no corpo e vômitos. O médico e a enfermeira do Centro de Saúde é que suspeitaram de leptospirose", disse.

Maria Regina mora numa casa com outras 5 pessoas, dentre elas um bebê de sete meses. Ela contou que havia tantos ratos que "eles só faltavam comer as pessoas. Estavam nos telhados e por todos os lugares. Minha casa tinha urina de rato nas gavetas".

Relatos como os de Maria da Guia e de Maria Regina eram ouvidos diariamente pelas equipes de saúde do São Vicente. A situação chegou ao extremo no primeiro semestre de 2002 quando uma mãe recorreu ao CS para relatar o encontro de ratos no berço do bebê recém-nascido.

Foi a partir daí que os profissionais do CS desenvolveram o projeto de desratização que inclui mapeamento das áreas de maior risco e de terrenos baldios, pesquisa da presença de roedores nas residências e em locais próximos, arrastões para retirada de entulhos e identificação das tocas, ações educativas casa a casa e nas escolas, capacitação da equipe de saúde e formação de multiplicadores na comunidade.

Para as atividades de eliminação dos ratos, a equipe, sob orientação dos profissionais do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), buscou uma solução ambientalmente adequada que consiste no tratamento com iscas colocadas em armadilhas confeccionadas com tubos de pvc, arame e madeira. Ao todo foram confeccionadas 120 armadilhas. "A vistoria sobre o uso seguro das armadilhas é feita regularmente", disse o engenheiro sanitarista Geovani Alves dos Santos, supervisor de controle ambiental da Secretaria de Saúde.

Ao todo, foram visitados 387 imóveis. Quarenta e nove deles receberam o tratamento com armadilhas e passaram a ser acompanhados com freqüência. Todos os moradores receberam material educativo. Os imóveis que receberam as iscas passaram a ser visitados regularmente para que se detecte se houve controle ou se há necessidade de recolocar as iscas ou de trocar as armadilhas ou o local onde elas estão dispostas.

Alunos e professores de sete escolas que ficam na área do CS São Vicente foram conscientizados sobre maneiras de combater a proliferação e como evitar as doenças transmitidas por ratos. A idéia, segundo Geovani, é estender as ações educativas para todos os equipamento sociais que ficam na área de cobertura do CS São Vicente.

"Queremos enfatizar a educação sanitária. A conscientização das pessoas sobre a disposição correta dos resíduos é um dos fatores mais importantes na busca do meio ambiente seguro que reduz os riscos não somente da leptospirose e da dengue mas de todas as outras doenças", disse Geovani.

O projeto de desratização envolveu agentes comunitários de saúde, profissionais do CCZ, funcionários da Ecocamp, trabalhadores da Regional 9 e contou com apoio do Conselho Local de Saúde do São Vicente, das escolas da região e da Secretaria de Serviços Públicos.

O trabalho, que já recebeu prêmios pela eficácia, é inédito no município e, de acordo com a Coordenadoria de Vigilância e Saúde Ambiental (Covisa), o intuito é que a experiência seja desenvolvida em outros locais de Campinas que enfrentam o mesmo problema.

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