Política de saúde mental de Campinas é apresentada durante conferência em Brasília

07/11/2005

A política de saúde mental implementada pela Secretaria de Saúde de Campinas será apresentada entre hoje e quarta-feira, 7 a 9 de novembro, em Brasília, para gestores do setor de vários países do mundo durante a Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. O evento é uma iniciativa conjunta do Ministério da Saúde e Organização Panamericana da Saúde (Opas) e reúne representantes da Espanha, Chile, Jamaica, México, Canadá, Cuba, Nicarágua, Peru, Argentina, entre outros.

Campinas vai estar representada pela psicóloga Elza Lauretti Guarido, coordenadora municipal de saúde mental, que expõe hoje, dia 7, a partir das 16h15, durante a sessão ‘Experiências inovadoras de saúde mental’, o trabalho do município e que terá como tema A experiência de desenvolvimento de serviços na comunidade em Campinas.

Segundo José Miguel Caldas de Almeida, chefe da unidade de Saúde Mental e Programas Especializados da Opas, a conferência tem como objetivos reunir informação necessária para um diagnóstico rigoroso da situação atual da reforma de saúde mental na Região das Américas, em especial no que diz respeito ao desenvolvimento e à qualidade dos serviços; analisar os processos de reforma desenvolvidos na Região, êxitos e fracassos e fatores que possam explicá-los; estabelecer as bases de um plano de ação regional para os próximos cinco anos, com metas bem definidas, de acordo com as necessidades de cada país e promover formas de cooperação necessárias para uma implementação bem sucedida do plano de ação.

Rede ampliada. Campinas foi uma das cidades pioneiras do Brasil a responder à reforma psiquiátrica que tem como diretriz o cuidar em liberdade, o que significa que cada vez menos o hospital é o destino dos portadores de transtornos mentais. Dentro desta política de atuação, a Secretaria Municipal de Saúde fechou hospícios e iniciou a construção de uma rede extra-hospitalar com a inserção das pessoas no meio social por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e da garantia de residências terapêuticas e do acesso ao trabalho e ao lazer.

Na concepção da reforma psiquiátrica, o modelo centrado na atenção hospitalar não reabilita totalmente o paciente. Quando isolado, o portador de transtornos mentais não consegue se ressocializar e perde sua individualidade.

Dentro deste contexto, foram criados os Caps como serviços de atenção diária, usados para substituir as internações hospitalares, onde são oferecidos desde cuidados clínicos até atividades de reinserção social do paciente. A equipe de profissionais dos Caps é multidisciplinar, justamente para prestar atendimento integrado ao paciente. O grupo é formado por psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, enfermeiras e auxiliares de enfermagem.

Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) de Campinas dispõe de uma rede de cuidados comunitários de saúde mental constituída por nove Centros de Atenção Psicossocial (Caps), quatro deles com 32 leitos, sendo um voltado para atendimento de crianças e adolescentes (Capsi) e um às pessoas que sofrem com transtornos causados pelo uso prejudicial de álcool e outras drogas (Caps/AD).

Também integram esta rede, três Centros de Convivência, que são espaços onde as pessoas desenvolvem trabalhos em esquema de cooperativa e participam de oficinas de dança, música, ginástica, ioga e de outros momentos de convívio. O município ainda disponibiliza mais de 30 repúblicas ou residências terapêuticas com aproximadamente 150 pacientes ex-moradores de hospitais psiquiátricos, várias oficinas de profissionalização e mais de 300 postos de geração de renda para os usuários.

Além disso, a cidade integra o De Volta para Casa – um programa Ministério da Saúde que destina um benefício mensal em dinheiro para ajudar no processo de ressocialização de portadores de transtornos mentais que tenham passado pelo menos dois anos internados em hospitais e clínicas psiquiátricas.

A Secretaria Municipal de Saúde tem atuado, ainda, para ampliar os serviços de saúde mental nos centros de saúde e, numa ação inédita no País, implantou, nos últimos anos, serviço psiquiátrico de plantão no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Com esta infra-estrutura, Campinas tornou-se, então, referência na área da saúde mental e é apontada – ao lado de Santos – como pioneira nos avanços da reforma psiquiátrica no país.

"Durante a conferência, vamos apresentar a trajetória de Campinas, com principais avanços e desafios. Com certeza será o momento de uma ampla troca de experiências e também de uma grande avaliação", diz a coordenadora municipal de saúde mental, Elza Lauretti.

Denize Assis

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