Campinas desencadeia medidas de prevenção e controle para conter surto comunitário de meningite

01/11/2011

Autor: Denize Assis

A Secretaria Municipal de Saúde de Campinas confirmou nesta segunda-feira, 31 de outubro, à tarde, a ocorrência de um surto de doença meningocócica – inclui meningite e meningococcemia - em uma comunidade na região leste de Campinas.

No local, há dois casos confirmados de meningite meningocócica C: um adulto homem de 27 anos que já foi curado; e uma criança, também do sexo masculino, de 2 anos, que está internada e permanece sob cuidados intensivos num hospital público do município. Além disso, há um terceiro caso suspeito em investigação: uma criança de dois anos e 10 meses que morreu no dia 28 com uma evolução clássica da forma mais grave da doença meningocócica e cujos exames estão em andamento.

A Secretaria de Saúde, por meio da Vigilância em Saúde (Visa), informa, ainda, que todas as medidas preconizadas para interromper o risco de casos secundários foram adotadas imediatamente após cada ocorrência. Cerca de 150 pessoas receberam tratamento com antibiótico específico. Esta medida, chamada de quimioprofilaxia, é direcionada às pessoas que tiveram contato íntimo com os casos confirmados e suspeitos e a única que permite evitar a ocorrência imediata de novos casos a partir dos já existentes.

Outra medida complementar, o bloqueio vacinal na população da comunidade atingida, já foi discutida com a Secretaria de Saúde do estado de São Paulo e deve ocorrer no próximo sábado. O contingente populacional a ser vacinado e a faixa etária estão sendo definidos de acordo com as características do surto e será restrito à área do surto, já que não trata-se de campanha.

Além disso, a Vigilância em Saúde de Campinas mobilizou equipes para fornecer informações adequadas aos prestadores de cuidados de saúde das redes pública e privada do município, à comunidade afetada, aos meios de comunicação e ao público em geral.

Assim como no Brasil, em Campinas a doença meningocócica é considerada endêmica. A ocorrência de casos é esperada ao longo de todo o ano, principalmente no inverno, assim como a possibilidade de surtos comunitários ou institucionais. A doença meningocócica é a principal causa de meningites bacterianas, sendo o sorogrupo C o de maior prevalência na maioria das regiões do país e o responsável pela maioria dos surtos notificados desde 2006.

Em 2011, foram registrados 31 casos da doença em Campinas e 11 óbitos até o momento (letalidade de 35,4%), sendo 61% dos casos do tipo C. Em 2010, no mesmo período, de janeiro a outubro, foram 49 casos e, no ano todo, 54, com 15 óbitos (letalidade de 27%).

“Todas as medidas indicadas foram desencadeadas imediatamente e o contato com a Secretaria de Estado da Saúde para medidas complementares também. A população deve ficar tranqüila porque trata-se de um surto localizado, não havendo até o momento nenhum risco identificado de disseminação para o restante da cidade”, informou o secretário municipal de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva.

A enfermeira sanitarista Brigina Kemp, coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Campinas, reforçou que esta não é uma situação inusitada e que a população deve ficar tranqüila porque o surto é “muito restrito a determinada comunidade”. Segundo ela, casos de meningite meningocócica são registrados durante o ano todo em Campinas.

“Pra conter este surto localizado estão sendo tomadas medidas direcionadas para esta comunidade. Peço que todos fiquem tranqüilos. Não é o primeiro surto que a gente investiga e controla em Campinas. Em 2007 tivemos um surto em um bairro na região norte do município. Adotamos as medidas para aquela comunidade e não teve disseminação para o restante da cidade”, afirmou Brigina.

O médico infectologista Rodrigo Angerami, da Visa Campinas, informou que é importante identificar e tratar precocemente os casos suspeitos de doença meningocócica para diminuir o risco de morte.

“Isto deve ser feito tanto a partir dos pacientes e seus responsáveis quanto a partir dos profissionais de saúde. Então, mães de crianças que apresentem febre, dor de cabeça, manchas pelo corpo e nos casos de crianças pequenas, que não conseguem ter queixas específicas, mas que apresentem dificuldade de alimentação e sonolência, devem procurar atendimento médico precoce. Em relação aos adultos, os sintomas podem começar de maneira que se confundem com outras doenças e também se caracteriza com febre, dor de cabeça, na nuca, vômitos e eventualmente manchas avermelhadas pelo corpo. Então, fica este alerta à população e também aos profissionais de saúde no sentido de que permaneçam atentos frente aos pacientes que apresentem sintomas”.

Segundo o infectologista, os “elementos-chave” para evitar complicações e óbitos são o diagnóstico e tratamento precoces.

Saiba mais. A doença meningocócica é uma infecção aguda causada por bactéria, a Neisseria meningitidis (meningococo). Acomete pessoas de todas as faixas etárias, porém a maior incidência é observada em crianças menores de 5 anos, sobretudo em menores de 1 ano.

Existe tratamento para a doença meningocócica. Embora atualmente não seja das doenças infecciosas mais prevalentes, apresenta potencial de gravidade e de mortalidade - morbimortalidade - elevado e com evolução rápida. A taxa de letalidade, em algumas situações, pode atingir valores superiores a 50%, quando existe a septicemia.

Às vezes, esta doença pode deixar sequelas, como amputação de membros periféricos e algum comprometimento cerebral. Além disso, pode provocar surtos e epidemias.

Ocorre durante todos os meses do ano. Mas, nas épocas mais frias e secas, como acontece com todas as doenças de transmissão respiratória, observa-se aumento nas ocorrências.

A doença meningocócica pode se manisfestar como uma meningite – infecção das meninges - e, na sua forma mais grave, a bactéria se espalha no organismo como uma septicemia, chamada meningoccemia. Também podem aparecer casos em que há presença de meningite e meningococcemia associadas. A paciente que morreu no final de semana apresentou a doença no forma de meningococcemia.

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