Bloqueio vacinal atinge pelo menos 1,6 mil na Vila Brandina

07/11/2011

Autor: Denize Assis

Pelo menos 1,6 mil pessoas foram vacinadas na Vila Brandina, no último sábado, 5 de novembro, durante bloqueio vacinal contra a meningite meningocócica C. O resultado é preliminar, sujeito a alterações.

A Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) notificou nesta comunidade um surto da doença. Entre os dias 10 e 28 de outubro, foram confirmados três casos no bairro, dois em crianças menores de três anos e um em adulto. Uma das crianças morreu. A outra continua internada, mas passa bem. O adulto já teve alta.

O bloqueio é uma ação complementar à principal medida de contenção do surto, que consiste na quimioprofilaxia, ou seja o tratamento com antibiótico específico para todos os casos que tiveram contato muito próximo e prolongado com cada pessoa acometida pela doença. Esta primeira ação foi desencadeada imediatamente após a notificação de cada ocorrência, antes mesmo da confirmação laboratorial.

“O bloqueio vacinal trata-se de uma ação que visa prevenir a disseminação dentro da comunidade onde o surto está restrito. A vacinação está preconizada como medida de saúde pública para o controle de surto. O bloqueio para os contatos de cada caso suspeito é feito individualmente com o antibiótico no momento da notificação”, disse a enfermeira sanitarista Salma Balista, da Covisa.

Segundo Salma, surto consiste na ocorrência de dois ou mais casos da mesma doença, em curto intervalo de tempo, localizado em espaço geográfico delimitado.

Mais de 100 profissionais de saúde foram mobilizados para atuar no bloqueio vacinal. Os servidores foram divididos em vinte equipes que percorreram oitocentos domicílios para aplicar a vacina em todos os moradores com até 29 anos.

A enfermeira sanitarista Brigina Kemp explicou que os moradores da Vila Brandina fora desta faixa de idade e que, portanto, não receberam a vacina, devem ficar tranqüilos. “O risco maior é para as crianças menores de dois anos e adultos jovens, como ficou demonstrado até o momento pelo comportamento da doença nesta comunidade. Mais importante que a vacina é o antibiótico que já foi ministrado a todos os contatos independentemente da faixa etária. A vacina é complementar”, disse.

Para os moradores na faixa até 29 anos e que não estavam em casa no sábado, no momento da visita das equipes, a orientação é que procurem o Centro de Saúde o mais rápido possível conforme indicado no documento deixado pelos profissionais de saúde no domicílio, para receber a dose da vacina recomendada.

Técnicos da Covisa avaliaram que o resultado da ação de sábado foi muito bom. A comunidade foi bastante receptiva e não houve recusas. A população, inclusive, colaborou na ação e cada equipe de saúde teve o apoio de um morador que acompanhou a vacinação de casa em casa, iniciativa esta que aponta mobilização e comprometimento dos moradores.

A família de dona Damiana Martins de Jesus, 52 anos, moradora do bairro foi uma das primeiras a receber a visita das equipes. Cinco dos nove filhos de Damiana, que estavam em casa no sábado, foram vacinados.

“Agora só falta o Elivelton e o Odivan, eu tenho outras duas que não estão aqui agora, mas vão tomar a vacina depois”, disse. Dona Damiana sabe da importância da imunização para a prevenção da meningite. “Precisamos prevenir para evitar um mal maior. Eu não tenho leitura, mas sei compreender pela boca dos outros que essa vacinação é uma coisa legal e muito boa para a saúde de todos aqui”, testemunhou.

Um dos filhos de dona Damiana, Josivaldo, 29 anos, que recebeu a vacina, explicou que toda a comunidade estava preocupada com a doença. “A gente escuta falar que a doença está perto da gente e fica preocupado, todo mundo está tomando, não dói nada e, com certeza, vai ser muito bom para a saúde de todos aqui”, disse.

A menina Daniela de Jesus, 9 anos, fez questão de contar que tomou a vacina e que não teve medo da picada da injeção. “Não dói nada, é rapidinho, agora não tenho mais medo de ficar doente”. Com a mesma disposição, Dilma da Silva Carvalho Souza, 24 anos, preocupada com o surto, permaneceu em casa no sábado para tomar a vacina. “Na outra rua aqui atrás teve dois casos, um das crianças é parente da minha tia e uma delas não resistiu e morreu. Eu tenho uma criança de três anos que tomou a vacina e, agora, eu fico mais tranqüila”, disse.

A sanitarista Brigina Kemp ressaltou que o surto é restrito à comunidade da Vila Brandina. De acordo com a enfermeira, a ocorrência não traz risco adicional para o restante da cidade, nem para quem estuda com as crianças do bairro, nem para quem eventualmente tem qualquer outro tipo de contato com a população do local.

“O surto não é na cidade de Campinas. É em um lugar restrito no município e só quem tem maior risco neste caso do surto são as pessoas que moram nesse bairro. Esta comunidade já está toda informada desse risco. O risco de quem mora em outros bairros da cidade não é diferente do que existia antes do surto”, disse Brigina.

Segundo a sanitarista, desta forma, não há necessidade de estender a vacinação para o restante da cidade. Brigina explicou que ninguém precisa correr pra tomar a vacina, não precisa mudar seu hábito de vida. “As pessoas devem levar a vida normalmente e fazer sua vacinação de acordo com o que já estava programado no seu calendário de rotina”, afirmou.

Assim como no Brasil, em Campinas a doença meningocócica é considerada endêmica. A ocorrência de casos é esperada ao longo de todo o ano, principalmente nos meses frios e secos. Há também a possibilidade de surtos comunitários (como este ocorrido agora na Vila Brandina) ou institucionais.

A doença meningocócica é a principal causa de meningites bacterianas, sendo o sorogrupo C o de maior prevalência e o responsável por um outro surto notificado em 2007 em um bairro da região norte de Campinas.

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