Ministério da Saúde vai investigar contaminação das Mansões Santo Antônio

13/12/2002

Objetivo é utilizar estudo como modelo para trabalhar outras áreas no País

A região do loteamento Mansões Santo Antônio, em Campinas, é uma das cinco áreas de contaminação ambiental do País escolhidas pelo Ministério da Saúde para um projeto piloto. O objetivo do projeto é implantar no Brasil uma metodologia para investigar exposição humana a solos contaminados.

A área das Mansões fica no bairro Santa Cândida, na região Leste de Campinas, e foi contaminada por solventes fabricados pela extinta indústria Proquima. Entre os produtos manipulados pela empresa está o cloreto de vinila, comprovadamente cancerígeno.

A inclusão de Campinas no plano piloto foi anunciada nesta sexta-feira, 13, pelo coordenador geral da Vigilância Ambiental em Saúde da Funasa, o médico Guilherme Franco Neto, doutor em epidemiologia ambiental. Ele visitou a área no início da tarde.

Outras duas áreas incluídas no projeto também são do Estado de São Paulo, das cidades de Bauru e Mauá. Em Bauru, a área é da Ajax, onde houve contaminação por chumbo. Em Mauá, o local a ser estudado é um condomínio construído sobre um lixão industrial. Também estão no projeto uma área de Santo Amaro da Purificação, na Bahia, e outra de um posto de gasolina, em Brasília.

Campos Neto informa que a escolha das áreas foi feita de acordo com alguns critérios. Na região das Mansões Santo Antônio foram levados em conta o fato de ser um ambiente contaminado onde houve exposição de pessoas e a estrutura das vigilâncias ambiental, sanitária e epidemiológica da Secretaria de Saúde de Campinas, dentre outros motivos.

A escolha representa um ganho para o município, já que, entre outros aspectos, durante a execução do piloto, profissionais da vigilância receberão capacitação técnica para atuar em áreas contaminadas. Os treinamentos serão ministrados por técnicos da Fundação Oswaldo Cruz e são custeados pelo Ministério da Saúde.

Como está a investigação das Mansões

Atualmente, a Secretaria de Saúde de Campinas está investigando que conseqüências a exposição à área das Mansões ocasionou à saúde dos moradores e das pessoas que trabalharam em obras que envolviam remoção de solo no local. Este público é constituído por cerca de 1 mil pessoas. A investigação clínico-epidemiológica, como é denominado o estudo, está no início e, por isso, ainda não é possível chegar a conclusões.

O investigação clínico-epidemiológica está sendo realizada pelos profissionais do Centro de Saúde Taquaral e da Vigilância Ambiental de Campinas. Foram disponibilizados quatro médicos e toda infra-estrutura do Centro de Saúde Taquaral e do Laboratório Municipal, onde estão sendo feitos os exames.

O procedimento adotado para a investigação foi definido conjuntamente por profissionais do CRST (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador), Distrito de Saúde Leste e Vigilância Leste, Centro de Saúde Taquaral e Vigilância Ambiental, com assessoria da Secretaria de Estado da Saúde e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Entenda o caso

A contaminação ambiental foi ocasionada por uma já extinta indústria de produtos químicos, a Proquima. A empresa esteve instalada no local por mais de vinte anos, desde antes de 1976 até 1996. A fábrica foi, então, fechada e o terreno adquirido pela construtora Concima que, em 1997, iniciou lá a construção de um condomínio. Atualmente, já estão construídos na área três blocos de apartamentos, sendo que um deles já está ocupado por 43 famílias.
Em 15 de abril deste ano, a Prefeitura Municipal de Campinas foi informada oficialmente pela Cetesb, órgão responsável pelo Meio Ambiente no Estado de São Paulo, sobre a situação ambiental inadequada.
Desde então, a Prefeitura tem adotado uma série de intervenções para conter ou atenuar a contaminação da área e para conter os riscos que ela possa trazer às pessoas. A população foi orientada para não utilizar água que provenha do solo. Equipes da Secretaria de Saúde interditaram 19 poços, lacraram uma nascente e outros três poços. Também foi providenciada ligação de água tratada pela Sanasa. Um grupo de moradores e de trabalhadores da Concima e da Gardênia estão sendo submetidos à exames clínicos e laboratoriais.

Também foram embargadas, em 27 de setembro, quatro construções que estão naquela área. As obras tiveram que ser suspensas porque, por necessitarem de movimentação de solo, poderiam oferecer risco para a saúde dos trabalhadores. A suspensão tem como base o decreto 14.091, publicado no Diário Oficial do Município de 27 de setembro.
A Prefeitura solicitou assessoria técnica à Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que está sendo fornecida por meio de profissionais dos Departamentos de Medicina Preventiva e Social, de Química e de Geociências.
O trabalho da Prefeitura também tem apoio técnico da Fundacentro (órgão do Ministério do Trabalho), da Funasa (órgão do Ministério da Saúde) e da Fiocruz (órgão do Ministério da Saúde e do Governo de Estado do Rio de Janeiro), além da assessoria dos Centros de Vigilância Sanitária e de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde e da DIR 12 (Direção Regional de Saúde de Campinas).
A Prefeitura prossegue com os estudos para reconhecer a extensão do problema, com identificação de outras rotas possíveis de contaminação. Os agentes de saúde têm estado presentes na área, sempre reforçando que os moradores não devem utilizar água que provenha do solo, nem mesmo para irrigação de plantas e hortaliças ou piscicultura. Eles também orientam e informam as pessoas sobre o andamento do processo de investigação e sobre as providências que estão sendo adotadas.

Atualmente, com a lacração dos poços e a proibição de movimentação de terra, estão estancadas as fontes de contaminação. A recuperação da área é de responsabilidade do dono do terreno que, atualmente, é a Concima.

Produtos perigosos

A Proquima trabalhava com a recuperação de solventes, a partir de resíduos industriais ou solventes contaminados, e com a fabricação de produtos de limpeza utilizando as seguintes substâncias: isopropanol, metanol, hidrocarboneto clorado húmido, querosene, etanol, toluol, butanol, dicloroetano, percloroetileno, acetona, clorofórmio em metanol, piridina, nomilfenoletoxilado, isobutilglicol, ácido fosfórico, soda líquida, ácido sulfônico, xileno sulfonato de sódio, sal quaternário de amônio, barrilha e tall-oil.
Até 1990, a Proquima recebeu, da Cetesb, 13 penalidades de advertência e cinco multas. Em julho de 90, a indústria foi interditada. A medida foi suspensa em agosto daquele mesmo ano, pelo juiz da 8ª Vara Cível da Comarca de Campinas. A liminar permitiu que a fábrica funcionasse até 7 de abril de 1995, quando foi assinado termo de compromisso com o Poder Judiciário para desativação da empresa em 18 meses. Em 1996, a Proquima encerrou as atividades.

Concima
Em 1996, a Concima S/A Construções Civis adquiriu o terreno da Proquima. Em 1997 iniciou a construção de oito blocos de apartamentos, sendo quatro em cada terreno de 8 mil metros quadrados.
Em 2001, quando ia iniciar o segundo empreedimento, a Concima teve que solicitar a autorização no Grapohab (órgão estadual que analisa projetos imobiliários acima de 15 mil metros quadrados). O pedido foi, então, indeferido pela Cetesb por se tratar de área suspeita de contaminação.
Em 25 de outubro de 2001, a Cetesb autuou a Concima, por meio de auto de infração, e determinou algumas providências. Dentre elas, isolar a área, paralisar obras de terraplanagem, interromper a venda de apartamentos, avaliar a qualidade da água de poços, avaliar qualitativamente os compostos orgânicos voláteis e avaliar os níveis de explosividade destes compostos. O responsável pela área é o atual proprietário, portanto a Concima que deve, inclusive, apresentar um estudo sobre o risco e uma proposta de recuperação da área.

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