Prefeitura pede que HC da Unicamp suspenda restrição no atendimento

05/12/2003

Denize Assis

A Prefeitura de Campinas reiterou ontem à direção do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) o pedido de que seja revista a decisão do hospital de restringir o atendimento à população a partir do dia 5 de janeiro. A redução no atendimento, conforme anunciado nas últimas semanas, inclui o fechamento para o público das portas do Pronto-Socorro (PS). A Secretaria de Saúde, desde que tomou conhecimento da decisão, tem solicitado à Unicamp a revisão da medida, uma vez que trará graves prejuízos à população do município e da Região. O PS do HC atende uma média de 350 pacientes por dia, sendo que 70% desta demanda são moradores de Campinas, principalmente das regiões Leste e Norte.

Além de fechar o PS e transformá-lo num serviço referenciado (que só atende pessoas encaminhadas por outros serviços), o HC anunciou que vai fechar os ambulatórios de baixa complexidade que atendem demandas como ginecologia e pré-natal e reduzir todo atendimento ambulatorial em 10%. O Hospital ainda pretende fechar cerca de 15% a 18% dos leitos destinados para doenças menos complexas transformando-os em leitos para procedimentos mais bem pagos pela tabela do Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com o médico sanitarista Adilson Rocha Campos, diretor de Gestão e Planejamento da Secretaria de Saúde, o impacto destas medidas no atendimento para a população será grande. Se a decisão se concretizar, a fila de espera por consultas de especialidades vai aumentar nos outros serviços públicos Campinas. A estimativa é de que o impacto será de 45 mil consultas por ano. A restrição vai atingir também cidades da região.

"O maior estrangulamento, no entanto, ocorrerá com o fechamento dos leitos. Somente em Campinas há um déficit de 100 leitos públicos e, com isso, temos cerca de 100 pacientes em macas nos Prontos-Socorros da cidade diariamente", diz Adilson. Segundo ele, outras cidades da região também têm déficit crônico de leitos, principalmente em algumas áreas como Unidade de Terapia Intensiva (UTI), neurocirurgia, cirurgia geral, ortopedia e clínica médica. "Isto significa que a medida gerará um caos no sistema de saúde regional", afirma.

De acordo com o HC, as restrições são necessárias devido à crise financeira. O hospital é gerido com recursos estaduais. Desde 2001, o Estado deixou de repassar R$ 2,3 milhões ao HC. Além disso, a instituição tem um déficit financeiro mensal de cerca de R$ 600 mil, valor que também deveria ser repassado pelo Governo Estadual.

A Secretaria de Saúde de Campinas quer que a direção do HC mude a decisão de iniciar as restrições, a partir de 5 de janeiro, e abra discussões em busca de alternativas. "Queremos uma opção que não implique no fechamento de leitos, na restrição ao atendimento e, conseqüentemente, que não prejudique o cidadão", diz Adilson. Ele informa que a Secretaria de Saúde, em busca de uma solução para a crise financeira, tem negociado entre a direção do HC e o Ministério da Saúde os repasses de um co-financiamento para as consultas de especialidades.

O grupo que discute as alternativas para a crise reúne representantes da Secretaria de Saúde de Campinas, dos hospitais Celso Pierro e Mário Gatti, dos trabalhadores e usuários do SUS, Ministério da Saúde, Secretaria de Estado da Saúde e do HC. A proposta dos envolvidos é prosseguir com as discussões sobre o papel do HC dentro do SUS e a efetivação do controle social sobre o hospital.

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