Denize Assis
A Prefeitura
de Campinas reiterou ontem à direção do Hospital de Clínicas
(HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) o pedido
de que seja revista a decisão do hospital de restringir o
atendimento à população a partir do dia 5 de janeiro. A
redução no atendimento, conforme anunciado nas últimas
semanas, inclui o fechamento para o público das portas do
Pronto-Socorro (PS). A Secretaria de Saúde, desde que tomou
conhecimento da decisão, tem solicitado à Unicamp a revisão
da medida, uma vez que trará graves prejuízos à população
do município e da Região. O PS do HC atende uma média de
350 pacientes por dia, sendo que 70% desta demanda são
moradores de Campinas, principalmente das regiões Leste e
Norte.
Além de
fechar o PS e transformá-lo num serviço referenciado (que só
atende pessoas encaminhadas por outros serviços), o HC
anunciou que vai fechar os ambulatórios de baixa complexidade
que atendem demandas como ginecologia e pré-natal e reduzir
todo atendimento ambulatorial em 10%. O Hospital ainda
pretende fechar cerca de 15% a 18% dos leitos destinados para
doenças menos complexas transformando-os em leitos para
procedimentos mais bem pagos pela tabela do Sistema Único de
Saúde (SUS).
De acordo com
o médico sanitarista Adilson Rocha Campos, diretor de Gestão
e Planejamento da Secretaria de Saúde, o impacto destas
medidas no atendimento para a população será grande. Se a
decisão se concretizar, a fila de espera por consultas de
especialidades vai aumentar nos outros serviços públicos
Campinas. A estimativa é de que o impacto será de 45 mil
consultas por ano. A restrição vai atingir também cidades
da região.
"O maior
estrangulamento, no entanto, ocorrerá com o fechamento dos
leitos. Somente em Campinas há um déficit de 100 leitos públicos
e, com isso, temos cerca de 100 pacientes em macas nos
Prontos-Socorros da cidade diariamente", diz Adilson.
Segundo ele, outras cidades da região também têm déficit
crônico de leitos, principalmente em algumas áreas como
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), neurocirurgia, cirurgia
geral, ortopedia e clínica médica. "Isto significa que
a medida gerará um caos no sistema de saúde regional",
afirma.
De acordo com
o HC, as restrições são necessárias devido à crise
financeira. O hospital é gerido com recursos estaduais. Desde
2001, o Estado deixou de repassar R$ 2,3 milhões ao HC. Além
disso, a instituição tem um déficit financeiro mensal de
cerca de R$ 600 mil, valor que também deveria ser repassado
pelo Governo Estadual.
A Secretaria
de Saúde de Campinas quer que a direção do HC mude a decisão
de iniciar as restrições, a partir de 5 de janeiro, e abra
discussões em busca de alternativas. "Queremos uma opção
que não implique no fechamento de leitos, na restrição ao
atendimento e, conseqüentemente, que não prejudique o cidadão",
diz Adilson. Ele informa que a Secretaria de Saúde, em busca
de uma solução para a crise financeira, tem negociado entre
a direção do HC e o Ministério da Saúde os repasses de um
co-financiamento para as consultas de especialidades.
O grupo que
discute as alternativas para a crise reúne representantes da
Secretaria de Saúde de Campinas, dos hospitais Celso Pierro e
Mário Gatti, dos trabalhadores e usuários do SUS, Ministério
da Saúde, Secretaria de Estado da Saúde e do HC. A proposta
dos envolvidos é prosseguir com as discussões sobre o papel
do HC dentro do SUS e a efetivação do controle social sobre
o hospital.