Relação
candidato vaga, na área de cirurgia geral, supera o índice
verificado no HC da Unicamp
Marco
Aurélio Capitão
Às
vésperas de completar dez anos de existência, o Programa
de Residência Médica (RM) do Hospital Municipal Dr. Mário
Gatti (HMMG) firma-se como um dos mais prestigiados e
concorridos cursos de especialização do País. Dia 3
deste mês, quando encerrou-se o prazo de inscrição para
o processo seletivo de RM para o ano que vem, 531
candidatos de todos os estados brasileiros haviam se
matriculado para concorrer a uma das 29 vagas oferecidas.
A
relação candidato vaga, por exemplo, na área de
cirurgia geral, com 191 candidatos para seis vagas, chega
a superar o índice verificado, para a mesma
especialidade, no Hospital das Clínicas (HC) da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com 210
candidatos para quinze vagas.
Todos
os cursos de Residência Médica do HMMG são credenciados
pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e
reconhecidos pelas respectivas associações. O tempo de
duração dos cursos varia de dois anos, como é o caso da
cirurgia geral e clínica médica, até cinco anos,
neurologia e cirurgia plástica, por exemplo.
No
Programa de RM do Mário Gatti são oferecidos cursos nas
especialidades de cirurgia vascular, urologia, cirurgia plástica,
neurologia e clínica cirúrgica. Quando foi criado, em
1994, o Programa atendia, apenas, as áreas de clínica médica
e cirurgia geral.
“Desde
então, a Residência Médica do Mário Gatti evoluiu
muito. Nos últimos dois anos a Secretaria de Saúde
investiu bastante na aquisição de equipamentos e,
principalmente, na qualificação do nosso corpo clínico
e isso explica a grande concorrência. Hoje, é um privilégio
poder fazer residência no Mário Gatti”, explica o médico
Mário Sérgio Rolim Zaidan, coordenador do Programa de RM
na área de cirurgia geral e presidente da Comissão de
Provas do processo seletivo 2004.
Zaidan
lembra que a política de valorizar e qualificar os médicos
orientadores reflete na qualidade do conteúdo que é
repassado aos residentes. Ele ressalta que “o preceptor,
hoje, tem mais bagagem e tempo para dedicar à orientação
dos alunos e, além disso, é remunerado para essa função”.
Hospital
prioriza Programa
A
melhora na qualidade do Programa de RM do Hospital
Municipal Dr. Mário Gatti ocorre, justamente, num momento
em que há uma diminuição na oferta das vagas dos cursos
de residência, em todo o estado e São Paulo, que eram
patrocinadas pela Fundação do Desenvolvimento
Administrativo (Fundap).
Essa
avaliação é feita pelo médico Antônio José de Pinho
Jr., presidente da Comissão de Residência Médica (Coreme)
do HMMG. Pinho Jr. faz questão de ressaltar que o
Programa de Residência do Mário Gatti é pago,
integralmente, com recursos do Município.
No
seu entender, “isso é possível a partir do momento em
que o Hospital prioriza o Programa de Residência e tem a
certeza de que, num segundo momento, esse esforço vai
resultar num serviço público de qualidade”.
Exemplo
desse esforço, segundo ele, está no repasse para o
Programa de RM de todo o recurso arrecadado com as taxas
de matrículas dos candidatos. Ele dá o exemplo do curso
de Avaliação da Residência Médica, dirigido aos
preceptorres, que é inteiramente pago com essa verba. As
aulas, no próprio hospital, são ministradas pela doutora
Valéria Vernaschi, médica da Faculdade de Medicina de
Marília (Famema).
Pinho
Jr. afirma, ainda, que o aperfeiçoamento do programa de
informatização do HMMG também contribui para melhorar a
qualidade das especializações. “Hoje, tanto na sala da
Coreme como nos diversos andares das enfermarias o
residente consegue pesquisar ou fazer a interface que
precisa para desenvolver seu trabalho”.
Residência,
um estágio imprescindível
Só
com o que aprende nas faculdades, o que inclui as melhores
instituições do País, o estudante não consegue a
qualidade que pode obter num curso de residência médica.
A análise é de Arthur Sarti, preceptor da área de clínica
médica e diretor setorial das áreas clínicas do
Hospital Mário Gatti.
Para
ele, já foi o tempo em que a residência médica era uma
opção para quem queria somar uma especialização em seu
currículo. Sarti revela que 98% dos médicos recém
formados no Estado de São Paulo prestaram algum concurso
para ingressar em cursos credenciados de residência médica.
“Para
se ter uma idéia – argumenta o médico – um requisito
básico para o médico ingressar, por meio de concurso, no
Mário Gatti, é que ele tenha, pelo menos, dois anos de
residência médica”.
Ele
acrescenta, ainda, que o empobrecimento do conteúdo das
disciplinas na faculdade, aliado ao fato de muitas
instituições de ensino estarem desvinculadas do
cotidiano hospitalar, acaba por formar um profissional
despreparado.
Essa
posição é compartilhada por Luiz Alberto Bacheschi,
presidente da Comissão de Pós-Graduação da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Em
entrevista ao Jornal do Conselho Regional de Medicina, edição
de novembro, ele coloca que “a residência, hoje,
tornou-se necessária como aprimoramento, já que os
cursos de graduação não cumprem a função de formar um
médico capacitado a atuar como tal, logo após a
formatura”.
Esse
despreparo, na avaliação de Arthur Sarti, gera um
descompasso com a demanda na prestação serviço. Esse
descompasso, no seu modo de ver, faz com que falte
resolutividade no atendimento primário. Em outras
palavras ele explica que, por exemplo, num centro de saúde,
o médico deveria ter condições de atender com
resolutividade entre 80% e 90% da demanda. “Ocorre que
acontece exatamente o contrário e, infelizmente, essa
inversão derruba a qualidade e sobregarrega os hospitais
e outros setores secundários que precisam estar
preocupados com outras
ações”.