De Volta para Casa beneficia pacientes com auxílio-reabilitação

17/12/2003

Denize Assis

Pacientes dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) de Campinas passaram a receber, neste dezembro, o auxílio-reabilitação psicossocial referente ao Programa De Volta para Casa, do Ministério da Saúde. O benefício, no valor de R$ 240 mensais, deve contemplar pelo menos 146 pessoas na cidade.

O objetivo do programa é estimular a ressocialização de portadores de transtornos mentais que passaram por longas internações. "O Governo Federal também pretende, com o programa, estimular a criação de serviços de assistência extra-hospitalar como os Caps", diz Florianita Coelho Braga, coordenadora da área de Saúde Mental da Prefeitura. Atualmente, 40 municípios brasileiros já são beneficiados com o De Volta para Casa e outros 15 foram habilitados pelo ministro da Saúde Humberto Costa esta semana (16 de dezembro).

A meta é que, em 2004, 2,2 mil pessoas estejam sendo contempladas com o programa em todo País. A partir daí, a cada ano, 3 mil novos pacientes entram no programa. A expectativa é atingir 11 mil beneficiários até 2007.

Auxílio. O auxílio-reabilitação psicossocial é entregue diretamente ao beneficiário, durante um ano, exceto em casos de pessoas com incapacidade de exercer atos da vida civil. Nesse caso, quem recebe a bolsa é o representante legal da pessoa. Cada paciente recebe um cartão magnético para retirar, mensalmente, o benefício em uma instituição financeira credenciada como agências ou postos de atendimento da Caixa Econômica Federal e casas lotéricas.

De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, se no período de 12 meses o beneficiário não apresentar condições favoráveis à completa reintegração à sociedade, o auxílio será renovado. Além dos R$ 240, os pacientes inscritos no de Volta para Casa têm garantia de acompanhamento de equipe especializada e participam de atividades de reabilitação, residência terapêutica, trabalho protegido, lazer monitorado, entre outras, conforme a necessidade de cada um.

Segundo a assessoria, apenas podem participar do programa aqueles pacientes que permaneceram internados por um período igual ou superior a dois anos em hospitais cadastrados do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, a pessoa deve apresentar situação clínica e social favorável à alta hospitalar. Pacientes que vivem nos serviços residenciais terapêuticos ou que estavam internados em hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico também podem se beneficiar do auxílio.

Homenagem. Uma das primeiras 206 pessoas a receber o auxílio-psicossocial no Brasil é o paciente Paulo Roberto Camisão, paciente do Caps Novo Tempo, serviço instalado na Região Sudoeste de Campinas. Ele tem 48 anos e morou por duas décadas em hospitais psiquiátricos de Mococa e Americana até passar a ser acompanhado pela equipe do Novo Tempo, em julho de 2002.

Paulo, que atualmente mora com um amigo, foi um dos nove pacientes homenageados durante a cerimônia de habilitação de novos municípios no De Volta para Casa, ocorrido em Recife no último dia 16. No evento, o ministro Humberto Costa anunciou o pagamento das primeiras bolsas.

"O benefício significa uma conquista no processo de reabilitação e um grande ganho na qualidade de vida dos pacientes. O Paulo ficou super bem com a notícia", afirma a terapeuta ocupacional Flaviana Miranda Martinele, da equipe que presta assistência a Paulo Camisão.

Outro paciente de Campinas beneficiado pelo De Volta pra Casa é João Batista Romualdo, de 43 anos. Ele apresentou a primeira crise de transtorno mental logo após a adolescência e ficou internado por oito anos. Neste período, João sofreu uma regressão no seu estado de saúde e quando chegou ao Caps Novo Tempo, em março de 2003, seu quadro estava muito comprometido.

A equipe do Novo Tempo acolheu João e sua família e, hoje, considera que ele progrediu bastante. De acordo com os profissionais, atualmente, o paciente já consegue perceber o espaço físico em que se encontra e se relacionar com as pessoas e até chamá-las pelo nome. E a expectativa é que o auxílio-psicossocial contribua para estimular ainda mais esta ressocialização.

Vanguarda. Na vanguarda da reforma psiquiátrica no Brasil, o município de Campinas conta atualmente com uma rede de cuidados comunitários de saúde mental do SUS constituída pelos Caps Esperança, Integração, Novo Tempo, Estação, David Capistrano e Antônio da Costa Santos. Também tem um Caps para crianças, o Centro de Vivência Infantil (Cevi), e outro para dependentes de álcool e outras drogas, que é o Centro de Referência e Informação sobre Álcool e Drogas (Criad).

Recentemente, o Centro de Referência de Atenção à Saúde do Adolescente (Craisa), que recebe adolescentes usuários de droga em situação de rua, também foi credenciado para atuar como Caps. Quatro desses Caps funcionam 24 horas.

Campinas conta, ainda, com dois núcleos de internação psiquiátrica instalados no Hospital Cândido Ferreira e um outro núcleo clínico que se responsabiliza pelas pessoas que não podem contar com cuidados familiares. O Programa de Saúde Mental da Prefeitura fechou hospícios e inseriu as pessoas no meio social por meio de garantia de moradias e trabalho. Com esta infraestrutura e com a diretriz de cuidar em liberdade, a cidade tornou-se uma das referências em todo o País na área de saúde mental. "E agora, o De Volta para Casa chega para fortalecer ainda mais esta rede de cuidados", afirma Florianita Coelho Braga, coordenadora da área de Saúde Mental da Prefeitura.

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