Saúde faz alerta para doenças comuns no verão

22/12/2003

Dengue, leptospirose e diarréias são mais comuns nos meses de muito calor e chuva

Denize Assis

O verão começou às 5h desta segunda-feira, 22 de dezembro, e deve trazer para Campinas temperaturas de até 36 graus e cerca de 16 temporais por mês, segundo previsão do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Estas condições climáticas, de acordo com a coordenação da Saúde Coletiva da Prefeitura, propicia o aumento de casos de dengue, leptospirose e diarréias, entre outras doenças.

Preocupada com esta perspectiva, a Secretaria de Saúde acaba de reforçar a orientação a todos os serviços de saúde pública da cidade para que estejam atentos para diagnosticar, tratar e acompanhar todos os casos de febre a esclarecer acompanhada ou não de outros sinais como dor de cabeça e nos músculos, sangramentos, diarréia e manchas avermelhadas na pele (exantemas).

Leptospirose. Segundo a enfermeira sanitarista Maria do Carmo Ferreira, da Vigilância em Saúde da Prefeitura, nos meses de verão, quando as chuvas são freqüentes e intensas, os casos de leptospirose aumentam em Campinas por causa do contato das pessoas com áreas atingidas por enchentes ou alagamentos.

Desde janeiro de 2003, foram confirmados 23 casos de leptospirose em Campinas, de acordo com dados provisórios da Secretaria de Saúde. Os meses de maior incidência da doença foram fevereiro e março, com 5 e 4 casos respectivamente. Além das ocorrências confirmadas, há outras 21 em investigação. Do total de casos notificados (inclui os confirmados e os em investigação), 13 pessoas morreram.

Carmo Ferreira informa que a bactéria que causa a doença, chamada leptospira, é eliminada no meio ambiente por meio da urina dos ratos e pode sobreviver principalmente em locais úmidos, como lama, água e margens de córregos. "O homem, ao entrar em contato com lama ou com a água contaminadas, pode infectar-se, especialmente se tiver cortes ou arranhaduras na pele ou nas mucosas. A infecção também pode se dar por meio da ingestão de alimentos, medicamentos e da água de beber contaminados", diz a enfermeira.
Após ser infectado, o homem pode manifestar os sintomas da doença num prazo de 7 a 14 dias. Os sinais são vômitos, dores musculares, principalmente na barriga da perna, dor de cabeça, coloração amarelada da pele, calafrios, alteração de volume urinário, febre elevada, fraqueza e sangramentos na pele e mucosas.

"Ao apresentar estes sintomas, a pessoa deve procurar imediatamente o Centro de Saúde de referência do seu bairro e relatar que teve contato com enchentes ou que se expôs a situações de risco para a doença", orienta Carmo Ferreira.

Prevenção. Para evitar a leptospirose, as pessoas podem adotar algumas medidas simples como manter o meio ambiente o mais limpo possível evitando, assim, a proliferação de ratos. O lixo doméstico deve ser posto fora de casa, em local alto, pouco antes do caminhão de coleta passar. Buracos entre telhas, paredes e rodapés devem ser vedados.

Quintais, terrenos vagos e ruas devem ser mantidos limpos e os córregos sem entulhos e outros objetos. À noite, objetos de animais domésticos devem ser lavados e guardados. Terrenos baldios devem ser limpos, murados e livres de lixo.

A caixa d'água precisa ser mantida limpa e tampada e os canos com aparas que impeçam a subida dos ratos ao reservatório. O contato direto com as águas ou com a lama que sobrar das enchentes deve ser evitado sempre. Com relação à leptospirose, chão, paredes, objetos caseiros e roupas atingidas pela enchente devem ser lavados com sabão e água sanitária (1 copo de água sanitária para 1 balde de 20 litros de água). Todos os alimentos e remédios atingidos pela inundação devem ser descartados. Se a caixa d'água foi invadida, é importante não utilizar esta água antes da desinfecção do reservatório.

Dengue. Com relação à dengue, as ocorrências aumentam principalmente porque o acúmulo de água nos criadouros e o calor propiciam a reprodução do mosquito Aedes aegypti, que transmite o vírus da doença. O mosquito pica uma pessoa doente e desencadeia a transmissão ao atacar outros indivíduos.

De acordo com Ovando Provati, biólogo da Secretaria de Saúde de Campinas, no verão, na água, em uma semana, a larva se transforma em um mosquito Aedes aegypti. "E basta um mosquito infectado para iniciar a transmissão num raio de 100 a 300 metros", diz.

E o risco aumenta ainda mais no período das férias porque o grande fluxo de pessoas que chegam, retornam ou passam por campinas facilita a transmissão da doença, segundo a psicóloga Fernanda Borges, coordenadora da ações de controle e prevenção da dengue na Prefeitura. Somente na rodoviária, onde circulam 12 mil pessoas por dia, o movimento aumenta mais de 15% nestas épocas do ano.

Dos 452 casos de dengue registrados desde janeiro de 2.003 no município, 70 são de pessoas que contraíram o vírus em viagens para fora da cidade. A maior parte das ocorrências foi notificada no início do ano, nos meses de verão.

Levantamento recente da Secretaria de Saúde mostra que o mosquito da dengue muitas vezes se desenvolve no próprio quintal das pessoas, nas vasilhas com água parada. E ainda mostra que mais de 80% dos criadouros disponíveis para o mosquito estão nas casas e quintais. São lotes sem capinar, cheios de sucatas, pratos de vasas de planta, latas, garrafas, potes, pneus e reservatórios de água entre outros.

É por isso, segundo a psicóloga Fernanda Borges, que cada família deve cuidar do seu quintal mantendo-o livre de qualquer recipiente que possa acumular água. "As comunidades precisam se unir contra a dengue", afirma.

Diarréias. Os registros de diarréia também crescem no período do verão em Campinas, segundo dados da Vigilância Epidemiológica Municipal. Os principais acometidos são crianças e idosos. Segundo o médico sanitarista Vicente Pisani Neto, coordenador da Vigilância em Saúde, na maioria das vezes os casos são simples e as pessoas podem receber cuidados em casa, como o soro caseiro e uma alimentação leve e natural.

No entanto, segundo Vicente, as diarréias podem levar à desidratação, que é a perda excessiva de água do organismo, acompanhada da perda de sais minerais e orgânicos. "Por isso, é importante que a pessoa neste estado tome bastante líquido", informa Vicente.

O médico orienta que a pessoa fique alerta para os sinais de desidratação que são olhos fundos, boca seca, fralda seca por mais de três horas, irritabilidade incomum e perda de elasticidade da pele. "Se o quadro estiver associado a febre e/ou vômito ou a sangue nas fezes e houver piora do estado geral é importante buscar ajuda da equipe de saúde do Paidéia no Centro de Saúde de referência do bairro onde a pessoa reside", diz Vicente.

De acordo com ele, o soro caseiro é uma solução prática e econômica para evitar a desidratação. A receita é simples: 1 litro de água filtrada, 1 colher (de sopa) de açúcar e uma colher (de café) de sal. A solução deve ser oferecida à vontade a cada 20 minutos e após cada evacuação líquida.

Cuidados com a higiene, como lavar as mãos sempre e o banho diário, além da lavagem das frutas e verduras antes do consumo são fundamentais para evitar e controlar diarréias. Também devem ser observados data de validade e temperatura adequada de conservação dos alimentos industrializados. A água de consumo engarrafada deve estar livre de algas e dentro da data de validade.

Previsão. O verão vai até o dia 20 de março de 2004. De acordo com o Cepagri, até lá, a previsão é de temperaturas elevadas, com média de 29,5 graus em dezembro e 29,7 em março. As maiores chuvas ocorrem em janeiro e devem chegar a 260 milímetros. Os dias são, na maioria, encobertos e com umidade do ar elevada. O número de horas com sol diminui, sendo mais longos na entrada do verão, com cerca de 13,5 horas, e menores na entrada do outono quando passam a ter aproximadamente 12 horas de duração.

Para as próximas horas, em Campinas, as perspectivas são de aparecimento de sol, com formação de nebulosidade durante à tarde e ocorrência de chuvas apenas de caráter isolado durante à tarde e início da noite. Não há previsão de chuvas generalizadas até o dia 24.

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