HC adia restrição no atendimento

23/12/2002

Hospital revê decisão e retoma discussão do papel da instituição no Sistema Único de Saúde

Denize Assis

O Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) aceitou suspender a restrição do atendimento à população a partir de janeiro de 2004 e vai retomar as discussões sobre como deve ser a inserção da instituição no Sistema Único de Saúde (SUS) regional.

A decisão atende a solicitação da Prefeitura de Campinas e da Câmara Temática de Saúde da Região Metropolitana de Campinas (RMC), uma vez que o corte nos atendimentos traria graves prejuízos à população do município e das cidades vizinhas. Somente em Campinas o impacto seria de 45 mil consultas por ano.

A Câmara Temática de Saúde da RMC reúne representantes da Secretaria de Saúde de Campinas, da Direção Regional de Saúde (DIR-12), do HC, da Unicamp e de municípios da região. A proposta dos envolvidos é prosseguir com as discussões sobre o papel do HC dentro do SUS e a efetivação do controle social sobre o hospital.

De acordo com o médico sanitarista Adilson Rocha Campos, diretor de Gestão e Planejamento da Secretaria de Saúde de Campinas, a direção do HC aceitou suspender a restrição até abril e, neste período, discutir qual é e como deve ser o papel do hospital no SUS regional. "Assim teremos tempo de implantar medidas para orientar a inserção do HC no sistema de saúde local e regional e garantir que a população não seja prejudicada. O mais importante é que nenhum paciente deixe de ser atendido", diz Adilson.

Segundo Adilson, em abril começa a vigorar o Programa de Pactuação Integrada (PPI) que prevê a realocação de recursos do SUS repassados aos municípios. Com o programa, segundo ele, haverá racionalização de recursos, conforme pacto de atendimento regional.

De acordo com o diretor, Campinas propôs que o HC passe a atender no Pronto-Socorro conforme avaliação de risco ou seja os pacientes passam a ser atendidos de acordo com a gravidade do caso e não mais por ordem de chegada. A modalidade de atendimento por risco já foi implantada pelo Hospital Municipal Dr. Mário Gatti e tem surtido bons resultados.

Segundo a direção do HC, as mudanças que implicam na restrição do atendimento são necessárias devido à crise financeira. O hospital é gerido com recursos estaduais. Desde 2001, o Estado deixou de repassar R$ 2,3 milhões ao HC. Além disso, a instituição tem um déficit financeiro mensal de cerca de R$ 600 mil, valor que também deveria ser repassado pelo Governo Estadual.

Restrição. A redução no atendimento, conforme proposta inicial do HC, inclui o fechamento para o público das portas do PS. A unidade atende uma média de 350 pacientes por dia, sendo que 70% desta demanda são moradores de Campinas, principalmente das regiões Leste e Norte.

Além de fechar o PS e transformá-lo num serviço referenciado (que só atende pessoas encaminhadas por outros serviços), de acordo com a proposta, o HC pretende fechar os ambulatórios de baixa complexidade que atendem demandas como ginecologia e pré-natal e reduzir todo atendimento ambulatorial em 10%. O Hospital ainda vai fechar cerca de 15% a 18% dos leitos destinados para doenças menos complexas transformando-os em leitos para procedimentos mais bem pagos pela tabela do Sistema Único de Saúde (SUS).

O maior estrangulamento, no entanto, será com o fechamento dos leitos, segundo Adilson Rocha Campos. "Somente em Campinas há um déficit de 100 leitos públicos e, com isso, temos cerca de 100 pacientes em macas nos Prontos-Socorros da cidade diariamente", diz Adilson. Segundo ele, outras cidades da região também têm déficit crônico de leitos, principalmente em algumas áreas como Unidade de Terapia Intensiva (UTI), neurocirurgia, cirurgia geral, ortopedia e clínica médica.

Volta ao índice de notícias