Leishmaniose Visceral: Campinas inicia inquérito sorológico em cães

01/12/2009

Autor: Denize Assis

Para investigar possível foco de leishmaniose visceral, a Secretaria de Saúde de Campinas inicia nesta terça-feira, dia 1° de dezembro, inquérito sorológico em cães em uma comunidade de um condomínio localizado na região leste de Campinas. No local foi confirmado um caso autóctone de Leishmaniose Visceral Canina – trata-se do primeiro registro desta doença em cão infectado no próprio município.

O inquérito é parte das investigações que estão sendo desencadeadas no local, que incluem também identificação do vetor (investigação entomológica) e análise ambiental.

A coleta será realizada por cinco equipes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Secretaria de Saúde de Campinas. Cada equipe é composta por um veterinário, um ajudante de veterinário e um agente comunitário de saúde. Segundo avaliação da administração do condomínio, há cerca de 150 cães na comunidade. Todos serão submetidos a exames. A previsão é que as ações se estendam até sexta-feira. A coleta será sempre das 9h às 12h.

Os exames serão processados pelo Instituto Adolfo Lutz de São Paulo e os resultados devem ficar prontos em 30 dias.

Após a coleta de sorologia, na segunda semana de dezembro, técnicos do CCZ em parceria com profissionais da Superintendência do Controle de Endemias (Sucen) devem iniciar a investigação sobre o vetor, o mosquito Lutzomia longipalpis – mosquito palha ou birigui.

Esta ação, denominada tecnicamente de investigação entomológica, será feita por meio da colocação de armadilhas. O trabalho será realizado por uma equipe formada por quatro pessoas que vão atuar em duplas. Cada dupla terá uma pessoa que vai trabalhar dentro do domicílio e outra que vai atuar fora. A investigação ocorrerá durante três noites, a partir do crepúsculo porque o Lutzomia longipalpis tem hábitos crepusculares e noturnos. Os insetos coletados serão encaminhados para a Sucen para a identificação.

As ações na comunidade também incluem atividades de informação, educação em saúde e mobilização social. Na sexta-feira, dia 27, foi realizada uma primeira reunião com a comunidade para informar sobre o caso, sua importância para a saúde pública e as ações a serem desencadeadas.

Investigação conjunta. As investigações sobre o primeiro caso confirmado de Leishmaniose Visceral em cão em Campinas estão sendo conduzidas pela Secretaria de Saúde Municipal - por meio da Vigilância em Saúde e Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), em conjunto com o Centro de Saúde da área onde foi registrada a ocorrência – em conjunto com a Secretaria de Estado da Saúde – por meio da Superintendência do Controle de Endemias (Sucen), Instituto Adolfo Lutz e Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE).

A Leishmaniose Visceral é considerada um grave problema de saúde pública no Brasil. É de notificação compulsória, o que significa que as ocorrências têm que ser informadas às autoridades sanitárias rapidamente.

A doença está presente em 21 estados brasileiros e nos últimos anos foi registrada uma média anual de 3.357 casos humanos e 236 óbitos. No Estado de São Paulo, está presente em vários municípios. Em 2008, foram registrados 1.536 casos humanos no Estado e 134 óbitos.

Segundo o médico infectologista Rodrigo Angerami, da Vigilância em Saúde de Campinas, no Brasil, na grande maioria dos municípios nos quais a doença se tornou endêmica, a ocorrência de cães infectados geralmente precedeu a ocorrência de casos humanos. “Os cães infectados, sem a menor dúvida, se constituem um elemento fundamental na cadeia de transmissão. Por esse motivo, este primeiro caso autóctone em Campinas merece atenção especial”, diz. Entretanto, a identificação do cão infectado não implica, necessariamente, na ocorrência futura de novos casos entre a população de cães e nem no início da transmissão entre humanos.

Rodrigo Angerami informa que, até a notificação do cão infectado, Campinas era considerado um município epidemiologicamente silencioso em relação a esta doença, muito embora a proximidade com algumas regiões do Estado, onde já havia a transmissão da doença, tornava o município potencialmente vulnerável. Com esta ocorrência, passou a ser considerado município sob investigação.

A leishmaniose visceral tem tratamento em humanos. No entanto, no cão, o tratamento não está indicado porque representa risco para a saúde pública.

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