Campinas confirma casos de Leishmaniose Visceral em cães

17/12/2010

Autor: Denize Assis

A Secretaria de Saúde de Campinas informa nesta sexta-feira, dia 17 de dezembro, a ocorrência de sete casos positivos de Leishmaniose Visceral Canina (LV) em um bairro entre Sousas e Joaquim Egídio, na região leste da cidade. No local, existe um foco da doença em cães. O primeiro caso foi registrado no final de 2009 e, desde então, houve confirmação de 10 cães soropositivos, já somados os sete novos.

Todas as ocorrências, confirmadas por exames laboratoriais, são autóctones, ou seja: os animais foram infectados no local. Os três primeiros cachorros confirmados, um no final de 2009 e outros dois no início de 2010, eram sintomáticos – apresentavam sinais da doença - e foram a óbito. Este é o primeiro foco autóctone de Leishmaniose Visceral Canina registrado em Campinas.

Até a notificação deste foco autóctone, Campinas era considerado um município epidemiologicamente silencioso em relação a esta doença, muito embora a proximidade com algumas regiões do Estado, onde já havia a transmissão da doença, tornasse o município potencialmente vulnerável. Com esta ocorrência, passou a ser considerado município com transmissão canina.

A Leishmaniose Visceral é uma zoonose que pode afetar o homem. É transmitida pelo mosquito Lutzomyia longipalpis também conhecido como ‘mosquito palha’ ou ‘birigui’. O mosquito pica o animal infectado e ao picar o homem transmite a doença. Acomete vísceras, como o fígado e o baço, podendo ocasionar aumento de volume abdominal. Pode levar o homem à morte, se não tratada.

Os moradores do condomínio, onde está restrito o foco, foram informados sobre as novas ocorrências na noite da quarta-feira, dia 15 de dezembro, em reunião com técnicos da Vigilância em Saúde Municipal e representantes do Distrito de Saúde Leste e do Centro de Controle de Zoonoses. Na mesma reunião, a comunidade foi comunicada sobre providências já adotadas e ações que serão implementadas.

As famílias também receberam orientações sobre cuidados para prevenir novos casos e a necessidade de procurar a Vigilância em Saúde e o Centro de Controle de Zoonoses para informar sobre animais com sintomas sugestivos da doença ou que venham a morrer na comunidade.

Providências. Imediatamente após a confirmação do primeiro caso, em novembro de 2009, a Secretaria de Saúde iniciou a investigação no local, chamada de investigação de foco (IF). Foram mobilizadas equipes do Centro de Controle de Zoonoses, da Vigilância em Saúde Leste e do Centro de Saúde local.

As investigações e acompanhamento do foco contam com a parceria da Secretaria de Estado da Saúde, por meio da Superintendência do Controle de Endemias (Sucen), Instituto Adolfo Lutz e Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE).

Além de inquérito sorológico em cães, que são realizados a cada seis meses, as ações incluem investigação entomológica, para identificar a presença do vetor (transmissor) da Leishmaniose Visceral Animal, o mosquito Lutzomyia longipalpis; diagnóstico ambiental; atividades de educação, informação e mobilização social; e coleta de material de animais silvestres do entorno da área em investigação.

Segundo o CCZ de Campinas, já foi identificado no condomínio o mosquito transmissor infectado pela Leishmania chagasi, que causa a doença.

Embora o foco esteja limitado ao condomínio, a Vigilância em Saúde expandiu o raio de investigação do vetor na região e iniciou investigação no condomínio vizinho.

Cuidados. Na reunião de quarta-feira, os moradores receberam orientações acerca das medidas a serem observadas para a prevenção e controle desta zoonose relativas ao reservatório doméstico - o cão; ao meio ambiente; e ao vetor.

A enfermeira sanitarista Maria Filomena Gouveia Vilela, diretora da Vigilância em Saúde de Campinas, informa que, diante destes primeiros casos confirmados nesta investigação de foco, a Vigilância em Saúde está alerta à possibilidade de novos casos em outros locais da cidade. “Vamos promover levantamento entomológico em outras áreas do município e capacitar equipes das redes pública e privada de Saúde”, informa.

Mais sobre a doença. A Leishmaniose Visceral é considerada um grave problema de saúde pública no Brasil. É de notificação compulsória, o que significa que as ocorrências têm que ser informadas às autoridades sanitárias rapidamente.

A doença está presente em 21 estados brasileiros. São mais de 200 óbitos em humanos por ano. No Estado de São Paulo, está presente em pelo menos 108 municípios.

Segundo o médico infectologista Rodrigo Angerami, da Vigilância em Saúde de Campinas, no Brasil, na grande maioria dos municípios nos quais a doença se tornou endêmica, a ocorrência de cães infectados geralmente precedeu a ocorrência de casos humanos. “Os cães infectados, sem a menor dúvida, se constituem um elemento fundamental na cadeia de transmissão. Por esse motivo, este primeiro foco autóctone em Campinas merece atenção especial”, diz. Entretanto, a identificação do cão infectado não implica, necessariamente, no início da transmissão entre humanos.

No Estado de São Paulo, além de Campinas, há pelo menos três municípios com transmissão canina, sem transmissão entre humanos: Embu das Artes, São Pedro e Espírito Santo do Pinhal.

A leishmaniose visceral tem tratamento em humanos. No entanto, no cão, o tratamento não está indicado porque representa risco para a saúde pública. A proibição do tratamento canino está indicada na Portaria IM nº 1.426 (2008) que regulamenta o Decreto nº 51.838 (1963), dos Ministérios da Saúde e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Mais sobre a Leishmaniose Visceral

O que é?

A leishmaniose visceral é uma zoonose que pode afetar o homem. É infecciosa, mas não contagiosa, ou seja: não é transmitida de pessoa para pessoa. Acomete vísceras, como o fígado e o baço, podendo ocasionar aumento de volume abdominal.

Qual o agente envolvido?

É causada por protozoário da família Tripanosoma, gênero Leishmania e espécie Leishmania chagasi.

Quais os sintomas?

Os sintomas são febre e aumento do volume do fígado e do baço, emagrecimento, complicações cardíacas e circulatórias, desânimo, prostração, apatia e palidez. Pode haver tosse, diarréia, respiração acelerada, hemorragias e sinais de infecções associadas. Quando não tratada, a doença evolui podendo levar à morte até 90% dos doentes.

Como se transmite?

A LV é transmitida ao homem por meio da picada do inseto vetor conhecidos popularmente como "mosquito-palha, birigui, asa branca, tatuquira e cangalhinha". Esses insetos têm hábitos noturnos e vespertinos, atacando o homem e os animais, principalmente no início da noite e ao amanhecer.

No Brasil, não há registro de transmissão direta de pessoa para pessoa.

Como tratar?

O SUS oferece tratamento específico e gratuito para a doença. O tratamento é feito com uso de medicamentos específicos, repouso e uma boa alimentação.

Como prevenir?

As medidas de controle são distintas e adequadas para as áreas com transmissão, como eliminação de cães infectados, controle químico do inseto transmissor e a destinação correta do lixo, entre outras medidas de higiene e conservação ambiental que evitam a proliferação do vetor. Entretanto é de fundamental importância que as medidas usualmente empregadas no controle da doença sejam realizadas de forma integrada, para que possam ser efetivas.

Medidas adotadas no condomínio em Campinas:

Em relação aos cães: Realização de inquérito sorológico em cães a cada seis meses, eliminação dos cães reagentes, utilização da coleira repelente, notificação ao CCZ dos cães com sintomas ou que morram no condomínio.

Em relação ao manejo ambiental: orientação para remoção contínua de folhas, frutos e resíduos provenientes de poda; remoção de matéria orgânica; remoção de fezes de cães; destinação adequada de resíduos; e eliminação da criação de galinhas e da presença de aves soltas no local; eliminação de criações de animais de exploração econômica conforme legislação municipal e estadual vigentes.

Dirigidas ao vetor: orientação em relação ao uso de telas milimétricas em portas e janelas, com o objetivo de evitar a entrada de insetos no interior das residências; uso pessoal de repelente de insetos principalmente em atividades de maior exposição ao vetor, tais como caminhadas ao entardecer e noturnas e adentramento em regiões de matas; uso de telas milimétricas em todos os canis.

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